A experiência do Estado do Rio de Janeiro em consolidar e ampliar os serviços digitais oferecidos aos cidadãos será apresentada este mês na e-Gov Conference, um dos maiores eventos do setor no mundo, que acontece na Estônia — país onde quase todos os serviços públicos são oferecidos on-line. O encontro, que está em sua décima edição, receberá pela primeira vez um governo da América do Sul no painel principal de discussões. O anúncio da participação do Rio foi feito, ontem, pelo secretário estadual de Transformação Digital, Mauro Farias, durante o Diálogos RJ, evento promovido pelo GLOBO para discutir os avanços e desafios no governo digital.
— Vamos mostrar a nossa experiência com o programa RJ Digital, especialmente a integração, que está em curso, com os serviços físicos que são oferecidos pelo Poupa Tempo — explicou Mauro Farias durante o debate, mediado pelo colunista Pedro Doria.
A modalidade ganhou conceito e nome próprios: “figital”. A ideia é que, nos próximos dois a três meses, o governo do estado comece a oferecer modelos e infraestrutura a municípios para que, de forma simples, as cidades passem a oferecer ainda mais serviços digitais em seus portais.
— É nesse sentido que o conceito “figital” se insere. Temos um desafio enorme nesse país continental, onde há questões de dificuldade de conexão e acesso a hardware, por exemplo. E o mais importante é que tudo que vamos entregar aos municípios estará integrado ao estado e à disposição do governo federal — disse Farias.
O diálogo entre as esferas de governo, não por acaso, foi assunto recorrente durante o primeiro painel do Diálogos RJ, cujo tema foi “Integração com a União e exemplos de sucesso”. Em termos de governança digital, os avanços recentes do Brasil e do Rio na área são grandes: no ranking da ONU, o país aparece em 12º no ranking que mede a amplitude da oferta de serviços digitais no mundo, e o estado aparece em 3º lugar geral num dos índices nacionais que afere a maturidade em segurança da informação.
— Apenas 44% dos estados têm de fato uma estratégia de governo digital definida. Quando a gente desce para o corte municipal, baixamos para a ordem dos 28%. Portanto, um dos grandes desafios é fazer essa integração federativa — afirmou Rogério Mascarenhas, secretário de Governo Digital do Ministério de Gestão e Inovação.
Conectar o cidadão
Além dos dois secretários, o primeiro painel teve a participação de Vanessa Campagnac, gerente de comunicação do site Republica.org, Manuel Bonduki, gestor público federal e professor na área de Inovação no Insper, e Eduardo Benchimol, head de Setor Público da Estônia Hub.
A segunda mesa do Diálogos RJ trouxe o tema “Conexão e informação: as dificuldades para incluir o cidadão”. Luciana Portilho, pesquisadora do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, mostrou que cerca de 30 milhões de brasileiros não acessam a internet; destes, 10 milhões estão na Região Sudeste:
— Outro ponto é que, entre os que têm acesso, a maior parte é por celular, mas com qual plano? Permite a elas acessarem diversas aplicações ou é restrito? Então, é importante que sejam aplicativos que não demandam consumo da internet das pessoas.
A professora Claudia Cappelli, do Instituto de Matemática e Estatística da Uerj, ressaltou a pouca amplitude das bases de dados existentes para aplicação, por exemplo, no treinamento de inteligência artificial para os serviços:
— O que está lá, gravado, e só de um perfil, não tem diversidade, isso é algo que agora está se construindo. É um problema mundial. Estamos apenas começando a armazenar dados de todos os tipos de raças e etnias, por exemplo.
O painel contou ainda com as participações de Luciene Mourão, presidente da Comissão de Estudos para Aprimoramento da Gestão Pública da OAB/RJ, Flávio Rodrigues, presidente do Proderj, e Fábio Queiróz, cofundador da Rio Innovation Week.