Em dezembro de 2014, o ‘Telecurso’ e o ‘Globo Rural’ diário foram substituídos pelo ‘Hora 1’, um telejornal de prestação de serviço e que garante as primeiras informações logo no começo da manhã para quem acorda cedo ou está chegando em casa. Antes das alterações, o ‘Telecurso’ ia ao ar das 5h às 6h, sendo seguido pelo ‘Globo Rural’, que assumia os 30 minutos seguintes da programação até a entrada do ‘Bom Dia’ local.
Em 8 de outubro de 2014, foi anunciado o fim do ‘Globo Rural’ diário, sendo mantido apenas o dominical. A última edição da versão de segunda a sexta foi ao ar em 28 de novembro. Nesse intervalo, a equipe do ‘Globo Rural’ passou a se dedicar também aos preparativos para o lançamento do ‘Hora 1’.
No começo de novembro, também foi anunciado que o ‘Telecurso’ seria exibido apenas até o dia 14. Após essa data, a emissora seguiu com a exibição de séries e do ‘Globo Rural’ até o lançamento do ‘Hora 1’. O ‘Telecurso’ foi transferido para a internet, ganhando espaço na Globo.com.
Sergio Coelho, que era o editor-executivo do ‘Globo Rural’ diário, assumiu o cargo de editor-chefe do ‘Hora 1’. Ana Paula Campos, apresentadora do ‘Globo Rural’ diário, foi para a reportagem de São Paulo, e o posto de âncora do ‘Hora 1’ coube à Monalisa Perrone.
Ainda em outubro de 2014, Monalisa fazia uma reportagem para o ‘Jornal Nacional’ sobre chuva em São Paulo quando recebeu uma ligação de Mariano Boni, então diretor executivo de Jornalismo, com o convite para ser apresentadora do novo jornalístico. “Ele [Mariano Boni] me falou que tinha um projeto para lançar um telejornal bem cedinho e queria uma apresentadora que acordasse animada e despertasse bem as pessoas”, lembrou Monalisa Perrone, em matéria do jornal O Globo, publicada no dia 30 de novembro de 2014, na véspera de sua estreia na nova função.
O objetivo do ‘Hora 1’ desde o começo era ocupar o espaço na programação com um telejornal voltado para um público que acorda cada vez mais cedo para trabalhar ou que está chegando em casa. E assim foi feito. A própria equipe do ‘Globo Rural’ diário trabalhou nos pilotos – testes feitos antes da estreia de um telejornal ou programa – e na produção das edições do jornalístico após sua estreia, como explica Ali Kamel, então diretor-geral de Jornalismo, em entrevista ao Memória Globo: “O ‘Globo Rural’ diário acabou. Eram duas equipes distintas: a do ‘Globo Rural’ de domingo e uma equipe dedicada ao ‘Globo Rural’ diário. Eu fui lá [em São Paulo], anunciei que o ‘Globo Rural’ diário ia acabar. As pessoas ficaram apavoradas: 'Daqui a pouco vai demitir todo mundo...’. E eu garantindo que não, mas ia implicar um sacrifício, porque teriam que fazer o ‘Globo Rural’ diário e o novo jornal com pilotos ao mesmo tempo”.
Foram três semanas de gravação de pilotos, de segunda a sexta, exibidos apenas internamente. “Botamos no ar o piloto para o chefe todos os dias, com participação dos correspondentes, como se fosse de verdade para já irmos acostumando”, explicou Monalisa, também na matéria de O Globo. Já desde os pilotos, a jornalista assumiu uma nova rotina: passou a acordar às 1h, tomar café às 1h30, almoçar às 11h, jantar às 16h30 e dormir às 18h.
No backstage, a produção do programa contou com a supervisão de Mariano Boni, então diretor executivo de Jornalismo; Maria Thereza Pinheiro, diretora de Projetos Especiais à época; Cristina Piasentini, então diretora de jornalismo da Globo de São Paulo; e Denise Cunha Sobrinho, chefe de redação dos telejornais de rede em São Paulo à época.
Em entrevista ao Memória Globo, Mariano Boni destacou a importância das entradas ao vivo para prestação de serviço e da participação dos correspondentes: “Fomos procurar o que seria relevante para o cara ver ao vivo, que mostrasse para o telespectador que [o ‘Hora 1’] é um produto vivo, que está acontecendo diante dos olhos dele. Aí falamos: ‘Vamos pegar câmera de trânsito de tudo que é lugar’. (...) E fomos buscar mais elementos de vivo: ‘Vamos botar correspondente ao vivo, dar o noticiário do que estiver acontecendo no mundo naquele momento. Rodrigo Alvarez, em Jerusalém; a Ilze Scamparini, em Roma; o Márcio Gomes, em Tóquio; a Cecília Malan ou o [Roberto] Kovalick, em Londres. Nova York não, porque está cedo ainda em Nova York.’ (...) Aí o jornal ficou com câmeras ao vivo nas principais cidades do Brasil, correspondentes mostrando o mundo e o melhor que o jornalismo da Globo produziu desde que o ‘Jornal da Globo’ terminou. Ou seja, é um jornal limpo, muito conversado, com comentarista ao vivo”.
Outro ponto importante do ‘Hora 1’ desde o começo: o telejornal conta com a participação intensa de repórteres das afiliadas Globo, trazendo representatividade e informações de todos os cantos do Brasil.
Linguagem radiofônica
Assemelhando-se ao rádio, em que as pessoas ouvem as notícias fazendo outras atividades, tendo apenas a audição como recurso sensorial, o ‘Hora 1’ seguiu uma linguagem semelhante. Sabia-se que o público dessa hora do dia estaria se preparando para sair de casa e que haveria troca de telespectador em intervalos de tempo. Era preciso se adaptar e produzir um telejornal em ritmo de “giros”, ou seja, repassar os acontecimentos a cada 15 minutos, como explicou Mariano Boni: “Das cinco às sete da manhã, [a pessoa] está se preparando para sair de casa. Então, [o ‘Hora 1’] é um jornal que tem uma rotatividade de audiência muito grande. A cada meia hora, uma parte razoável do público assistiu, desligou, foi embora e outra parte ligou, e assim vai. (...) Então, a cada 15 minutos, a gente faz um looping de notícias”.
O ‘Hora 1’ é desenhado, então, para ser o primeiro telejornal do dia, atualizando o público com as principais notícias da madrugada. O frescor na forma de narrar os fatos, captado tanto pela equipe de texto quanto pelo cenário, alavanca o dia de quem acorda muito cedo. Prestação de serviço, principalmente informações sobre trânsito e a previsão do tempo, é o mote central do telejornal: “A gente pediu as câmeras da Bahia, de Porto Alegre e do G5, [sedes da Globo pelo Brasil], que é Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Brasília. Era um monte de câmera, um monte de tempo. A Maria Julia [Coutinho, apresentadora do tempo de 2014 a 2015] era fundamental, e o diálogo dela era muito informal com a Monalisa: ‘Hoje sai de galocha’, ‘Hoje vai ter uma chuva, mas não me cobra porque são chuvas esparsas...’. Aproveitam todas as reportagens do ‘Jornal das 10’ da GloboNews; do ‘Jornal Nacional’, porque quem sai às cinco da manhã ou às cinco e meia muitas vezes não viu nem o ‘Jornal Nacional’; e muito do ‘Jornal da Globo’, com algumas matérias exclusivas. Foi um sucesso imediato", explicou Ali Kamel.
Maria Thereza Pinheiro, então Diretora de Programas e Projetos Especiais, contou ao Memória Globo que uma parte do trabalho envolveu a elaboração de uma linguagem leve e descontraída, adequada ao começo do dia: “ele [o ‘Hora 1’] é mais conversado, mais natural”.
A jornalista Maria Julia Coutinho, a Maju, acompanhou o processo de criação do ‘Hora 1’, como contou ao Memória Globo: “A gente fez vários pilotos, eu, a Monalisa Perrone, que estava à frente do ‘Hora 1’ à época. E eles pediam: ‘Sejam soltas, conversem’. Então, a gente fazia uma conversa de comadre na previsão do tempo. Foram vários pilotos até chegar num jeito que poderia funcionar. Quando estreou, acho que deu supercerto”.
Mudanças na grade matinal
Além da estreia do ‘Hora 1’, houve mais mudanças na grade de programação da Globo a partir do dia 1° de dezembro de 2014. O ‘Bom Dia’ local passou a entrar no ar às 6h – até então iniciava-se às 6h30 –, seguido do ‘Bom Dia Brasil’, que se manteve começando às 7h30, mas teve seu horário estendido até as 9h – antes ia até as 8h40, quando começava o ‘Mais Você’. Dessa forma, o jornalismo da Globo passou a ficar no ar direto, ao vivo, durante quatro horas seguidas, das 5h às 9h. Ao todo, a Globo passou a ter cerca de nove horas de programação ao vivo nas manhãs, contando desde as 5h até o encerramento do 'Jornal Hoje', às 14h.
Matéria do ‘Jornal Hoje’ mostra os preparativos para a estreia do ‘Hora 1’. ‘Jornal Hoje’, 29/11/2014
Ricardo Villela, diretor de Jornalismo de Brasília quando o ‘Hora 1’ estreou, destacou, em entrevista ao Memória Globo, a importância do noticiário nas manhãs da Globo, uma demanda do próprio público, e do aumento do tempo de jornalismo na grade nessa faixa de horário: “a população brasileira hoje em dia é extremamente urbana. Muita gente, mas muita gente mesmo, nas grandes cidades brasileiras, sai para trabalhar antes das seis da manhã e gosta de notícia. E audiência de televisão de manhã é de notícia. É assim no Brasil, é assim em todo lugar do mundo, o cara quer informação. E a gente começava a dar informação tarde. A gente começava com os Praças TVs às seis e meia da manhã. Era tarde, precisava ser mais cedo. O ‘Hora 1’ não vem sozinho, vem escorado por um aumento de meia hora no tempo dos Praças. Então, se monta uma grade de notícia que começa às cinco da manhã e só para as nove, quando termina o ‘Bom Dia Brasil’. Então, o ‘Hora 1’ foi o âncora dessa transformação no telejornalismo local da Globo e de suas afiliadas”.
Estreia
Às 5h do dia 1º de dezembro de 2014, o ‘Hora 1’ estreou com Monalisa Perrone, tendo como editor-chefe Sergio Coelho, trazendo informações sobre o andamento da Operação Lava Jato, já com material exclusivo, apurado pelo repórter Wladimir Netto. Naquela manhã, também era anunciado que Tabaré Vázquez assumira a presidência do Uruguai, no lugar de José Mujica, e destacou-se a onda de violência no Rio e em São Paulo, além da situação do trânsito nas principais rodovias de algumas capitais do país.
Estreia do telejornal ‘Hora 1’, com apresentação de Monalisa Perrone e matéria exclusiva de Wladimir Netto sobre as investigações de políticos envolvidos na Operação Lava Jato. ‘Hora 1’, 01/12/2014
Também estavam na estreia do telejornal três parceiros que se tornariam frequentes no ‘Hora 1’: o comentarista de política Heraldo Pereira, que, de Brasília, fazia intervenções a respeito da situação política do Brasil; o comentarista de economia Samy Dana; e a jornalista Maria Julia Coutinho, a Maju, apresentadora da previsão do tempo. Ela fazia sucesso com sugestões para o brasileiro não errar na escolha da roupa de acordo com as temperaturas.
Correspondentes internacionais atualizavam o telespectador sobre o que era notícia ao redor do mundo. Direto de Tóquio, o jornalista Márcio Gomes informava sobre os principais acontecimentos no Japão, nos EUA, na Índia e na Tailândia. Para falar sobre o Oriente Médio, Rodrigo Alvarez entrava de Jerusalém e, sobre a Europa, Roberto Kovalick falava direto de Londres. O especialista em finanças, Samy Dana, dava dicas de investimento, e Cleber Machado, comentarista de esporte, atualizava as notícias do futebol. Além disso, o telejornal contava ainda com dicas de informática e tecnologia de Dony de Nuccio.