Por Memória Globo

Acervo/Globo

Em 2006, Glória Maria acompanhou o escritor Paulo Coelho em uma viagem de quase dez mil quilômetros pela Transiberiana, a maior ferrovia do planeta, que liga Moscou, capital da Rússia, a Vladivostok, cidade que fica no extremo leste do país.

Nós acompanhamos a viagem toda dele, do início até o fim. Paramos em todas as estações.
— Glória Maria

Glória Maria contou, em entrevista ao Memória Globo, como surgiu a ideia de acompanhar Paulo Coelho na viagem pela Transiberiana. "Ele me convidou. Eu já conhecia o Paulo há tempos. Ele fez o convite para o meu diretor, pediu ao 'Fantástico', para que eu pudesse acompanhá-lo".

Paulo Coelho e Glória Maria percorreram uma das regiões mais distantes e frias da Terra. As reportagens fizeram parte da série 'Sibéria, a Missão de um Mago', exibida entre 15 de outubro e 10 de dezembro, em nove episódios O escritor também era um fenômeno de popularidade na Federação Russa.

Primeira reportagem da série 'Sibéria, a Missão de um Mago'. 'Fantástico', 15/10/2006

Primeira reportagem da série 'Sibéria, a Missão de um Mago'. 'Fantástico', 15/10/2006

O escritor tinha um vagão só para ele. Já Glória e o repórter cinematográfico Ronaldo Cordeiro viajaram como passageiros comuns, como a repórter contou ao Memória Globo. "Fomos só eu e o Ronaldo Cordeiro. A gente saiu de Moscou e foi até Vladivostok, 10 mil quilômetros de trem, parando nas estações. O Paulo tinha toda uma entourage. Ele chegava nas estações e vinha o prefeito local ou o governador, com batedores. Ele é uma celebrity. Então, vinha todo mundo com batedores e pegava o Paulo, levava para o melhor hotel. E a gente tinha que pegar todo o nosso equipamento do trem. A gente tinha que trocar de vagão. O Paulo não. Ele estava em um vagão construído para o [Leonid] Brezhnev. Então, o vagão dele só ia sendo acoplado nos outros trens. Ele estava na primeira classe, no vagão do Brezhnev. E a gente estava, eu e o meu câmera, junto com o povo, com os passageiros normais, na classe turista. Era uma cabinezinha só, com duas camas, uma para mim, a outra para o Ronaldo. Nos beliches de cima, ficava todo o nosso equipamento. Embaixo também. A gente andava em cima do equipamento. Para tomar banho, era uma pia. (...) Só no terceiro dia a gente descobriu que tinha a cabine do comandante, do maquinista, que a gente podia pagar. A gente pagava uns rublos, e ele deixava a gente tomar banho três minutos."

A barreira da língua impôs, inicialmente, algumas dificuldades para a produção das matérias, mas logo uma intérprete os ajudou: "Eu ia tentar pegar um taxi e via se alguém falava russo. Conseguimos uma intérprete. Era uma menina que falava um português de Portugal. Era muito complicado, mas ela tentou ajudar a gente a partir da terceira estação. E ela foi com a gente quase até o final", lembrou Glória.

Além de acompanhar Paulo Coelho, Glória e Ronaldo Cordeiro foram atrás de pautas ao longo da viagem. A jornalista destacou as cenas registradas em um centro de reabilitação em Ekaterimburgo, em que o tratamento contra as drogas é radical: os jovens chegam a ser espancados para vencer as crises de abstinência. Era o primeiro registro feito por uma TV mundial. "A gente fez uma matéria, que foi uma das mais fortes que eu fiz. Em um lugar chamado Ekaterimburgo, tem um centro de reabilitação de drogados. (...) Quando você já passou por todos os centros de reabilitação, por todos os tipos de tratamento para se livrar de drogas, tipo heroína, cocaína, essas coisas, que não tem mais para onde você correr, você vai para esse lugar que só tem pessoas como você. Quando você chega, você é algemado na cama, porque normalmente as pessoas têm as crises de abstinência. Aí os que já estão lá há mais tempo te algemam na cama, e você fica lá. E se você tiver a crise, eles te batem até você desmaiar, que é para você ficar desacordado. Primeiro você fica um dia sem ter a crise, depois você fica dois, depois você fica três. É o início do tratamento, lá eles chamam de quarentena."

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