A Fantástica Volta ao Mundo

Via telefone e internet, eles podiam escolher entre dois destinos de escalas para o repórter. Toda semana, eram exibidas matérias que Zeca Camargo realizava nos países definidos e, ao final de cada edição do 'Fantástico', um novo destino era anunciado.

As imagens eram enviadas ao Brasil pela internet, através de cybercafés dos países visitados. Às vezes, a tecnologia falhava e dificultava a transmissão do material. "A edição era feita no Brasil, graças a Deus. A gente mandava um copião do lugar onde a gente estava, por um cybercafé.(...) Geralmente, para mandar um minuto de imagem, a gente levava uma hora. Ou seja, eram horas! Estou falando de 2004. (...) Ficar olhando para aquela tela é desesperador. (...) Teve um lugar apenas, o Quênia, que mandamos um pedaço. Não mandamos o resto porque teve uma pane na comunicação entre Brasil e Quênia. (...) Geralmente, era um enorme perrengue. Na Romênia, a gente não achava um lugar que tivesse conexão rápida, banda larga, aí me deu uma luz, falei: 'Hotel cinco estrelas, vamos no hotel!' Já era sábado de manhã, eu desesperado, não tinha chegado uma imagem no Brasil. 'Vamos no hotel.' Aí, num hotel cinco estrelas, carérrimo, a gente não tinha orçamento, não dava para pagar a diária do hotel. A mulher falou assim: 'Só pode usar o business center se você for hóspede.' Eu já estava tão desesperado, a diária era 400 dólares, eu falei: 'Me dá um quarto.' Na mesma hora comecei a mandar de lá. (...) Tive que mandar a noite inteira, porque, óbvio, a frequência do envio foi baixando e acabei de mandar 10h30 da manhã. 'Que horas tem que sair do hotel?' 'Meio-dia.' Não dormi nada, mas tomei o melhor banho da viagem, é verdade, foi um sucesso, mas não aproveitei nada daquele hotel caríssimo."

Para Zeca Camargo, esse foi um dos projetos mais gratificantes de sua carreira, e a ideia surgiu por acaso, quando o jornalista estava de férias no Vietnã. “Eu estava numa cidade micro, chama Hoi An, num cybercafé que tinha banda larga, e eu podia mandar foto para o Brasil. A TV começava a experimentar matérias enviadas pela internet. O 'Fantástico' tem que ser o primeiro em qualquer tecnologia, o 'Fantástico' é um programa de ponta, é disso que a gente se orgulha, então, tem que inventar. (...) Mandei do Vietnã um e-mail para ele [Luizinho Nascimento, então diretor do 'Fantástico'] falando: 'O que você acha? Volta ao mundo, e a gente manda as imagens de cada lugar que a gente for pela internet...' (...) Aí, já conhecendo o meu chefe, falei: 'Vamos colocar interatividade.' Foi a grande sacada, porque a gente colocou o público para fazer o roteiro da volta ao mundo."

No dia da estreia, o México foi o país escolhido para ser o primeiro destino, seguido de Havaí, Nova Zelândia, Tasmânia, Cingapura, Camboja, Manilla, Idaipur (Índia), Sri Lanka, Uzbesquistão, Romênia, Turquia, Grécia, Ilha Kefalonia (Grécia), Quênia, Bilbao (Espanha), Escócia e Ilha da Madeira (Portugal).

A equipe, como brinca Zeca Camargo: "Eram duas pessoas. Éramos eu e o Guilherme, o repórter cinematográfico, para fazer tudo. Eu brincava que ele era assistente dele mesmo, e eu era o produtor de mim mesmo. Éramos nós, não tinha ninguém". A produtora Roberta Rodrigues ajudava na pré-produção, no Brasil, contatando consulados, vendo vistos. Bruno Bernardes e Rafael Norton editaram o material enviado ao Brasil.

Zeca se lembra de uma história curiosa, que viveu em Cingapura – a princípio um local tranquilo para passar férias. Acontece que quando chegaram à cidade-estado, não encontraram hotel vago. “Cingapura estava lotado pela razão mais bizarra do mundo: a gente chegou na semana em que acontece a maior liquidação da Ásia. Então vão pessoas de Dubai, Indonésia, Japão, Índia, Tailândia. Vai todo mundo para Cingapura, porque a cidade entra em saldo. Os hotéis ficam lotados, não tínhamos reserva, então o que eu fiz? ‘Guilherme, liga a câmera.’ Transformar a experiência na reportagem foi um grande segredo.”

Acompanhado de Guilherme Azevedo, o jornalista percorreu 103.792 quilômetros, em 54 voos. No último dia do quadro, o 'Fantástico' mostrou a chegada da dupla, ao vivo, no Brasil. "A gente chegava no dia 19 de setembro de 2004, ao vivo, no 'Fantástico'. Era um voo diurno, Lisboa-Rio de Janeiro. E aí a produção fez uma coisa superbonita, que me deixou bastante contente. Quatro meses viajando, longe de todo mundo, longe da família, eles convidaram a minha família para me receber no aeroporto, o que me deixou até ligeiramente sem graça, porque era ao vivo".

Durante a viagem, Zeca Camargo alimentou um blog - "foi o primeiro que eu fiz, e eu tinha me comprometido a mandar notícias para esquentar justamente o programa". E, em novembro, os textos foram publicados em formato de livro: 'A Fantástica Volta ao Mundo - Registros e Bastidores de viagem por Zeca Camargo'. "O livro foi escrito em 20 dias. Claro, pegando o esqueleto que era o blog. A gente chegou no finalzinho de setembro, o livro saiu no finalzinho de novembro", lembra Zeca.