Por Memória Globo

Nelson Di Rago/Globo

BASTIDORES

Algumas cenas da minissérie foram gravadas em Sintra, Portugal. Os jardins do Palácio Guanabara e o Clube Naval, no Rio de Janeiro, também serviram como locação. Para filmar as cenas em que Luísa e Basílio passeavam de barco em um lago, a equipe construiu uma estrutura de trilhos, colocada sob a água do lago, por onde o barco e a câmera deslizavam simultaneamente.

Beth Goulart em 'O Primo Basílio', 1988 — Foto: Nelson Di Rago/Globo

A minissérie contou com a direção de fotografia de Edgar Moura, conhecido por sua vasta experiência em cinema. Uma minuciosa pesquisa precedeu a elaboração dos figurinos do elenco central, a cargo de Beth Filipecki. Para a jovem Luísa, foram escolhidas roupas em tons alegres e tecidos leves, vaporosos, enquanto a empregada Juliana vestia-se com cores escuras, marcando a oposição entre as duas personagens. Quando, no decorrer da trama, Luísa passa a servir Juliana, a empregada começa a usar as roupas claras da patroa. Para criar as vestimentas dos demais personagens, a figurinista trabalhou a partir de obras de artistas plásticos como Monet.

Sérgio Viotti e Daniel Filho nas gravações de 'O Primo Basílio', 1988 — Foto: Nelson Di Rago/Globo

Para auxiliar na composição de seus personagens, os atores fizeram um trabalho de corpo especial, orientado por Nelly Laport. Além disso, Glorinha Beutenmüller foi contratada para preparar a voz do elenco, especialmente para tirar os vícios de sotaques sem que eles perdessem a naturalidade ao se expressar como cidadãos do século XIX. Não havia preocupação de que os atores falassem com sotaque português, pois soaria artificial. A orientação era fazer uso de um linguajar específico da época retratada, para que o público pudesse fazer essa distinção de tempo. Expressões como “Por ele espartilhei-me” (fiquei bonita, elegante) e “Tudo muito catita” (tudo muito bonitinha), entre outras, estavam presentes no texto.O elenco teve, também, que estudar o comportamento e o gestual próprios da época.

Tony Ramos, Louise Cardoso e Thelma Reston em 'O Primo Basílio', 1988 — Foto: Nelson Di Rago/Globo

Foi realizada uma reconstituição primorosa e extremamente fiel da Lisboa do fim do século XIX. O cenógrafo Mário Monteiro pesquisou em detalhes as ruas da capital lusitana e, sobretudo, seguiu as descrições de Eça de Queiroz, fundamentais para a realização da obra. A equipe também visitou Lisboa e procurou reproduzir a atmosfera da cidade. Para auxiliar na composição dos ambientes, o trabalho do fotógrafo Edgar Moura também foi essencial, assim como a produção de arte, a cargo de Cristina Medicis.

Walney Costa e Marcos Paulo em 'O Primo Basílio', 1988 — Foto: Nelson Di Rago/Globo

Entre outros detalhes, a produtora fez uma apurada pesquisa em antiquários, no Real Gabinete Português e no Instituto Histórico-Geográfico, no Rio de Janeiro; no Museu Imperial de Petrópolis (RJ); e em diversos livros de Eça de Queiroz e sobre ele. Foi preciso refazer alguns objetos da época mencionados pelo autor, como uma fechadura, peça importante na história. Cristina também se dedicou ao estudo da culinária portuguesa, para reproduzir com fidelidade as refeições descritas por Eça de Queiroz.

CURIOSIDADES

O romance O Primo Basílio foi publicado em 1878, quando Eça de Queiroz ocupava um posto como diplomata em New Castle, na Inglaterra. A relação adúltera entre Luísa e o primo escandalizou a conservadora Lisboa da época. Causou impacto no público a cena em que Jorge (Tony Ramos), sem suspeitar da traição de sua mulher, abre uma das cartas enviadas a ela por Basílio (Marcos Paulo). Ao ler o conteúdo, ele olha atônito para o quarto de Luísa. Como ela está doente, Jorge descarrega sua fúria esmurrando a escrivaninha e machucando a mão. Tony Ramos aponta esta cena como a sua preferida da minissérie pelas imagens sugestivas do desespero de seu personagem diante da traição.

'O Primo Basílio' (1988): Jorge (Tony Ramos) descobre a traição de Luísa (Giulia Gam)

'O Primo Basílio' (1988): Jorge (Tony Ramos) descobre a traição de Luísa (Giulia Gam)

Outra cena marcante, uma das mais comoventes da minissérie, é aquela em que as longas mechas loiras de Luisa são cortadas para ajudá-la no tratamento médico, deixando-a careca. A minissérie recebeu críticas e elogios dos portugueses.

'O Primo Basílio' (1988): Luísa (Giulia Gam) corta rente o cabelo

'O Primo Basílio' (1988): Luísa (Giulia Gam) corta rente o cabelo

Alguns intelectuais consideraram que a adaptação do romance de Eça de Queiroz não fora bem realizada. Já a Federação das Associações Portuguesas e Luso-Brasileiras julgou que o programa foi fundamental para a divulgação da cultura portuguesa e da literatura de Eça de Queiroz.

Marília Pêra lembra que demorou a aceitar o convite do diretor Daniel Filho para viver Juliana. A atriz não queria dar vida àquela mulher tão infeliz e amargurada, fisicamente feia e maltratada. Um dos argumentos usados pelo diretor foi que a personagem era uma das favoritas do cineasta espanhol Luis Buñuel. Depois de muita insistência de Daniel Filho, Marília Pêra acabou aceitando o desafio. Ela conta que o processo foi muito difícil, pois Juliana era uma personagem forte negativamente. Mas, apesar do sofrimento, a atriz gostou bastante do resultado final do trabalho.

Marília Pera em 'O Primo Basílio', 1988 — Foto: Nelson Di Rago/Globo

'O Primo Basílio' foi lançada em DVD em 2007 e a minissérie foi vendida para cerca de 20 países, entre eles Bolívia, Chile, Espanha, Estados Unidos, Grécia, Macau e Portugal.

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