Clubes do passado: Hepacaré trouxe Leônidas da Silva a Lorena e teve pai de Pelé como destaque

Nos anos 40, o time teve em seu elenco o atacante Dondinho, pai de Pelé, após sua tentativa de jogar pelo Atlético Mineiro e o nascimento do futuro Rei do Futebol. Na época, Dondinho era chamado de "Maleável", devido à sua grande capacidade de cabeceio aliada ao fato de que ele não ficava preso à área, como era costume dos atacantes daquele tempo.

- Era um craque. Centroavante que não ficava apenas preso dentro da área. Sabia jogar pelo chão, além de ser um grande cabeceador. Uma vez, quando o Atlético conquistou um título, Dondinho foi carregado pela cidade - conta Victor Cunha, ex-presidente do Atlético de Três Corações-MG, clube pelo qual o ex-jogador passou antes de chegar a Lorena, em entrevista ao GloboEsporte.com em 2010.

Arthur Friedenreich e Leônidas da Silva em Lorena

O local onde o time do Hepacaré mandava as partidas durante seu auge era o Estádio General Affonseca. Localizado na região central de Lorena, o lugar foi inaugurado oficialmente em 30 de março de 1941 com a realização de um amistoso entre Hepacaré e Fluminense.

A partida terminou com uma goleada de 5 a 0 dos cariocas, que tinham um elenco muito mais qualificado, mas a estrela do dia estava no apito: o árbitro da partida foi simplesmente Arthur Friedenreich, conhecido como o primeiro craque da história do futebol brasileiro.

Outro acontecimento no local foi quando, em 16 de janeiro de 1949, o São Paulo realizou um amistoso no estádio General Affonseca contra um combinado de Hepacaré e Esporte Clube Estrela, de Piquete, time com o qual a equipe de Lorena tinha rivalidade. A partida terminou 5 a 2 para o time da capital, com direito a um gol de Leônidas da Silva, o Diamante Negro, um dos maiores ídolos da história do Tricolor Paulista e um dos responsáveis por popularizar os gols de bicicleta.

Tempos áureos e rivalidade

Situado na cidade vizinha de Lorena, o EC Estrela era o principal rival regional do Hepacaré, e sempre que as equipes se enfrentavam ia uma multidão de torcedores para o município onde o jogo aconteceria. Com as disputas nos campeonatos profissionais, os times passaram a se enfrentar cada vez mais, e a rivalidade só cresceu.

O Hepacaré passou a fazer parte das divisões inferiores do Campeonato Paulista pela primeira vez em 1956, participando da Terceira Divisão, que atualmente é conhecida como Série A3. Ao todo, o clube jogou dez vezes esta divisão: 1956, 1957, 1958, 1960, 1961, 1962, 1963, 1964, 1965 e 1966.

A Segunda Divisão, conhecida atualmente como Série A2, foi o ponto mais alto que o EC Hepacaré conseguiu chegar em toda a sua história, participando duas vezes desta, em 1959 e em 1973. No entanto, o clube nunca chegou a conseguir o acesso à elite estadual.

Dívidas, estádio leiloado e centenário que não aconteceu

Após suas seguidas participações no cenário paulista, a equipe se licenciou das competições oficiais. O clube passou a viver apenas no futebol amador e assim se manteve por mais alguns anos, sustentando também o estádio. Porém, com o tempo, o time foi se afundando em dívidas e deixou de competir.

As contas se arrastaram ao longo de anos e, em 2011, apenas três anos antes de completar seu centenário, o Esporte Clube Hepacaré entrou em falência. Foram 51 ações movidas por falta de pagamento de direito aos funcionários. Sem dinheiro, o clube foi a leilão.

Toda a sede do clube e seu estádio foram arrematados por uma rede de supermercados, pelo valor de R$ 5,3 milhões. Atualmente, existem apenas resquícios do que um dia foi parte da arquibancada e algumas paredes que pertenciam à sede.

- Tomamos todas as medidas possíveis para apurar se havia dinheiro ou outro bem mais próximo do valor do crédito trabalhista total dos processos pra honrar essas dívidas, mas não havia - explicou na época o juiz André da Cruz e Souza Wendel à TV Band, justificando a medida tomada.

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