Abre Aspas: Marcelo Teixeira detalha momento do Santos, chora por Robinho e fala de Neymar
O combinado com a assessoria de imprensa foi que Marcelo Teixeira concederia uma hora de entrevista ao Abre Aspas. Mas a reportagem do ge sabia que o presidente do Santos é do tipo que não se importa em esticar a conversa quando o papo está bom.
E foi assim, com momentos de descontração, mas também de choro e respostas a questões espinhosas, que Marcelo Teixeira falou por mais de duas horas e meia, com direito a muitas revelações: da dívida do Botafogo pelo goleiro John, aos bastidores das conversas com Neymar; da negociação com Cuca aos motivos pelos quais o "cristal rachou" com Fábio Carille.
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Em algumas respostas, Teixeira foi mais duro, por exemplo quando se dirigiu àqueles que atacam a sua gestão nas redes sociais. Em outras, demonstrou um lado emotivo, como ao comentar a prisão de Robinho.
O presidente santista, porém, não deu a notícia aguardada pela torcida há mais de um mês: quem será o novo técnico? Na gravação, realizada no dia 5 deste mês, ele afirmou que já tinha contratado um profissional, mas que não poderia anunciar o seu nome. Duas semanas se passaram e o mistério continua.
A entrevista traz novidades importantes, como em relação à nova arena do clube. Teixeira detalhou como está a negociação com a WTorre e rechaçou as alegações de que seria contrário ao acordo com a construtora:
— Para mim, particularmente, a única alternativa viável de uma nova arena é com a WTorre — garantiu.
Veja o Abre Aspas com Marcelo Teixeira:
Ficha técnica:
- Nome: Marcelo Pirilo Teixeira;
- Nascimento: 28 de abril de 1964 (60 anos), em Santos-SP;
- Carreira: empresário, pró-reitor da Universidade Santa Cecília , diretor-presidente do Sistema Santa Cecília de Rádio e Televisão Educativa e dirigente esportivo;
- Títulos no Santos: Campeonato Paulista (2006 e 2007), Série A do Campeonato Brasileiro (2002 e 2004) e Série B do Campeonato Brasileiro (2024).
ge: Como foi o retorno ao futebol depois de tanto tempo longe?
— Fiquei afastado durante um tempo do futebol, mas segui trabalhando com esporte. A Universidade Santa Cecília é hoje referência na área esportiva e se profissionalizou em várias modalidades. De volta ao Santos, segui tendo o mesmo interesse de me aprofundar cada vez mais para buscar novos conceitos. Apesar de que o futebol vive bastante de certos métodos e sistemas, e o Santos continua sendo um modelo, mesmo tendo desviado bastante de sua filosofia. A base foi modelo na década de 1950, 1960, fez de suas revelações o marco do futebol brasileiro com títulos mundiais. Volto novamente ao cenário de revelação de atletas, mas um modelo profissional, sempre mirando isso. Queremos fazer um organograma com novas nomenclaturas para que a prática se reflita em bons resultados.
Do que o senhor mais sente falta no futebol de hoje?
— Acho que o futebol romântico ficou para trás. Ele tem que ficar. Hoje, é um futebol mais profissional e tem que se adequar a essa realidade. Ruim são os que não conseguem. Eu me adapto bem a qualquer tipo de sistema. Gosto até de fazer com que a base de colaboradores seja com o maior número possível de santistas, e eu não fique isolado. Não fique como autoritário que queira determinar regras. Quero trazer conselheiros, associados, torcedores, colaboradores, parceiros, profissionais que estejam apoiando e estejam ao lado da gestão. Tudo faz parte de um contexto. Eu não sinto saudade do passado. Eu vivo bem o presente.
— Eu podia estar numa zona de conforto, podia estar exatamente na arquibancada, gritando, torcendo, vibrando, ou triste, como eu estava, amargurado. A cada jogo, nestes últimos anos, era terrível, era um tormento para nós, santistas. Então, chegou o momento, eu falei: "Não, eu não posso viver desse passado de bicampeão brasileiro, de bicampeão paulista, de revelador de talentos, preciso fazer algo diferente". E ali conseguimos reunir um bom número de alvinegros e hoje estamos fazendo uma implantação de um trabalho diferente dos últimos anos.
O Marcelo de hoje tem energia para seguir ativo por muitos e muitos anos na política do Santos?— Essa energia tem que buscar... Sabe por quê? Você lida com o lado emocional, tem a paixão e a razão misturadas. E estou acostumado com pressão. Pressão, para mim, não faz com que eu mude, em hipótese alguma, o norte do trabalho. Nada. Resistimos a muitas esse ano e provamos que estávamos certos, no caminho certo. Alguns criticam. É fácil você justificar alguma dificuldade de percurso, mandar o treinador embora. É a primeira coisa que fazem. O Santos, nos últimos tempos, teve uma temporada com quatro treinadores e chegamos aonde chegamos: na Série B.
— Então, é uma linha de trabalho onde você tem que buscar a razão, a paixão e buscar motivação. Não faço tanto exercício, mas hoje deveria. Antes, estava caminhando mais na praia. Não estou caminhando tanto porque desde as primeiras horas da manhã eu já fico no telefone colocando as coisas em dia. Quando eu vou ver, já é hora de sair de casa. Mas eu ainda tenho um bom fôlego pela frente. Ainda mais quando eu estou do lado de muita gente boa, né? O Santos já é uma motivação, mas ainda com pessoas ao lado você consegue ir à frente, ir adiante.
Quem sabe concorrer a uma reeleição?
— Aí não, muito cedo. Muito cedo para a gente falar de reeleição.
A reforma da Vila Belmiro, que daria lugar a uma moderna arena, foi um tema exaustivo ao longo de 2024. Em que pé está o projeto?
— São cinco anos de conversa com a WTorre. Nós estamos há um ano e pretendo que não passe desse. Existiu um memorando de intenções. Ele tinha que ter previsto algo como: onde você colocará o sócio dono da cadeira cativa? Que direito esse sócio terá no novo estádio? Ele comprará? Ele não comprará? No modelo anterior, este proprietário de cadeira cativa tinha que adquirir uma cadeira cativa. Nós não poderíamos permitir que isso acontecesse, porque ele já tem, por direito. Este é um pequeno exemplo dentre outros tantos que nós discutimos até chegar a uma conclusão.
— O Santos tinha possibilidades de não ter aporte financeiro. Hoje, pode ter o aporte financeiro e, com esse aporte, diminuir o prazo de duração da parceria ou até manter e ter resultados melhores diante do novo estádio. Várias situações: onde ficará o posicionamento dos possíveis proprietários de cadeiras especiais? Tudo foi sendo detalhado. Para que isso seja detalhado, nós temos agora os escritórios (de advocacia) que estão fazendo aquilo que está acertado seja colocado no papel, aí se transforma num contrato.
Presidente eleito do Santos se reúne com WTorre para discutir nova Vila Belmiro
— O que os co-irmãos viveram recentemente (servem de) exemplo. O Palmeiras fez um novo acordo até conseguindo uma área diferente, uma zona lá do estádio, para o uso do próprio clube. De onde o Palmeiras pegou este exemplo? Da negociação com o Santos. De onde o Santos está pegando os pontos negativos existentes da WTorre? Do Palmeiras. É uma parceria que vai envolver 30 anos. Eu não posso como gestor assinar algo só porque eu quero entregar uma arena. Eu moro em Santos, as pessoas sabem onde eu moro, sabem onde eu trabalho, eu não dependo do futebol, sou um educador, sou ligado a uma instituição de ensino. Então, eu não posso permitir, como dirigente, com a história que eu tenho no clube, fazer um contrato de uma maneira prejudicial não só ao clube, mas à própria WTorre. Se você não fizer essa previsão, lá na frente alguém vai pagar. Estamos praticamente definindo: segunda-feira passada a WTorre entrou com a documentação na prefeitura, evoluindo bastante em termos dos projetos existentes.
— Independentemente dos jogos do Pacaembu, já estamos estudando a possibilidade até da mudança da parte administrativa para que a Vila Belmiro esteja à disposição para as futuras providências. Tudo está dentro de um avanço, de uma previsão, que se você não faz esse estudo, vai chegar lá na frente e vai retardar. Aonde nós vamos colocar a secretaria? Para onde vai o memorial? É isso que está sendo feito... O Santos precisa ter a sua arena na Vila Belmiro. A Vila Belmiro é algo sagrado para o santista, é um ponto como outros clubes têm, em que os bairros têm o nome dos seus estádios. O Santos é do mundo, não pertence a Santos. Porém, nós temos que entender que o Santos tem o seu estádio próprio, o seu terreno. "Ah, por que não faz o estádio em São Paulo?" Porque nós não temos terreno em São Paulo. Você tem que adquirir um terreno em São Paulo, ter um projeto para São Paulo. A minha autorização do quadro associativo é qual? Eu tenho uma carta do Conselho Deliberativo, do quadro associativo em duas assembleias, dizendo: nós queremos a nova arena na Vila Belmiro, em Santos. Eu tenho que cumprir aquilo que está exatamente autorizado.
Recentemente, o senhor deu uma entrevista depois de um evento da CBF em tom muito otimista. Porém, dias depois começaram a sair notícias e comentários dando conta que, na verdade, o senhor estava "cozinhando" a construtora e que não estava tão interessado assim no projeto. Existe essa possibilidade de não sair o acordo com a WTorre?
— A única coisa que nós nos expressamos de forma preocupante foi que recebemos um cronograma da WTorre já prevendo dezembro como o início da comercialização das cadeiras e dos camarotes. E insistimos para que a WTorre pudesse cumprir esse prazo e, ao cumprir o prazo, os documentos estariam entregues. Os documentos entre os escritórios ainda não tinham sido entregues. Então, retardamos mais uma vez esse prazo. Eu já tive alternativas para acabar com a parceria com a WTorre. O Santos já tem uma série de questões pelas quais poderia romper com a WTorre. Não porque a WTorre não cumpre, é porque não tivemos a maneira como estava sendo programada para que a nova arena acontecesse. Se nós, que já tivemos chances para isso acontecer, não decidimos assim, é porque a única vontade que hoje existe do presidente, e para mim, particularmente, a única alternativa viável de uma nova arena é com a WTorre.
— Tudo o que se fala diferente: o Marcelo Teixeira está cozinhando, Marcelo Teixeira quer outra alternativa, Marcelo Teixeira quer outra... Ainda na gestão do presidente Rueda, que existia uma dificuldade para se chegar a um consenso do orçamento, eu levei sete proprietários de construtoras da Baixada Santista à Vila Belmiro, para que eles mostrassem a experiência deles para a nova arena. Os sete construtores presentes com o Rueda disseram: "Pelo que o senhor está expondo, da maneira como está o projeto, a melhor alternativa é com a WTorre". Então, não existe, por parte do Marcelo Teixeira, nem lá atrás e nem hoje como presidente, outra ideia a não ser o projeto existente.
Dá para passar um prazo ao torcedor?
— Não vou falar. Eu não vou falar nem mais em reunião, nem em prazo, porque elas estão acontecendo e eu espero que isso aconteça no mais rápido possível. Eu já estou mudando até as dependências administrativas para outro lugar. E um exemplo: nós podemos fazer o início da comercialização das propriedades, mas nós não poderíamos nunca tomar a decisão de demolir a Vila Belmiro sem primeiro estar com tudo muito bem documentado. E, num outro momento, sem ter alternativas de onde jogar. Você precisa ter a definição que é o estádio em São Paulo, opção do Santos, para mandar os seus jogos. Isso é fundamental.
Ao longo de 2024, vimos o senhor muito próximo da Torcida Jovem. Para o senhor, como deve ser a relação do presidente e do clube com as torcidas organizadas?
— Eu venho de arquibancada. Sou daqueles que acompanhava o Santos em caravana. Às vezes eu ia na Tusa (Torcida Unida Santista). Enganava meu pai, falava que eu estava brincando com o Takashi, um amigo que eu tinha, e ficava quase todo dia no clube. Meu pai acreditava, a minha mãe, também, fugíamos e íamos lá na Tusa assistir aos jogos fora. Tinha aquela linha de frente às vezes que ia na porrada, mas eu ficava mais atrás para não acontecer nada comigo (risos). É aquela relação de respeito que deve haver, de independência, não tem nenhum tipo de benefício. Você veja que a gente tem essa relação, eles vão lá, abrem faixas (de protesto), lógico, tem que abrir mesmo, exigir. Se estão certos, se estão errados, se estão radicais ou não, são atitudes da torcida, você tem que respeitar.
Existem interesses políticos? É orquestrado?
— Existe algo por trás dessas coisas (críticas nas redes sociais). Esse tipo de orquestração, esse tipo de pressão, essas coisas de ficar difamando imagem das pessoas, querer criticar a gestão de uma maneira assim... Cometemos erros? Lógico, comete-se erro, cometemos a indicação de uma contratação ou outra. Veja que nós contratamos jogadores que são revelações. Ninguém conhecia o (Gabriel) Brazão. É um processo em evolução, o (torcedor) menos apaixonado vai dizer: vamos dar um tempo para esse cara mostrar onde ele realmente vai chegar, qual é o objetivo dele dentro do processo atual. Aí sim, pelos erros e pelos acertos, nós vamos ser avaliados e as decisões serão adotadas da melhor maneira. Onde? Na urna. Agora, avaliar a gestão do Marcelo em 11 meses é humanamente impossível.
— E mesmo assim, a avaliação que seja feita da gestão Marcelo Teixeira, hoje, é positiva. Porque as metas e os objetivos foram alcançados. Qual é a avaliação negativa dentro de um processo como esse? Não vejo nenhum. Mas, poxa vida, o Marcelo fez loucuras, fez investimentos que o Santos não possuía (condições). Ao contrário, o clube hoje fechou o último trimestre, em setembro, com R$ 45 milhões de superávit da minha gestão, de janeiro a setembro de 2024. Por que ele (o resultado financeiro) é negativo? Por causa do passado que o Santos tem, daquilo que nós herdamos de despesas, que são dívidas naturais, que nós vamos ter que cumprir, como estamos cumprindo. Se não fossem os três transfer-bans que nós pagamos, se não fossem os outros que foram evitados, o Santos estaria com R$ 45 milhões de superávit.
No jogo em que o Santos levantou a taça da Série B, a torcida levou faixas e fez coro na Vila no combate ao racismo. Foi uma clara demonstração de insatisfação ao Adilsinho (Adilson Durante Filho), que chegou a ser expulso do quadro associativo por falas racistas. Dias antes dessa manifestação, o senhor e o Adilsinho foram filmados nos corredores Vila batendo boca com alguns torcedores. Qual é o posicionamento do senhor sobre esse personagem dos bastidores do clube?
— O pai do Adilson colaborou na gestão do meu pai, colaborou na minha gestão também. O Adilsinho é uma pessoa que teve uma ligação com a minha família, tem uma ligação muito próxima com o Marcelinho. No início da gestão, em janeiro, ele ajudou no intuito de agilizar parte da reforma (do CT Rei Pelé), participou diretamente desses processos, mas ele não tem nenhuma função hoje no Conselho Deliberativo, não tem nenhuma função hoje na questão diretiva.
— Ele (Adilsinho) fez, respondeu por isso e acabou, para mim, ponto final. Mas eu tenho que zelar também, lógico, por questões do clube. Ele não tem participado diretamente do dia a dia. Naquele episódio envolvendo o jogo da Vila Belmiro, ele estava com o filho. No fim do jogo, ele veio cumprimentar pela classificação e aconteceram aqueles episódios que foram superados. Para mim, em termos de clube, em termos de participação do Adilson, não há nada o que comentar. Isso me incomoda bastante, porque eu tenho respeito pela família, isso é natural, mas sei dividir bem essa situação, ele também sabe, compreende. Resolvemos bem essa situação, que não é de hoje. O episódio da Vila foi isolado.
Recentemente completou-se 20 anos do título brasileiro do Santos, e um jogador ficou marcado naquela campanha, o Robinho. Ele é protagonista num momento de virada, e acho que num momento fundamental para sua trajetória também. Mas, ao mesmo tempo, em que...
— Não quero cortar sua pergunta. Essa geração é uma geração que mudou o rumo e a história do Santos. Mudou radicalmente. Se hoje nós estamos aqui e fomos campeões da Libertadores 2011, é graças à geração Robinho e Diego, que resgatou a autoestima de quase 20 anos sem título. Aquela geração conseguiu fazer os trabalhos que, aí sim, a diretoria muito bem explorou, no aspecto de marketing, no aspecto financeiro, todos os aspectos de atrair novos meninos, tudo, tudo deve-se àquela geração. Se você perguntar aos santistas se a conquista do título do Campeonato Brasileiro de 2002 é tão ou mais significativa do que da Libertadores de 2011, as pessoas vão responder o Campeonato Brasileiro de 2002. Ele (Robinho) é o protagonista.
Como o Santos lida com esse ídolo hoje e como se recorda de todas aquelas conquistas?
— Lida muito bem. É a história. A história esportiva, ela não é apagada. Se você for lá mostrar quem fez o gol de 2002, do terceiro gol, quem foi? Foi o Léo. Quem fez a jogada do gol do Léo? O Robinho. Você não pode pegar essa imagem, tirar o Robinho e dizer: "não, você não participou desse momento". Ele participou desse momento, faz parte dessa história, tem a importância dele. Os dois meninos, o pretinho e o branquinho, Robinho e Diego, eles marcaram a geração do futebol brasileiro. O Santos ganhou adeptos de torcidas graças aos dois, com aquela irreverência, com aquela linguagem, a maneira deles, o menino e a menina se identificaram com os dois. Então, o Robinho tem uma história esportiva no Santos Futebol Clube. Está lá registrado no memorial como uma das maiores conquistas em termos nacionais. Ponto.
— O que ele fez da sua vida e da maneira como teve as suas atitudes, ele está respondendo fora das quatro linhas. Vou além, vou só te dar um exemplo prático. Essa discussão já aconteceu com o maior de todos os tempos. Se discutiu assim, como o Pelé não reconhece a sua filha? Como? É um absurdo acontecer um negócio desse. Eu respondia, o Edson não responde pela filha. O Pelé fala sobre o futebol.
É que nesse caso estamos falando de um ex-atleta que foi condenado e está cumprindo pena. A minha dúvida, uma vez que o Robinho deixe a detenção, é possível reaproximar esse ídolo, frequentar, por exemplo, as dependências do Santos?
— Aí eu já não sei responder. Com toda sinceridade, eu não vou conseguir responder para vocês. Tudo tem o seu tempo. Eu não conheço a história, não posso falar. Eu conheço ele, conviveu comigo. Fez parte da minha história. Então é difícil falar com um menino que eu vi crescer, né? Hoje vejo o filho despontando no sub-17, é muito difícil. A superação que esse menino (Juninho, atacante das categorias de base) está tendo é algo muito diferenciado. Eu não sei se qualquer um conseguiria superar a dor, a mágoa que o filho do Robinho passou e ele hoje é um dos grandes talentos, provando, assim, um poder, uma personalidade, uma maneira alegre de estar. Sabemos que ele tem a sua dor própria, mas vejo um futuro promissor.
— Então, você avaliar a vida de um homem, não sou capaz de fazer isso, não serei capaz de medir, nem de julgar ninguém. A Justiça julgou. Tomara que tenha sido a maior e melhor decisão, a mais justa nesse caso. Se cometeu esse crime, ele tem que pagar. Vai pagar como está pagando. Mas apagar aquilo que eu tenha de imagem do menino Robinho, daquilo que ele proporcionou de alegria ao Santos, isso é impossível.
Como o senhor vê essa reorganização do futebol brasileiro buscando uma liga?
— Cheguei um pouco tarde para esse assunto. Se eu tivesse chegado mais cedo, teríamos discutido propriedades depois da formação de uma liga. Nós entendemos que deveríamos discutir antes e acabou tendo essa divisão ruim para o futebol brasileiro. Todos devem se respeitar remando numa única direção. Ainda tenho esperança de uma única liga. Já tivemos isso no passado. Tínhamos o Clube dos Treze, prejudicado por vaidades, porque sentávamos para discutir na mesa e um dizia que o árbitro prejudicou, o outro que teve a contratação roubada e outro queria ganhar mais. Mas acho que agora estamos mais amadurecidos. Eu acredito que a gente consiga fazer uma única liga.
Ao longo da temporada, o Santos tentou mandar jogos da Série B em São Paulo. Os rivais paulistas não quiseram emprestar seus estádios?
— As respostas que nos foram dadas eram por causa de manutenções ou situações de eventos ou até mesmo a Polícia, com a recomendação do Ministério Público em evitar encontros entre torcidas. Isso tudo dificultou bastante. Não jogamos no Allianz, mas tivemos a chance nas últimas rodadas. Conversamos com o Palmeiras e houve essa possibilidade. Então vejo a dificuldade de voltar a jogar nos estádios deles no futuro. Mas a preferência do Santos em São Paulo será o Pacaembu. As tratativas com a WTorre estão praticamente encerradas.
Como é hoje sua relação com os presidentes de Corinthians, Palmeiras e São Paulo?
— Liguei para o presidente da Federação Paulista, Reinaldo Carneiro Bastos, para o Julio Casares (presidente do São Paulo), Augusto Melo (Corinthians) nessa situação envolvendo os critérios de descenso do Brasileirão. Acredito que é uma regra que precisa ser revista imediatamente. Veja um exemplo claro: o Atlético-MG disputou a final da Libertadores e da Copa do Brasil e teve chance até a última rodada de ser rebaixado. Isso não é um problema de gestão, é um problema de calendário. É um problema de uma série de outras situações que refletem na tabela de um campeonato tão importante.
Abre Aspas: Marcelo Teixeira revela articulação para diminuir rebaixados na Série A
— Ainda não tive a chance de conversar com Leila Pereira, mas eu acredito que devemos ter uma mudança nesse critério. É tradição, história de clubes brasileiros. Não podemos admitir que um clube dispute, como foi com o Fluminense, nas últimas posições, podendo cair e tendo vencido a Libertadores no ano passado. Por mais que haja composições de bons grupos, você vai priorizar uma competição. Não tenho ainda ideia de critérios, mas com certeza acredito que o mais correto seria rebaixar apenas dois. No Conselho Técnico, aventou-se a possibilidade de serem três rebaixados. Eu acho que se fossem três, teria de ter um confronto.
O senhor sente a adesão a essa ideia por parte dos outros clubes?
— Muito. Com o Corinthians e São Paulo eu conversei, a adesão foi imediata. Estou apenas abordando aqui algo que seja possível. Mas quatro clubes hoje descendo do Campeonato Brasileiro é algo de um critério bem ingrato, muito injusto com a tradição e a história dos grandes clubes do futebol brasileiro.
E ninguém quis jogador do Santos nesse meio do caminho?
— Começou agora especulação pelo Soteldo. Já tem algumas trocas, envolvimento de jogadores do atual elenco. Agora, pelo menos, estamos respirando um pouco. Nós estávamos no fundo do poço. Agora, chegamos no zero. Não estamos em nenhum outro lugar a não ser o zero. Aqui nós vamos continuar crescendo. Essa é a expectativa lógica que tem que existir, mas a situação ainda é gravíssima. A exploração financeira do Santos mudou por causa, primeiro, pelo sistema implantado no clube, pelos resultados obtidos em três meses, provamos que fizemos o exercício certo, a lição de casa. Fomos disputar a final do Campeonato Paulista. E não é sorte ou azar, é trabalho. Por detalhes não vencemos um rival que já está há mais anos trabalhando e merecendo de títulos. E depois alcançamos o outro objetivo.
— A régua com o Marcelo Teixeira sempre é maior, né? Agora, já estão dizendo: 2025 tem que ser campeão. Vamos ter que ir para a Libertadores. A régua já está bem acima. Só que a realidade do Santos ainda não é essa. Mas, talvez, pela imagem que a gente tenha de história, transmita esse otimismo e essa esperança para o torcedor.
E o que o torcedor tem que esperar?
— Ainda é uma dura a realidade. Duríssima. O Santos toma as suas atitudes e ações com responsabilidade. Nós estamos apagando incêndio. Nós estávamos até então numa maca de UTI cheia de aparelhos. Tiramos esses aparelhos, já respiramos sozinhos. O Santos tinha uma proposta clara para 2024: chegar à final do Campeonato Paulista. Chegamos. Alcançar a vaga da Copa do Brasil. Alcançamos. Ter acesso à Série A como objetivo posterior, título da Série B. Para 2025, eu não posso vir aqui e dizer que vai ser campeão brasileiro. Não posso, porque é algo impossível. Então, vai continuar tendo o mesmo rigor nas finanças, as mesmas decisões em termos de contratações. Tem uma base. Não é uma base de um grupo que caiu, não. É a base de um grupo que chegou à final do Campeonato Paulista e uma base de um grupo que foi campeão da Série B do Brasileiro, título nacional. Ah, mas essa base é suficiente? Não, ela não será suficiente, ela terá que ter as suas mudanças naturais, necessárias. O Santos tem um orçamento de 2025, fará todo o esforço na busca de reforços, para remodelar esse grupo.
— Nós vamos ter um outro grupo para quê? Para disputar a Copa do Brasil e a Série A. Com vistas a quê? A alcançar os novos objetivos. Objetivos que são ousados. Ousados, diferentes por quê? Por causa da minha própria história, do Santos, tem que ser diferente, mas sempre com muito cuidado, muita cautela, porque o endividamento já existe. O equacionamento nós estamos fazendo. Nós vamos ter um caminho que está sendo pavimentado, um caminho duradouro, mas não é também tão longo a ponto de você dizer, então o Santos não vai conquistar nada nunca. Não, o time já conquistou em 24. Conquistou o quê? O que estava dentro do seu limite. Tem que ser realista.
Esse torcedor não recebe sinais trocados? O senhor vem agora com um discurso que me parece muito condizente com a realidade do Santos, mas ao mesmo tempo, o torcedor abre o ge e vê notícia de que o Neymar pode voltar, de que o Gabigol está na pauta...
— O Marcelo Teixeira está solucionando algo que foi uma tristeza. Então não pode ser imputada a nós nenhuma responsabilidade daquilo que aconteceu. É algo que está nítido. Qual é a história do Santos até 23? Triste. O pior capítulo da nossa história. Qual é o capítulo a partir de 24? Finalista do Campeonato Paulista e campeão do Campeonato Nacional da Série B. Mas, poxa, precisar se vangloriar por isso? Bom, eu não estou me vangloriando por isso. É a realidade. Dura, nua, mas é a realidade. Para 25, quando você cria uma expectativa de uma formação do grupo, vai criar quando você cita o Neymar. Eu nunca disse que vamos contratar o Neymar. Eu disse que acompanhamos o processo relacionado ao Neymar. Se existir algum tipo de dificuldade, do clube que está com o contrato em vigência e haja um acordo entre clube árabe e o staff e o contrato de jogador, o Santos pode se manifestar. Está pronto o projeto para o Neymar. Pronto dentro do quê? Dentro daquilo que é pertinente.
— Como o Gabriel. O Santos tem condições de pagar o Neymar ou o Gabriel? Lógico que não. O orçamento está ali. Mas o Santos faz o que quando nós trouxemos a Marta do futebol feminino em 2009, que não existia nem parceiros, não existia nem receita própria, nada como até hoje o futebol feminino patina com isso, mas nós fomos buscar a Marta, trouxemos a Cristiane, custo zero ao Santos. Exatamente o que você pode fazer. reeditar, hoje, contratando o Gabriel. Você tem, na busca de projetos com parceiros, já foi apresentado isso, inclusive, ao próprio Gabriel e ao staff do pai do jogador. Eles têm conhecimento, estão com a proposta em mãos, para ser decidida. Talvez, não sei se chegamos mais cedo, chegamos mais tarde, não importa. O Santos fez a sua situação inerente à formação de um grupo.
— Você está selecionando um ou dois jogadores que tenham apego ao mercado, que tem como haver retorno dos nossos parceiros, diferente do que possa formar nos demais jogadores do elenco. Lógico que não será um nível como esse. Mas você tem que ter o atrevimento de trazer uma ou duas peças que façam a diferença do projeto do Santos de 25 e 26. Vai ser concretizado o planejamento do Santos, conta com Neymar e Gabriel? Lógico que não. O planejamento de 25 é um, mas não impede de que caso haja um acerto com um ou outro, você tenha condições de contar com eles no plantel e naturalmente ter o retorno, em várias situações, da presença de um jogador como o Gabriel no elenco.
Não teve resposta do pai do Gabriel?
— Não estou nem otimista, nem pessimista. Eu aguardo. Se conseguirmos, ótimo, né? Seria importante para nós, em termos de ter o Menino da Vila identificado com o clube. Se não acontecer, nós vamos formar de novo um grupo independentemente da presença dele ou não.
Dentro desse cenário de dificuldades, um bom exemplo é o Botafogo. Um clube que sofria muito, mas hoje é SAF e referência no Brasil. Nesse sentido, o senhor não acha que seria uma forma de encurtar esse retorno às glórias do Santos?
— A SAF não depende do Marcelo Teixeira. É uma decisão que está sendo estudada pelo Conselho Deliberativo. Há necessidade de uma mudança estatutária, que é o que está acontecendo agora. Quem vai decidir é o quadro associativo no momento próprio. Eu só entendo, e a minha proposta junto ao quadro associativo foi, primeiro, colocar uma gestão. É o que nós estamos fazendo. Nós não poderíamos imaginar qualquer negociação acontecer, mesmo numa mudança estatutária, de uma forma precipitada. O Santos disputando uma Série B, desvalorizado no mercado. Estando num nível diferente, a valorização já é diferente. Então, tudo aquilo vem acrescentar algo diferente.
— O Santos, com todo o respeito aos demais, é um dos clubes mais conhecidos mundialmente. Então, você tem a marca Santos, a possibilidade de ter a marca Pelé, que é o que nós estamos trabalhando também. Você imagina hoje essas marcas associadas com projetos futuros envolvendo jogadores que estão até ainda em atividades, como Neymar. Você recoloca o Santos tecnicamente, em termos de marca, num outro patamar.
— Tem SAF's de sucesso, fizemos uma negociação no início do ano, adquiriu um jogador nosso. E desde o meio do ano não paga. O nosso financeiro fica questionando. O nosso goleiro, o John. Botafogo. Não paga. Quer dizer... Tem sucesso dentro de campo, mas não tem cumprido as suas obrigações. Qual é a justificativa do não pagamento? Nem imagino. Essa conta vai ficar para quem? Para a SAF ou para o clube? Não sei também. Não sou eu que preciso ter essa resposta. Quem tem que ter essa resposta são os associados do clube. Mas hoje é uma realidade. Talvez o salto, um passo maior do que deveria ser dado e não estava tendo a possibilidade.
— Nós temos que ter muito cuidado hoje quando você fala sobre SAF, porque tem que ser montada, estudada e colocada em prática de uma maneira bem criteriosa e não é com exemplos como já tiveram no Brasil, com clubes que estavam à falência, totalmente endividados, disputando a Série B. Seria fácil. Na Série B, vamos pegar uma SAF. Não é esse o caminho. O caminho dos clubes de futebol brasileiro chama-se gestão. A gestão é modelo aonde? Num clube associativo, como também numa SAF. Qualquer modelo, você tem que ter uma gestão. Seja ela a opção que for, mas, nitidamente, tem que ter uma gestão.
O senhor já conversou com o Neymar pai sobre SAF?
— Não, nunca conversamos sobre isso. Nunca, nunca.
Mexe um pouco com o imaginário do torcedor...
— Hoje em dia, a gente comentava sobre isso, essa irresponsabilidade dos blogueiros, dessas redes sociais. Eu fico perplexo, a gente abre logo cedo, de manhã cedo você vê lá, tal, tal, tal, tal, o Santos contratando A, contratando B, contratando C, o técnico, já colocaram acho que uns 15 técnicos no Santos, 15, e aí depois os próprios que vão alimentando, eles mesmos depois não respondem.
Essa conversa não chegou a existir em um contexto de informalidade? Você não teria interesse?
— Nunca, nunca, nada. Os projetos são totalmente diferentes. Ao contrário de SAF, de aquisições e de... Se ele pensa de alguma forma, nunca me falou sobre isso. Se alguém entrevista, tem que me mostrar ou ele mesmo me falar, porque até agora todas as conversas com o Neymar, pai, filho, são sempre muito diferentes dessa em termos de SAF.
Muita gente faz essa associação da possibilidade do Neymar retornar com esse gancho de SAF...
— É natural, porque quando você traz um grande jogador, traz com ele uma série de parceiros. O Santos tem os seus dividendos também, as suas situações de benefícios. Então, isso é normal, mas não, em termos de você vender o clube. Não há necessidade.
O senhor desenhou um cenário de que o Santos está bem defasado em relação aos seus principais rivais. O senhor entende que apenas com a gestão, reduzindo despesas e aumentando receitas, é possível colocar o clube no patamar desses outros clubes?
— É possível. Um exemplo claro como você citou: como vai igualar a estrutura de um centro de treinamento? Ainda bem que nós tivemos uma visão de futuro quando fizemos o centro de treinamento profissional. Nós tivemos agora o representante do Luís Castro, que foi a Santos, fez questão, porque foi informado por outros clubes aqui do Brasil que o centro de treinamento era assim, assado, e ele estava traumatizado com isso. Falei: "Nós temos fotos, temos vídeos". E ele: "Não, não, eu quero ver". E ele falou: "Realmente é um CT moderno, vocês fizeram recentemente?". Não, fizemos em 2005, 2006. No ano passado fomos lá visitar, e estava lá o mesmo preguinho do quadro, o mesmo quadro... Só trocamos as televisões, porque são coisas que ficam no tempo.
— Como superar isso? Com criatividade. Você tem hoje a possibilidade da Lei de Incentivo ao Esporte com a qual pode captar (recursos), como nós estamos tendo a possibilidade de fazer junto a empresas do Porto (de Santos), uns R$ 22 milhões já temos captado e possivelmente direcionaremos ao novo centro de treinamento. A base é nossa prioridade. O profissional também passará por uma modernização, mas não nos preocupa tanto. O que preocupa mesmo ainda é a estrutura da base. Definida a questão envolvendo a área que estamos estudando (para construir), em Santos, São Paulo, ou mesmo, talvez, uma parceria, como na gestão anterior em que estava sendo estudado construir na Praia Grande.
"O que preocupa mesmo é a estrutura da base", diz Marcelo Teixeira
— Você pode nivelar estrutura. "Ah, mas você não chega a ter elenco para disputar um título". Pode ser que não. Você não vai se atrever a dizer que, com a composição de elencos, não vai exigir um investimento. E é o que o Santos gradativamente fará. Não fará de uma maneira como os demais que já estão há 15, 20 anos nesse trabalho, como o Palmeiras, do Paulo Nobre, o Flamengo, do ex-presidente (Bandeira de Melo). Mas nós vamos, mais uma vez, fazer com que essa estrutura seja colocada em prática para você revelar em grandes proporções, não de uma forma a conta gotas, como vem fazendo nos últimos dez anos. Poderíamos ter (vendido), tivemos a proposta do Jair, tivemos a proposta do Chermont, do Luca (Meireles), que renovamos rapidamente o contrato antecipadamente. Pra quê? Porque nós acreditarmos que esses jogadores chegarão no profissional.
— Nós lutamos com a base para vender precocemente atletas, que é o que muitos clubes fazem. O Santos, não: revela jogadores para conquistar títulos. Os outros podem disputar títulos com investimentos que sejam feitos no departamento de futebol. O Santos fará investimentos no departamento de futebol, mas não perderá, em hipótese alguma, pelo menos na minha gestão, a forma de revelar jogadores de qualidade, identificados com a torcida, que serão os protagonistas que alcançarão os grandes campeonatos para o Santos.
Ao longo de 2024, o senhor falou publicamente sobre a possibilidade de um centro de treinamento em São Paulo. O foco hoje é uma reforma do CT Meninos da Vila, um novo CT em Santos ou um CT na capital? E onde seria?
— Em relação ao CT Meninos da Vila, nós temos um projeto, até pelas dimensões dele, de menor porte. São investimentos não tão altos, mantendo os campos. Você consegue fazer um minicampo para uma atividade de menores, mas não tem condições de realmente fazer uma estrutura maior. Lógico que ele está em um ponto nobre, próximo da Vila, é importante estrategicamente manter. É uma área do clube, temos escritura pública. Como planejamento futuro, a gente tem a possibilidade de (acessar) verbas pela Lei de Incentivo ao Esporte, na qual você cria (um novo CT) em uma área maior. É um planejamento que estamos fazendo com algo em torno de 50 a 70 mil metros quadrados, que aí sim, esta dotação, esse valor, é para que você faça, no mínimo, cinco campos de treinamento, alojamentos, toda a infraestrutura do departamento médico, a área de saúde, e tenha uma estrutura independente. Isso não será numa área hoje existente.
— O Santos vem estudando uma área, tanto em Santos, como na Praia Grande. O clube já possuía essa possibilidade de um projeto na Praia Grande, com dimensões interessantes, nas quais tem essa verba para investir. Nós estamos apenas estudando a melhor maneira de fazer. Hoje, o Santos não tem condições de adquirir uma área, mas nós estamos estudando a possibilidade de uma parceria, na qual se consiga fazer um processo de locação. Ainda não estamos definidos sobre isso, mas teria um novo centro de treinamento, uma nova área, não descartando o Meninos da Vila, mas tendo já a possibilidade de uma infraestrutura independente.
— Paramos por causa das eleições (municipais) que estavam acontecendo naquele momento, o prefeito foi eleito e, lógico, estão abertas as conversações para que a gente também consiga esta área. Então, é possível você fazer um investimento numa área em Santos, pode ser, como pode ser em alguma cidade da Baixada, como também você pode ter a possibilidade de um investimento em centro de treinamento em São Paulo.
Ter o CT de base em uma outra cidade, um pouco mais distante do profissional, não é um problema?— Não é um impeditivo. Até pode ser algo interessante porque, dependendo da forma como você esteja planejando, pode construir também um estádio menor, para atender a jogos do departamento feminino, dos próprios departamentos de base.
Uma das reclamações do Carille era de que o Santos tinha muito cacique para pouco índio, muita gente com acesso ao vestiário, pessoas alheias ao futebol. Na premiação da Série B, por exemplo, vimos que alguns diretores não estavam presentes, enquanto havia no campo amigos da direção. O senhor acha que foi muito permissivo nesse sentido?
— Não, eu sei separar bem a questão do momento antes da partida, durante, no intervalo de jogo. Nunca tivemos uma participação na Vila Belmiro. Às vezes, sim, quando você vai ao interior. Quem viajava conosco bastante eram os membros do comitê de gestão, né? O Sr. Colombo, o Sr. Teixeira, o Daniel Alves, o Fernando Bonavides. E esses, sim, me acompanhavam no vestiário. Após o jogo, nós, de fato, levávamos algumas pessoas inerentes à relação que temos. Por quê? Porque sabíamos que não estava mais interferindo diretamente no trabalho envolvendo um jogo de futebol.
— Mas é importante você envolver essas pessoas para que, num momento crítico como nós vivemos, tenhamos a possibilidade dessas pessoas continuarem dando o apoio necessário aos projetos que o Santos vem fazendo. Esse isolamento do futebol, principalmente, com essas pessoas que participam diretamente, não amigos de um modo geral... Mas essas pessoas, como (caso) o doutor Colombo queira levar um filho, o doutor Teixeira leva o neto, são amigos, são filhos, mas são pessoas que contribuem, que colaboram no dia a dia do Santos. Nós temos a parte profissional e temos aqueles que estão diretamente (ligados). Não é por isso que fazemos com que o vestiário fique algo diferente de uma rotina. Também não permitiríamos que fosse uma bagunça, que fosse algo que generalizasse coisas diferentes do vestiário. Tudo muito controlado. O Fábio talvez manifestasse isso de uma maneira a querer um isolamento que eu, particularmente, não concordo.
Tem outro tema que gera debates entre os torcedores, em relação ao Marcelinho, seu filho. Hoje o senhor o vê como um dirigente do Santos? Ele tem o poder de tomar decisões?
— O Marcelinho é uma pessoa independente. Ele é o presidente da área esportiva da Universidade. Ele toca toda a parte também de construção da família. E, lógico, é meu filho. Conselheiro do Santos. Não tem nenhum cargo diretivo. Ao contrário, ele está, como alguns, colaborando. Colaborando, talvez, muito mais com o pai. Como eu participei com meu pai, querendo sempre o melhor ao clube, ao pai, isso é inevitável, é natural. Só que a participação dele é uma participação de um homem diferente, um homem, posso dizer, não como pai, ele é a frente do tempo. Ele tem condições nas suas decisões a contribuir aonde quer que ele esteja.
— Não precisa estar no Santos. Ele está dentro desse processo de reconstrução. Se não precisar, se ele não quiser, também será um direito dele. Por outro lado, existe uma enorme preocupação, por causa do talento dele, por causa dessa visibilidade que ele tem... Porque ele cativa. Ele é uma pessoa muito simples, muito humilde. Não é uma pessoa que conquista o espaço porque é filho do presidente ou por uma imposição. É natural dele. E tudo isso não agrada a algumas pessoas. E também é um risco, como dizem, que ele vá ser o futuro presidente do Santos.
"Se for presidente, será melhor do que o pai e o avô", diz Marcelo Tetxeira sobre filho
— Primeiro, já vou tranquilizar os opositores, porque ele não tem nem idade. Talvez tenham feito isso (no estatuto) até por isso. Colocaram que antes dos 30 não pode ser presidente. Então, ele não vai ser presidente, porque ele não tem 30, tem 28. Se for presidente, ele não será de uma maneira que o Marcelo Teixeira queira que ele seja presidente. Quem nomeará o sucessor do Marcelo Teixeira? É o quadro associativo. Não sou eu, não são vocês. É uma sócia que vai lá e coloca o seu voto na urna. Se nós fizermos uma boa gestão, é importante que haja uma continuidade desse trabalho, desse projeto. Não com o Marcelo, que haja uma continuidade daquilo que sejam os propósitos do Santos para os próximos dez anos. É importantíssimo esse trabalho para que haja um sistema progressivo, não baseado unicamente no Marcelinho. O Marcelinho não faz parte desse contexto, nem desse processo sucessório. Ele faz parte daquilo que colabora.
O senhor tem esse desejo?
— Olha, se você me perguntar como pai... Não vou nem falar da mãe. A mãe, se você disser alguma coisa com a Valéria, ela é taxativa: nunca! O pai, tenho minhas reservas. Como santista, gostaria muito. Porque ele será melhor do que o avô e melhor do que o pai.
O Carille, por exemplo, recebeu muitas vaias na Vila Belmiro e, um dia depois, o trabalho foi interrompido. Qual o peso da torcida nesse processo?
— Interrompi contra a minha vontade, ele sabe. Naquela sexta-feira (o jogo citado foi realizado em um domingo), recebi o telefonema do representante dele e pedi para esperar o jogo naquela semana e que nós conversássemos na segunda-feira pela manhã. Sete e pouco da manhã, o Pitombeira (empresário do Carille) me chamou e falou que gostaria de saber sobre a continuidade. Falei: "Olha, você conversa com o Gallo porque eu tenho uma série de compromissos, não imaginei que você quisesse tão rapidamente falar sobre essa continuidade ou não". Quando foi por volta de três horas, depois do almoço, o Gallo me liga e diz: "A negociação foi por um lado diferente, parece que quer que haja uma definição rápida da continuidade para a temporada 2025 e eu não sei qual é a sua orientação".
— Ao longo do ano, disse muitas vezes ao Fábio que eu queria esperar terminar o campeonato para conversarmos sobre tudo o que aconteceu e ver dele mesmo tudo aquilo. A decisão foi tomada antes mesmo do último jogo. Poderíamos ter já mandado o treinador embora, que é uma praxe. Geramos outros momentos de oscilação, torcida, depoimentos infelizes do Carille, não é? Cada um que ele dava, a gente tremia na base, né? A gente pensava: “Tomara que esse moço não fale mais nada". Aí vou em um programa, que eu não tinha nem visto aquela coletiva dele (Fábio Carille) e ele fala que pressão é no rival. São depoimentos que não condizem com a realidade de um trabalho. Não é normal que isso aconteça.
Carille é vaiado pela torcida do Santos ao receber medalha de campeão da Série B
A nossa impressão vendo de fora é que a coisa começou a ficar ruim quando teve aquela possibilidade do Corinthians. Internamente o senhor também viu aquele momento como uma virada de chave?
— Ali, o cristal rachou. Quando você quis colocar o cristal de novo, o cristal começa a ficar aquela coisa (sugerindo dificuldade). Ele teve a mesma situação com o Vasco e teve uma postura decisiva, clara e forte. Não foi assim (quando veio o Corinthians). O Santos teve uma vitória expressiva fora, aí o Fábio vai à coletiva de imprensa e diz: "Falem com o meu representante sobre a questão da proposta". Uma resposta nada a ver, o que deveria ser falado ali era sobre a vitória, sobre o desempenho do time. Ali, ele era profissional do Santos. Dali em diante, a relação entre direção e comissão técnica demorou um pouco para se restabelecer.
O senhor pensou em demiti-lo depois do empate com a Ponte Preta na Vila Belmiro?
— A minha convicção era que o Fábio tinha o melhor perfil para o Santos disputar o Campeonato Paulista e disputar o Campeonato Brasileiro. Quando aconteciam resultados negativos ou qualquer adversidade, vinham os pareceres do Departamento de Futebol. Todo o Comitê de Gestão pressionava nesse intuito de mudança. Aí o pessoal, toda a mídia, esses blogueiros, tudo levava a pressão para um caminho, mas a minha convicção era aquela com aquele objetivo traçado, com aqueles profissionais que estavam ali. E ele fazia parte desse contexto.
— É a mesma coisa se você quiser fazer uma mudança radical no teu tabuleiro, colocando em risco o teu rei. Era o que eu pensava. Não vou colocar em risco o rei. Vou colocar a rainha, mas não vou colocar o rei. O contexto, a formação do grupo, a relação dele com aquele elenco, a maneira como ele se relacionava com os jogadores, era uma mudança em que você poderia colocar um outro, um melhor sistema de jogo, mas não poderia ter o mesmo casamento de grupo. Não poderíamos correr risco nenhum. O ano de 2024 não era para se correr riscos. Enquanto eles estão me atacando, estão poupando os jogadores e estão fazendo com que os objetivos sejam alcançados. Essa é a meta. A meta principal é você chegar naquilo que você traçou. E graças a Deus o Santos alcançou.
Você negociou com o Cuca?
— Quando eu vi que o Carille balançou, e eu não sabia se era verdade ou não, conversei com o Cuca. E o Carille sabia que eu conversei com o Cuca, não teve segredo nenhum. Se ele (Carille) fosse taxativo, se ele continuasse com o trabalho firme, não haveria necessidade de conversar com o Cuca. Se ele a qualquer momento aceitasse ou se o clube (Corinthians) quisesse pagar a multa, eu ia ficar com quem? Eu teria que ter um treinador imediatamente. Fui buscar as opções que eu tinha no mercado. Liguei num dia de noite, umas 23h30 e conversei com ele. Falei: "Cuca, na possibilidade de alguma mudança, eu queria saber se você está disponível". O Cuca respondeu: "Presidente, fui seu jogador, fui seu treinador, para mim é uma honra trabalhar no Santos, mas eu respeito o Fábio. Não vou conversar em hipótese alguma sobre contratação com o Fábio aí". Foi isso, não falamos de contratação.
O Cuca, no ano passado, sofreu uma rejeição gigantesca no Corinthians por conta da condenação sofrida na Justiça da Suíça. De alguma forma, isso pesou em algum movimento do Santos para trazê-lo?
— Não me preocupo com essa questão em termos de repercussão, o que me preocupo é com aquilo que ele possa fazer tecnicamente. Lógico que consultaríamos os parceiros, os patrocinadores, mas isso já foi feito até no próprio Athletico-PR. Só liguei para ele no sentido de ter uma válvula de escape, mas não seria o momento de decidir que era ele. Eu teria que pedir ao pessoal do futebol para fazer uma pesquisa maior no sentido de ver uma possível substituição do Fábio. Vou ser muito sincero com vocês. Conheço o Augusto (presidente do Corinthians), ele ligaria para mim. A primeira pessoa que ele ligaria seria eu. Faria o mesmo com ele, ele faria o mesmo comigo. Eu faria o mesmo com o Casares (presidente do São Paulo), o Casares faria o mesmo comigo. Essa é a relação que nós temos. Nenhum momento o Augusto falou comigo sobre o Fábio.
Quais são as posições que o Santos busca no mercado?
— Não vou falar de posições para não desvalorizar aquilo que temos. O Santos vai fazer uma reformulação do elenco. O Santos montou um grupo para disputar as competições de 2024, claramente. Então, em 2025, nós vamos estar em outro estágio. No ano passado, nós limpamos um elenco para reformular com um novo. Não vai precisar ter uma medida tão radical assim porque esse elenco não está marcado com um descenso.
Para o ano que vem qual é a ideia? O Santos pode priorizar resultados em detrimento a um futebol mais vistoso?
— Acredito que o Santos tenha que ser mais competitivo, jogadores com características de maior velocidade. O Santos tem que ter na sua composição jogadores de qualidade, mas que também possam, nitidamente, fazer com que a equipe evolua dentro desse princípio. Sejam mais ativos, mais versáteis. Quando anunciei o Gil, 95% foram contra. Disseram que estávamos trazendo um refugo do inimigo, do rival, um jogador que está sendo contestado e colocaram até um vídeo da torcida deles xingando o Gil, falando que ele estava acabado e ultrapassado.
— A tendência do Santos é manter a linha prudente, dentro de uma realidade, é uma realidade ainda que exige cuidados que o Santos vá ter na composição do seu elenco, isso é natural. Nós não temos como fazer aqui ilusões, promessas, onde você não vai conseguir alcançar os seus objetivos. Hoje, o objetivo do Santos é numa Copa do Brasil no intuito de ir o mais longe possível, que é uma composição de um elenco onde você tenha essa possibilidade, até porque o Santos não disputa uma competição internacional. Isso é uma vantagem ainda. Para quê? Para que em 2026 o clube dispute uma competição internacional. Essa é a meta para o sucesso.
A meta é ir até onde na Copa do Brasil?
— Na Copa do Brasil você entra na terceira fase, que também é uma vantagem. Mas tudo aquilo dentro de uma previsão natural das coisas acontecendo. São focos, né? Você tem que mirar objetivos e focos.
No Campeonato Brasileiro, a meta é a vaga na Libertadores?
— É uma luta. Você tem que ter ambições, não é? Nas ambições, você vai buscar sempre o melhor daquilo que é possível pela marca e pelo nome do Santos.
O Santos tem alguma parceria em andamento com a marca Pelé?
— Ainda não. A marca Pelé é forte, mas ela só se sustenta com o Santos. Ela só se mantém viva e forte com o Santos, com as ações que o clube possa fazer. O Pelé é eterno. Estou falando em termos de marca, termos de comercialização de produtos. Acho que isso só se sustenta com ações que você venha a adotar em conjunto com a marca, o distintivo do Santos, com os ativos que o Santos possua. Aí eu acho que essa marca consegue ter uma vida.
Com o feminino na Série B dá para manter o projeto?
— Na gestão passada, o Santos tinha um elenco muito bom, muito forte. Disputou bem as competições no ano passado. Mas, diferente do masculino, quando o feminino foi tomar as atitudes e ações, nós já tínhamos perdido grande parte daquele elenco. Não por falha do departamento, por causa da ausência de resposta. Deveria a gestão anterior, que ela também não podia dar respostas positivas, onde a Cristiane dizia que tinha propostas e o presidente não podia dar uma resposta. Aí ela já não sabia quem era o próximo, perderia o que pudesse acontecer e formalizou a saída. Com ela, outras tantas meninas se encaminharam. Quando o Santos foi ao mercado, não conseguiu repor à altura. Agora, já vem dando mostras diferentes. Já teve uma participação na Copa Paulista melhor, alcançou o título, teve uma participação boa na Libertadores, por pouco não foi além para disputar a semifinal, mas hoje já tem uma composição melhor para 2025.
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