Fábio Matias analisa chegada de treinadores estrangeiros no Brasil
O torcedor do Botafogo hoje enche o peito com orgulho para dizer que é campeão da Conmebol Libertadores. O trajeto passou longe de ser fácil e tem muitos heróis, entre eles o goleador Júnior Santos, as estrelas Luiz Henrique e Almada e o centroavante Igor Jesus.
Mas um outro personagem, que hoje nem está mais no clube, fez parte dessa história e é lembrado pelos botafoguenses: o treinador Fábio Matias. Se o fim do ano foi brilhante, o começo passou longe de ser tranquilo.
Coube ao, então auxiliar fixo do clube, assumir um time em crise e praticamente eliminado na primeira fase do Campeonato Carioca após um empate com Aurora na segunda fase da Libertadores. O paulista ajudou o time a passar pelos bolivianos com uma goleada por 6 a 0 e depois eliminar o Bragantino.
Fábio Matias destaca emoção com títulos do Botafogo: "Fizemos parte"
Não sem drama. Depois de vencer no Rio, segurou um empate em 1 a 1 em Bragança Paulista com um jogador a menos após Damián Suárez ser expulso. Em entrevista exclusiva ao ge, o treinador explicou a sensação de ver o resultado final após ter feito parte daquele momento.
- Me emocionei com o resultado final. Aquela emoção de quem conhece as pessoas e sabe o quanto elas trabalharam para que isso acontecesse. Tenho sido reconhecido, a rede social é recheada de torcedores agradecendo. Mas não precisa agradecer nada, era o nosso trabalho naquele momento. Fizemos o que tinha que ser feito - destacou.
Fábio chegou ao clube em janeiro com a missão de ser auxiliar técnico fixo do clube. Um trabalho que o próprio classifica que tem a missão de "servir e preparar" para o treinador que vai assumir o cargo definitivamente.
E foi exatamente o que ele fez no período. Segurou as pontas na saída de Tiago Nunes, garantiu a vaga na fase de grupos da Libertadores e entregou uma situação mais estável para Artur Jorge, que estreou na segunda rodada do continental.
O bom trabalho no Botafogo, com 10 jogos, oito vitórias, um empate e apenas uma derrota, foi quem deu visibilidade ao treinador brasileiro de 45 anos. Mesmo com propostas na mesa, sendo uma delas do Cuiabá, optou por permanecer, ajudar na transição e "esperar a poeira baixar".
Foi no Coritiba que chegou a primeira oportunidade definitiva como treinador no profissional. Após um curto período, o Juventude abriu as portas e se salvou do rebaixamento sob o comando de Matias. Para ele, a longa experiência em divisões de base ajuda a se firmar no profissional.
- É um cenário caótico, que nos prepara para o profissional. É o profissional às vezes intervindo, precisando de 10, 11 jogadores. Muitas pessoas desconhecem. A sub-20 hoje, a nível nacional nos clubes grandes, para mim é profissional. Eu fazia em média de 58 a 60 jogos. Você joga para caramba, além de jogar tem que suprir o time de cima. Quando você está no cenário profissional acaba tendo mais autonomia. Um dos focos que eu tenho é olhar embaixo, diferente de quando me olharam - analisou.
Cenário brasileiro
Fábio faz parte de uma nova geração de treinadores no futebol brasileiro que vem tendo dificuldade de se firmar em um cenário de poucas oportunidades. Uma consequência da impaciência de torcedores e clubes com os profissionais locais.
Um dos sintomas disso é a grande entrada de treinadores estrangeiros que se vê, principalmente na elite do Campeonato Brasileiro, mas já chegando à segunda divisão e até em alguns Estaduais. O mercado aberto não é visto como um problema para ele.
- É importantíssimo esse mercado aberto. Não vejo como ruim a vinda do treinador de fora. Mas tenho um ponto de questionamento do quanto a nossa competência como treinador brasileiro está sendo duvidada. O Brasil teve historicamente teve profissionais que influenciaram o futebol no mundo.
Hoje no Juventude, Fábio tenta se firmar nesse cenário nem sempre receptivo para novas ideias e rostos. A experiência na base o preparou para o caos, algo necessário sempre no futebol brasileiro. Veja outras respostas do treinador:
Principal ano da carreira
- Com certeza é o principal ano da minha carreira. Um ano de estar mesmo no profissional. Já tinha tido outras experiências, mas eram muito passageiras. Lá atrás no Inter, no Flamengo. Tudo coisas que ainda tinham muito vínculo com a base. A partir da minha vinda para o Botafogo as coisas acabam mudando. Foi ano de realmente pisar no profissional, que é o grande objetivo da carreira.
Se sente campeão?
- Fizemos parte. Todos tem parte. Acho um grande mal as pessoas não valorizarem aqueles que passaram. Eu tenho falado muito nas entrevistas que as vezes as pessoas não valorizam o trabalho do anterior. Às vezes aquela pessoa que passou naquele momento, como todos os funcionários, foi fundamental para solidificar e deixar organizado o Botafogo para quem viesse. Esse era o objetivo nosso naquele momento. Fizemos parte de algo muito maior. Tudo no seu tempo, de acordo com aquilo que aconteceu naquele momento dentro daquilo que a gente tinha de possibilidades.
Escola brasileira de treinadores
- Acredito que deixou de se organizar. Ficamos muito naquela roda de que somos pentacampeões. Somos, e aí? Se deixou um pouco a desejar. Tive clubes que contratavam profissionais de fora para organizar processos. Eu acho isso absurdo. Não ter pessoas competentes para organizar processos e trazer um cara de fora para pegar a ideia. Tem muita gente competente que consegue fazer isso, mas é preciso olhar e acreditar. Somos o país do futebol, precisa ter, torço demais para que a CBF, com Rodrigo Caetano e Dorival, que são pessoas muito competentes naquilo que fazem, resultados dentro da seleção para fortalecer o nosso histórico em relação aos treinadores brasileiros.
Saída do Botafogo
- Ser treinador é ter coragem. Sabia que o momento que eu passei no Botafogo não seria duradouro. Era um período para me adaptar ao profissional. Tive três situações, duas de série B e uma de série A. Não fui no primeiro momento. Esperei um pouco baixar a poeira. Pensar mesmo aquilo que eu queria. Fazer um pouco aquele papel de auxiliar com a chegada da comissão do Artur. Depois surge o Coritiba e aí eu achei que era o momento. Fui. A partir daí veio o Juventude, acabei tendo um bom êxito dentro daquele objetivo que a gente tinha. A decisão foi pautada em equilíbrio. Eu sabia que não iria ficar no Botafogo um ou dois anos. Se eu enxergasse que mais à frente poderia ser treinador do Botafogo, eu até ficaria. Mas eu não senti isso. Aquela decisão foi muito mais por conta disso, fazer o movimento de carreira, aproveitar a oportunidade que o clube me deu. Nisso eu enalteço muito o Textor, que confio dois meses de temporada nas nossas mãos para que a gente conseguisse entregar o clube na melhor forma possível.
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