Familiares de pacientes atendidos pelo Ambulatório de Saúde Mental de Franca (SP) afirmam que funcionários a unidade prescreveu medicamentos de uso controlado sem que fossem realizados atendimentos com psiquiatras.
Há dois meses, sete médicos se demitiram reclamando da carga horária. O problema levou uma família a recorrer à polícia. Desde então, novos profissionais não foram contratados.
Questionada pelo Jornal da EPTV, uma funcionária da recepção confirmou que não há médicos no ambulatório, mas não comentou quando perguntada sobre a prática do ambulatório em receitar medicamentos.
Mesmo para os casos de renovação de receitas, a consulta médica é necessária, afirma o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).
Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde não comentou o assunto até a publicação desta matéria.
Receita sem médico
Um homem que prefere não ser identificado afirma que sua mãe depende de medicamentos controlados contra um quadro de depressão e dores neurológicas pelo corpo. Ele disse que, na primeira vez, conseguiu uma receita assinada por um psiquiatra, que não avaliou sua mãe.
"Viemos à Secretaria de Saúde, fizemos o pedido. Um médico psiquiatra assinou a receita. Ela conseguiu pegar os medicamentos sem passar pela consulta", relatou.
Duas semanas depois, voltou a proceder da mesma maneira, mas não conseguiu a receita. Para ele, conseguir o remédio nesse contexto é algo paliativo, mas que o ideal seria uma avaliação médica prévia.
"Preocupa. Minha mãe mesmo disse: como vou tomar remédio sem estar fazendo acompanhamento médico, precisando aumentar a dose ou diminuir? É um remédio controlado, é perigoso. Ela ficou preocupada sim", disse.
À espera de uma receita há duas semanas, a aposentada Maria José Rosa Soares confirmou ter sido orientada a solicitar a prescrição de um medicamento controlado para sua filha com depressão mesmo sem que houvesse consulta.
"Vim trazer minha filha para consultar. A consulta dela era dia 2. A gente chegou aqui com ela. Eles falaram que não tinha médico, mas que iam providenciar a receita pra gente", contou.
Depois de deixar dados pessoais da filha, ela afirmou ter sido mais uma vez orientada a procurar o ambulatório por telefone para confirmar se a receita estava pronta. O que também não aconteceu, mas a recomendação se repetiu. "Chego aqui a receita não está pronta. Eles mandaram ligar amanhã de novo pra ver se chegou."