Alunos que estavam em escolas técnicas e diretorias de ensino desocupadas na capital paulista na manhã desta sexta-feira (13) pela Polícia Militar sem mandado judicial afirmaram que foram acordados com policiais dentro das escolas e que foram arrastados. Ao menos 32 alunos foram levados para delegacias.
Dezessete alunos, 15 adolescentes e dois maiores de idade, da ocupação das escola técnica (Etesp) na Avenida Tiradentes foram detidos e levados ao 3º Distrito Policial, na região central da cidade. Eles foram acusados de dano ao patrimônio, o que os alunos negam e dizem ter fotos que podem provar que os danos já existiam ou que nada foi destruído durante a ocupação. Os adolescentes serão liberados e os maiores de idade pagarão um salário mínimo e responderão em liberdade.
O primeiro aluno a ser liberado afirmou ao G1 que tem fotos que provam que estava tudo em ordem. "A gente acordou com a polícia ja dentro da escola. Fizeram a gente acordar, colocar mão na parede e fazer fila. Um aluno chegou a perguntar se eles tinham mandado e o policial simplesmente pegou o cassetete e bateu na cabeca dele. A gente entrou no ônibus sem resistência e viemos até aqui. Ninguém esclareceu nada do que estava acontecendo, do porque estavam reintegrando a posse. Falaram que a gente depredou o patrimônio, mas nós temos fotos que provam que estava tudo em ordem", disse o aluno que não se identificou.
"Queremos melhorar a escola, a infraestrutura. Não tem porque quebrar uma coisa que a gente mesmo vai usar", completou. Ele disse que depois que foram encaminhados, a PM ficou para fazer perícia e eles têm medo do que eles podem ter feito pra incriminar os alunos.
A bancária Luisa Giovana Tronollane, 52, mãe de uma aluna de 17 anos, não sabe por qual motivo a filha foi levada à delegacia.
Luisa viu a filha em uma sala do 3º DP. "Eles estão bem, estao tranquilos. Estão aguardando lá. O espaço é pequeno, alguns estão sentados no chão, outros na cadeira. Nós fomos autorizados a levar cafe da manhã para eles. E a gente queria entender o por que eles estão aqui. Qual é a acusação. A nossa preocupação é que haja quebra-quebra dentro da escola e que seja imputado a eles essa ação, o que nao ocorreu", disse.
Além da Etesp, mais três diretorias e quatro escolas técnicas foram desocupadas na manhã desta sexta. A Procuradoria Geral do Estado orientou as secretarias do governo Geraldo Alckmin (PSDB) a desocupar os prédios públicos do estado sem decisão judicial.
Os estudantes gravaram um vídeo em que mostra alunos que ocupavam a delegacia de ensino Centro-Oeste sendo arrastados por policiais militares. Uma aluna afirmou que alguns estudantes levaram "mata-leão". Eles foram levados de ônibus para delegacia de Perdizes (23º DP).
O parecer do procurador geral do estado, Elival Ramos, foi dado após consulta do ex-secretário da segurança Alexandre de Moraes, baseado no conceito de autotutela, em que o estado é responsável pelos seus bens. Nesta quinta-feira (12), ele foi empossado como novo ministro da Justiça pelo presidente em exercício Michel Temer.
As Diretorias de Ensino Norte e Sul-Guarulhos também foram desocupadas por policiais.
Quinze alunos, cinco adolescentes e dez maiores de idade, que estavam na Diretoria Norte foram levados ao 7º DP. Uma das advogadas dos alunos afirma que não havia mandado para a desocupação. Os jovens, que preferiram não se identificar, afirmam que a polícia entrou no local nesta manhã. De acordo com um deles, houve intimidação verbal e xingamentos - mas sem uso de força física.
Eles devem responder por dano ao patrimônio e uma aluna por furto. Um dos alunos diz que um funcionário sem farda entrou no local, tirou fotos e gravou os rostos dos jovens com celular privado. Até agora, não descobriram quem era.
Por meio de nota, a Secretaria da Segurança informou que "desocupou pacificamente" as quatro unidades e que não houve confronto com os manifestantes. "Dois suspeitos foram presos por furto à Diretoria de Ensino de Guarulhos. Outros manifestantes foram conduzidos às delegacias de cada região para serem identificados e prestarem esclarecimentos. A PM agiu a pedido dos órgãos que administram os espaços públicos e sob recomendação de parecer da PGE", diz a nota.
Ocupações
O Centro Paula Souza informou na manhã desta sexta-feira que sete escolas técnicas estaduais (Etecs) seguiam ocupadas por estudantes em São Paulo. Os alunos protestam contra a precarização das Etecs, os cortes na educação, o baixo salário de professores, a falta de refeições nas escolas e o desvio da verba destinada para a compra de merenda.
Além das Etecs, a Secretaria de Educação informou que estão ocupadas as unidades: Escola Estadual Professor Emygdio de Barros, no Jardim Bonfiglioli, e a Escola Estadual Virgília Rodrigues Alves de Carvalho Pinto, no Jardim Previdência, e a Diretoria de Ensino Região Centro-Oeste, no Sumaré. A Secretaria não confirma a ocupação da Diretoria Norte 1.
Segundo os alunos, estão ocupadas também: a Escola Estadual Dário de Queiróz e a Escola Estadual Brigadeiro Gavião Peixoto. Em pauta divulgada pelos estudantes da Escola Estadual Brigadeiro Gavião Peixoto, eles reivindicam a apresentação de contas da Associação de Pais e Mestres desde 2011, o funcionamento da sala de informática e do anfiteatro, o fornecimento de materiais esportivos para os alunos, suprimentos para a cozinha da escola, suporte psicológico a funcionários, entre outras reivindicações.