Há em Campo Mourão, no centro-oeste paranaense, árvores e plantas tão velhas quanto é grande o risco de elas sumirem do mapa bem logo, concluíram pesquisadores da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), em parceira com a Universidade Estadual de Maringá (UEM).
A área de cerrado, ali, é quase 14 vezes mais antiga do que o "descoberto" Brasil, encontrado por desbravadores portugueses em 1.500 — amostras apontam que a vegetação presente no local tem mais de 7,2 mil anos de existência —, e pode sumir em menos de três décadas, se não houver mudanças drásticas de comportamento humano, conforme os estudos.
No entanto, vestígios do passado ainda estão lá, em um bioma cada vez mais raro, e foram usados para as pesquisa feitas no Laboratório de Estudos Paleoambentais da Fecilcam (Lepafe), pertencente à universidade paranaense.
O estudo foi feito a partir do pólen de um pequi — árvore típica do planalto central brasileiro - e demonstra que a região, que era predominantemente de cerrado, bioma brasileiro importantíssimo para o desenvolvimento de soluções medicinais, está se modificando rápido demais.
O material colhido, diz o professor Mauro Parolin, coordenador do laboratório, pode revelar importantes respostas (e novos questionamentos) sobre clima, vegetação e condições ambientais.
"Essas pesquisas, numa época em que temos tantos extremos climáticos e discutimos tanto o aquecimento global, são extremamente importantes. O entendimento de processos do passado podem nos dar respostas para o presente e para o futuro", afirma o pesquisador.
Do cerrado, Campo Mourão tem dado espaço, com o passar dos anos, a florestas úmidas e cada vez mais quentes, explica Parolin. Antigamente, as secas eram mais severas e o clima era bem mais frio. O problema é que, com a mudança, morre também a biodiversidade.
"Com a perda da área de cerrado, perdemos também a biodiversidade. Isso é péssimo. Perder biodiversidade significa perder espécies. Precisamos mantê-las, para que tenhamos o conhecimento mais profundo de alguma plantas que podem virar princípios medicinais", comenta o professor.
Hoje, o cerrado na região de Campo Mourão é aproximadamente quatro vezes menor do que há 5 mil anos. A área ainda é grande, apesar da redução — cerca de 102 quilômetros quadrados. Mesmo assim, isso não a impede de desaparecer cedo.
Para o professor do Lepafe, as pesquisas são o primeiro passo para que consigamos preservar o meio ambiente e os biomas importantes aos seres humanos. Entretanto, é preciso que existam políticas públicas que mantenham, efetivamente, a natureza preservada.
"Tem que existir mais vontade política para mudar a situação, no sentido de dar mais atenção àquilo que as universidades têm produzido. As pesquisas só são efetivas se houver ação. Precisamos, urgentemente, de políticas públicas voltadas, efetivamente, à preservação do meio ambiente", comenta Parolin.
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