O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou, em pedido de prisão do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que o presidente afastado da Câmara mantém “postura criminosa” que visa atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato. O pedido foi encaminhado ao ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, em 23 de maio e teve o sigilo retirado nesta quarta-feira (15). Ainda não houve decisão.
No pedido, Janot afirma que a decisão do STF de suspender o mandato de Cunha não foi suficiente, sendo necessária, na visão do procurador, a decretação da prisão do peemedebista.
“A postura criminosa e reiteradamente obstrutiva do comportamento do Requerido não foi dissuadida de moda eficaz pela extensão da medida deferida. Vale dizer, a medida cautelar de afastamento do mandato não oi suficiente para cessar a conduta ilícita do parlamentar conforme se previa inicialmente”, diz Janot.
Conforme o procurador-geral, Cunha utiliza a residência oficial da Câmara para reuniões onde articula indicações ao governo do presidente em exercício, Michel Temer, e traça manobras para prejudicar o andamento das investigações do esquema de corrupção da Petrobras.
Em nota, o peemedebista declarou que vai contestar o pedido de prisão assim que for notificado, e que não fez indicações no governo Temer. (veja a integra da nota ao final da reportagem)
“De fato, conforme amplamente noticiado, o Deputado Eduardo Cunha permanece despachando com correligionários e outros parlamentares na residência oficial, como se ali fosse extensão da Câmara dos Deputados”, disse Janot.
André Moura
O procurador-geral menciona que a indicação do deputado André Moura (PSC-SE), para a liderança do governo na Câmara, teria sido articulada pelo presidente afastado da Casa. André Moura é um dos principais integrantes da chamada “tropa de choque” de Cunha, na Câmara, e liderou manobras para tentar postergar o andamento, no Conselho de Ética, do processo de cassação do peemedebista.
“O requerido continua a exercer sem pudor o poder político que detém de fato, mantendo com notável desenvoltura o mesmo nível de articulação e influência, além de adotar postura desafiadora em relação às ordens desta Suprema Corte”, afirmou.
O líder do governo na Câmara, André Moura, afirmou que não foi indicado por Cunha e que teve o apoio dos partidos da base aliada.
Direito a benefícios
No pedido de prisão, Janot também criticou a decisão da Mesa Diretora da Câmara de garantir a Eduardo Cunha o direito de usar a residência oficial e R$ 92 mil mensais para pagamento de funcionários do gabinete pessoal, além de salário integral, uso de avião da Força Aérea Nacional (FAB), carro, motorista e segurança pessoal.
Para o procurador, Cunha só deveria ter o direito de manter a remuneração e uma equipe pequena de seguranças. Janot afirma que a própria manutenção desses privilégios revela o poder de influência e interferência que o deputado do PMDB mantém.
“Mesmo afastado, Eduardo Cunha continua utilizando seu mandato e poder político em beneficio próprio, em especial com vistas a interferir nas investigações, conforme se percebe nas indicações que vem fazendo e pretende fazer no governo do Presidente interino Michel Temer”, disse.
Ao final, Janot pede a prisão preventiva de Cunha, que não tem prazo para revogação. Para o caso de Teori Zavascki considerar a medida dura demais, o procurador requer que Cunha fique detido em casa durante a semana, “no periodo de funcionamento da Câmara”, entre 8h e 22h e utilize tornozeleira eletrônica. Janot também pede que o peemedebista seja proibido de se comunicar, por qualquer meio, com parlamentares, ministros e servidores da Câmara.
Veja a íntegra da nota de Eduardo Cunha:
O absurdo pedido feito pelo Procurador-Geral da República baseia-se em notícias jornalísticas falsas de que eu nomeei membros do Governo Michel Temer, e em declaração minha em entrevista, em 19/05, de que iria à Câmara.
Além de não ter nomeado um alfinete no Governo Temer, não é prerrogativa do Presidente da Câmara dos Deputados praticar atos no Poder Executivo.
Com relação a frequentar a Câmara, antes peticionei ao relator no STF, há três semanas, sobre o meu direito, e estou aguardando decisão.
Logo, o pedido do PGR trata de um conjunto de falácias que serão contestadas assim que for notificado.
Quanto ao recurso à CCJ, será lastreado às diversas ilegalidades e nulidades cometidas, que certamente ensejarão a sua anulação.
EDUARDO CUNHA