Com a revelação de que o senador Delcídio do Amaral (afastado do PT-MS) fez delação premiada e implicou a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deputados da oposição foram à tribuna da Câmara nesta quinta-feira (3) para cobrar a saída da petista.
Parlamentares da base governista reagiram em defesa da presidente e questionaram a veracidade das informações que teriam sido dadas pelo senador.
O acordo foi assinado, conforme revelou a revista "IstoÉ" e foi confirmado pela TV Globo, mas ainda não está homologado, porque um dos pontos foi objeto de questionamento e ainda está sendo ajustado.
O advogado do senador nega a existência do acordo, embora a revista tenha divulgado trechos das revelações feitas à Procuradoria-Geral da República pelo parlamentar, que era o líder do governo no Senado.
Mais cedo nesta quinta, o novo ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça, disse que "há forte possibilidade" de a delação premiada do senador Delcídio do Amaral (MS) ser uma "retaliação". O ministro afirmou, ainda, que Delcídio não tem "credibilidade" e que "não tem primado por dizer a verdade".
Discussão
No plenário, oposicionistas classificaram de “inaceitável” a situação e foram rebatidos por parlamentares da base aliada, que chamaram de “mentirosas” as acusações que teriam sido feitas por Delcídio.
“Este governo não tem a mínima condição de continuar à frente do país. É inaceitável tal situação. Não podemos fazer de conta que nada está acontecendo. Chega, presidente Dilma! A presidente tem que esclarecer os fatos e dizer, num gesto de generosidade, que não tem condições de conduzir o Brasil”, afirmou o deputado Betinho Gomes (PSDB-PE).
O deputado Roberto Freire (PPS-SP), presidente nacional do PPS, disse que o Brasil vive “numa república completamente degradada” e enfrenta “a maior crise da sua história”.
“Ontem, foi denunciado e aceito como réu o presidente da Câmara e hoje um escândalo maior se apresenta à nação brasileira. Não é o presidente de um poder que tenta obstruir a ação de um Conselho de Ética. Não! São dois presidentes, um deles ex-presidente, e ministro da justiça que se uniram para obstruir a justiça. Estamos abdicando da dignidade”, afirmou.
O líder do Democratas no Senado, Ronaldo Caiado (GO), também defendeu, por meio de nota, a saída da presidente Dilma após a notícia da delação premiada de Delcídio. Ele também apontou a necessidade de investigação do ex-presidente Lula.
"Temos que reconhecer que a delação do senador Delcídio, o principal representante do governo no parlamento, sinalizou para tudo aquilo que se suspeitava, mas que ainda não havia um relato tão claro e influente. Dilma não pode ficar nem mais um minuto na Presidência. E a Justiça precisa agir no caso de Lula, que participou da mesma obstrução às investigações que levou à prisão do senador", disse Caiado.
Falsas acusações
Um dos principais defensores do governo Dilma, o deputado Wadih Damous (PT-RJ) acusou os parlamentares de oposição de distribuírem “calúnia” e “desonra”.
“É um festival de falsas acusações, de injúria, calúnia e difamação”, afirmou, acrescentando que as acusações trazidas pela revista, a quem chamou de “órgão de imprensa irresponsável”, são “levianas e mentirosas”.
Ele também rebateu as críticas do líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), que disse que haviam caído “por terra as negativas tanto de Dilma quanto de Lula de que nada sabiam sobre o que estava acontecendo”.
“Qual é a autoridade de quem pertence ao partido do [senador] Agripino Maia [DEM-RN] subir aqui e apontar o dedo para os outros?”, disse Damous. O presidente do DEM é um dos investigados na Operação Lava Jato.
O deputado Sílvio Costa (PTdoB-PE), vice-líder do governo na Câmara questionou a veracidade da reportagem. “Eu duvido alguém se atrever no Brasil a ter uma conversa desse tipo com a presidente Dilma”, afirmou sobre a acusação de que ela teria nomeado o ministro Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) para beneficiar presos da Lava Jato.
Bate-boca
Houve bate-boca no plenário quando o líder do PSOL, Ivan Valente (SP), disse que nem PT nem PSDB têm autoridade moral para criticar ou rebater a delação de Delcídio. Ele acusou o PSDB de ter feito um "acordão" na CPI da Petrobras do ano passado para que ninguém fosse indiciado.
Tucanos protestaram aos gritos dizendo que era mentira. O deputado Daniel Coelho (PSDB-PE) subiu à tribuna e desafiou o PSOL a provar pelas atas que o PSDB não defendeu indiciamento de ninguém.
"É mentira, é mentira. Vão buscar as atas da reunião para ver a posição do PSDB. O PSDB pediu o indiciamento de todos. O PSDB não participa de acordão com absolutamente ninguém", disse.
Seguinte a falar, o deputado Bohn Gass (PT-RS) cobrou do presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ) que pedisse aos colegas que se ativessem à pauta de votação, que trazia apenas recursos à aprovação de matérias nas comissões da Casa.
Cunha, porém, argumentou que não teria esse direito porque o regimento não permite isso. "Não cabe à presidência censurar a fala de ninguém", afirmou.
Mágoa e confissão
O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), disse que a notícia da delação de Delcídio não o preocupa pessoalmente. Ele apontou que a “mágoa” com o PT pode ter contribuído para a decisão do colega de colaborar com as investigações.
“Não sei se a delação é retaliação, mas o PT o abandonou quando ele foi preso, soltando aquela nota sem prestar solidariedade ao Delcídio. Isso influenciou na decisão do Senado pela manutenção da prisão. É natural que Delcídio esteja magoado”, disse Oliveira.
O relator da representação contra Delcídio no Conselho de Ética do Senado, Telmário Mota (PDT-RR), disse que, com a delação, o senador confessa culpa de envolvimento em irregularidades.
“Essa delação é uma autoafirmação de culpa do senador Delcídio. Com certeza os senadores do Conselho de Ética vão apresentar requerimento pedindo cópias dessa delação”, disse Mota.
“O processo no Conselho de Ética vai tramitar normalmente, dentro da legalidade. Delcídio terá direito a sua defesa se ainda quiser fazê-la. Agora delação é complicado, é só um lado falando, precisamos ouvir todos os lados envolvidos”, completou.