01/11/2012 21h08 - Atualizado em 05/11/2012 11h06

Lago de Furnas enfrenta pior seca em 10 anos, diz associação em MG

Segundo Alago, região levará cerca de 3 anos para se recuperar.
Abertura das comportas de Furnas reduziu ainda mais o nível.

Samantha SilvaDo G1 Sul de Minas

O Lago de Furnas, no Sul de Minas Gerais, vive seu pior período de seca em 10 anos. O nível da água está 11 metros abaixo do normal para esta época do ano. Produtores de peixes e empresários que vivem do entorno do lago enfrentam grandes dificuldades neste período prolongado de estiagem, com prejuízos que chegam a R$ 100 mil.

A abertura das comportas da Hidrelétrica de Furnas, determinada pelo Operador do Sistema Nacional (ONS), para a continuidade do fornecimento de energia elétrica, agravou o problema. Segundo a Alago (Associação dos Municípios do Lago de Furnas), a região levará cerca de três anos para se recuperar desta seca.

Prejuízos

“É a pior depressão do lago em 10 anos”, diz Fausto Costa, presidente da Alago. As áreas que enfrentam maiores prejuízos econômicos são o turismo e a pesca, que chegam a sofrer quedas de 50% na produção e perda de clientes que procuram a região para prática de piscicultura e esportes aquáticos. “A região investiu muito em turismo, hotéis, clubes náuticos e eventos esportivos, e isso afetou drasticamente a economia da região. Na pesca, alguns produtores estão com 40% dos tanques fora d’água”, afirmou Costa, se referindo à criação de peixes em tanques, muito comum no Lago de Furnas.

Lago de Furnas está 11 metros abaixo do normal, segundo Associação de Municípios (Foto: Cacilda Tavares / VC no G1)Lago de Furnas está 11 metros abaixo do normal, segundo Associação de Municípios (Foto: Cacilda Tavares / VC no G1)

O engenheiro agrônomo Francisco de Paula Vitor Alves, coordenador técnico da área de piscicultura da Emater –MG (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais), afirma que o rio está abaixando 20 centímetros por dia. Em Alfenas (MG), uma das principais cidades afetadas pela baixa do lago, de 150 produtores de peixe que trabalham no entorno do rio, 50% tiveram grandes prejuízos.

Segundo Alves, para não perder a produção, produtores estão vendendo os peixes fora do tamanho ideal ao preço de cerca R$ 3,00 o quilo. O valor normal de mercado seria de R$ 4,50 a R$ 5,00 o quilo. “Por problemas na oxigenação da água, uma produtora de Alfenas perdeu 30 toneladas de peixe em uma noite, há cerca de 10 dias atrás”, disse Alves. O prejuízo é de cerca de R$ 150 mil. “A situação é catastrófica para os produtores da região”, completou.

Outras cidades que foram muito prejudicadas com o baixo nível da represa são Varginha (MG), Três Pontas (MG), Carmo do Rio Claro (MG) e Areado (MG). “Quanto maior a altitude do local, pior é, pois o afastamento do lago é mais rápido”, explicou Costa.

Um dos fatos que agravou a redução do nível do lago, segundo Costa e Alves, foi a abertura das comportas da Hidrelétrica de Furnas, que liberou de uma vez uma grande quantidade de água. O representante da Emater reclama ainda que não houve nenhum tipo de aviso por parte da empresa, o que pegou os produtores de surpresa.

Segundo Alago, região deve levar três anos para se recuperar. (Foto: Cacilda Tavares / VC no G1)Segundo Alago, região deve levar três anos para se recuperar. (Foto: Cacilda Tavares / VC no G1)

Hidrelétricas

Segundo a assessoria de imprensa da Furnas Centrais Elétricas, a abertura das comportas foi determinada pela ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). Ainda segundo eles, a ação foi informada à Agência Nacional das Águas (ANA), que seria a responsável por informar a população do entorno. Por email, a assessoria da ANA negou que a responsabilidade seja da instituição, e sim que seria do operador do reservatório (de Furnas, no caso) que, geralmente, informa a Defesa Civil e prefeituras.

A Hidrelétrica de Furnas é uma das principais fontes de fornecimento de energia elétrica do Brasil, sendo responsável por cerca de 15% do abastecimento nacional de energia. O ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) determinou que as comportas da hidrelétrica de Furnas fossem abertas em meados de outubro. De acordo com assessoria de imprensa da organização, como os reservatórios de água das hidrelétricas se aproximaram de seus níveis mínimos de armazenamento, foi solicitado a abertura das comportas para manter o fornecimento de energia elétrica.

No total, 12 usinas hidrelétricas estão situadas abaixo da Hidrelétrica de Furnas: oito no Rio Grande e quatro no Rio Paraná, inclusive a Usina de Itaipu (PR). Todas elas dependem do fluxo de água que corre a partir de Furnas para continuarem funcionando. Além disso, de acordo com assessoria da ONS, todas as térmicas disponíveis na região, sendo elas nucleares, a carvão, gás, diesel e óleo combustível, estão em funcionamento para manter o fornecimento normal de energia elétrica neste período de estiagem prolongada.

Hidrelétrica de Furnas é responsável por 15% da geração de energia no país. (Foto: Divulgação)Hidrelétrica de Furnas é responsável por 15% da geração de energia no país. (Foto: Divulgação)

A Hidrelétrica de Furnas está funcionando com 29% da sua capacidade total. Os níveis atuais de reserva de água para fornecimento de energia elétrica no Sudeste estão em 37,4%, o que equivale a 9,2% acima do nível mínimo de armazenamento considerado seguro. Ainda segundo assessoria, não há riscos de apagão ou outros problemas que não possam ser controlados até o momento. Conforme o ONS, as comportas seriam fechadas nesta quinta (1º). No entanto, uma nova avaliação será feita na próxima semana para analisar a necessidade de abertura das comportas novamente.

Meio Ambiente

Segundo a Alago, a região poderá ainda enfrentar outros problemas com a seca prolongada em relação ao meio ambiente. De acordo com a associação, quando o nível da represa está baixo, o capim no entorno cresce excessivamente. Quando a água volta ao seu lugar, esse mato apodrece, o que diminui a oxigenação da água. Essa diminuição reduz a capacidade de depuração da água, dificultando o processo de limpeza natural do ambiente.

Ainda conforme a associação, na maioria dos municípios do Sul de Minas o esgoto ainda é despejado diretamente no lago ou em seus afluentes. Como sua capacidade de renovação das águas estará reduzida, o lago ficará mais sujo. Outro problema que pode ocorrer futuramente é quanto ao desenvolvimento e sobrevivência das várias espécies de peixes que vivem no lago.

“Tem que chover demais, em toda a região sudeste, para que possamos recuperar no primeiro trimestre do ano que vem, isso se recuperar”, afirmou Costa.
 

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