Copo térmico vale a pena?
Tomar uma cerveja ou qualquer drink gelado no calor é um desafio: beber logo e partir para a próxima lata ou ir mais devagar, com o risco de deixar o líquido quente?
E é aí que entram os copos térmicos, que se tornaram famosos na internet (e até alvo de memes) pela promessa de manter qualquer líquido bem geladinho por muito mais tempo que um copo convencional. Só que por um preço bem alto: custavam em torno de R$ 200 em meados de janeiro.
Outros guias:
As lojas oferecem copos grandes voltados para bebidas geladas e copos menores (ou canecas) com foco em líquidos quentes. Mas a verdade é que os dois tipos servem tanto para quente quanto para frio. E será que valem a pena?
O g1 experimentou seis modelos em usos comuns do dia a dia — não se trata de teste de laboratório. A metodologia foi validada por Marcelo Fernandes Vieira, professor do departamento de engenharia química da Universidade Estadual de Maringá.
Foram feitas medições com um termômetro de alimentos.
Os produtos avaliados foram:
Os copos térmicos foram avaliados com cerveja, refrigerante com gelo, água com gelo, chá, café e leite. Os líquidos frios foram tirados da geladeira no momento de serem colocados nos recipientes. E os quentes foram preparados na hora.
E um copo de vidro e uma caneca de cerâmica serviram como comparação com recipientes convencionais, tendo sido preenchidos com as mesma bebidas.
Veja abaixo o desempenho de cada modelo. E, ao fim do texto, saiba por que esses copos conseguem manter a temperatura por muito mais tempo e os motivos de eles serem tão caros.
Copo de Cerveja Coleman — Foto: g1
O copo de cerveja da Coleman, entre os três modelos avaliados, é o que tem o melhor acabamento. Nas lojas on-line, era vendido por R$ 200 no final de janeiro e tem garantia vitalícia.
É o único com uma base emborrachada e com um abridor de garrafas integrado a essa base. Desse modo, o copo fica mais firme na mesa e não risca a superfície. E é impossível perder o abridor.
A tampa tem uma lingueta móvel, que pode ser fechada para manter a temperatura fria por mais tempo e evitar derramamento de líquidos, no caso de alguém desastrado derrubar o copo.
Nos testes com as bebidas frias, o copo da Coleman teve um empate técnico com o da Kouda e o da Stanley, com as menores temperaturas.
Veja desempenho do copo térmico Coleman com bebidas geladas e compare com copo comum — Foto: Kayan Albertin/g1
Vale ressaltar que o o líquido ficou cada vez mais frio no teste do refrigerante: nos primeiros 5 minutos após ter sido servida, a bebida estava com 1,8°C. Mas, depois de uma hora, já não tinha mais gás, como aconteceu com todos os copos testados.
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Copo Kouda Don — Foto: g1
O copo Kouda Don tem um visual mais robusto por conta da pintura metálica com textura (chamada de Hammertone), sem abridor ou base emborrachada.
O produto custava R$ 190 nas lojas on-line no final de janeiro. A garantia é de 6 meses, e não vitalícia, como nos rivais.
A tampa também tem uma lingueta para fechar e evitar derramamento. Durante os testes, entrou algum tipo de sujeira (refrigerante/cerveja) no trilho que encaixa essa lingueta à tampa, e foi difícil de remover. Pelo design dos outros modelos testados, não parece que seria tão complicado se o mesmo acontecesse com eles.
A fabricante indica a limpeza com bicarbonato de sódio e sabão para remover a sujeira. E é a única das três marcas a vender tampas sobressalentes para seu copo.
Nos testes, o copo da Kouda teve resultados um pouco melhores que o da Coleman e da Stanley, mas todos muito próximos uns dos outros:
Veja desempenho do copo térmico Kouda com bebidas geladas e compare com um copo comum — Foto: Kayan Albertin/g1
O modelo foi um dos dois copos a atingir temperaturas abaixo de zero, junto com o Stanley, no teste de refrigerante com gelo. O líquido foi de -0,4°C no início, baixou para -1,2°C na primeira hora e assim se manteve até subir a -1,1ºC após 3 horas.
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Copo Stanley com Tampa — Foto: g1
O copo Stanley se tornou sinônimo de copo térmico com seu acabamento opaco em aço inoxidável e o desenho de um urso com coroa e asas. Além da sua onipresença em quadras de beach tennis...
No final de janeiro, nas lojas on-line, o copo Stanley com tampa custava R$ 230, em média. A fabricante oferece garantia vitalícia.
Ele é o único dos três copos testados sem uma lingueta para fechar a tampa. Sua saída de bebida tem uma grande abertura. Incautos podem tomar um banho de cerveja se não perceberem o tamanho da boca do copo.
Tem um abridor encaixado na tampa, que pode ser facilmente perdido – e não é vendido separadamente pela Stanley.
No geral, o desempenho do Stanley foi muito parecido com os concorrentes. As diferenças ficam entre 0,6°C a pouco mais de 1°C a mais que o Kouda ou o Coleman.
Veja desempenho do copo Stanley com bebidas geladas e compare com copo comum — Foto: Kayan Albertin/g1
Na primeira hora de refrigerante com gelo, o Stanley foi um dos que bateram temperatura abaixo de zero, junto ao Kouda: -0,9°C ou quase 1 grau a menos que o modelo da Coleman no mesmo teste (0,8°C). Na segunda hora, bateu -0,7°C.
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Caneca térmica Contigo — Foto: g1
A caneca Contigo (marca do mesmo grupo que produz o copo Coleman) tem um design simples, tampa com lingueta móvel e acabamento em aço inoxidável, com pintura em preto. Sua base é emborrachada.
Nas lojas on-line, custava em torno de R$ 190 no final de janeiro e tinha garantia vitalícia.
Nos testes com bebidas quentes, ela manteve a temperatura alta para os três líquidos.
Veja desempenho da caneca Contigo com bebidas quentes e compare com uma caneca comum — Foto: Kayan Albertin/g1
Os resultados foram muito similares aos da Kouda, para líquidos quentes, e em torno de 1°C a 3°C a mais que o Stanley Everyday.
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Caneca Kouda Helga — Foto: g1
A caneca Kouda Helga lembra uma versão reduzida e com alça do copo de cerveja, com um design básico e uma tampa com lingueta que evita derramamentos. É a mesma tampa do copo Don, da mesma marca.
A caneca custava R$ 180, em média, nas lojas on-line na última quinzena de janeiro.
Na avaliação com as bebidas quentes, o modelo apresentou quase os mesmos resultados da Contigo e da Stanley.
Veja como o copo Kouda Don se saiu com bebidas quentes frente a uma caneca comum — Foto: Kayan Albertin/g1
Como no copo para cerveja, a Kouda oferece garantia de seis meses na caneca térmica.
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Copo Everyday Stanley — Foto: g1
O único copo entre duas canecas para bebidas quentes, o Stanley Everyday segue o design do "irmão" maior e não tem uma lingueta para fechar a tampa removível.
Com garantia vitalícia da fabricante, era vendido na última semana de janeiro por R$ 200 nas lojas on-line.
E seu desempenho também foi similar ao do copo de cerveja, com diferenças entre 1°C e 3°C em comparação aos modelos da Contigo e Kouda.
Veja o desempenho do copo Everyday Stanley com bebidas quentes na comparação com caneca comum — Foto: Kayan Albertin/g1
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Conclusões
QUAL O MELHOR? Na prática, o resultado dos testes com os copos grandes é muito parecido. A bebida ficou gelada por mais tempo em todos, na comparação com recipientes comuns.
A escolha vai ser feita pelas funcionalidades adicionais – o da Coleman tem o abridor integrado e o pé emborrachado (que é um grande diferencial), o da Stanley tem o abridor na tampa (e que pode ser perdido após umas cervejas) e o da Kouda é o básico com cara de super-resistente e que deixa tudo um pouquinho mais gelado – mas bem pouco.
Nos copos menores, o resultado também foi muito similar e a principal diferença entre os modelos é a capacidade – maior no Contigo (414 ml) e Kouda (370 ml) e menor no Stanley (296 ml).
Por causa das alças, Contigo e Kouda Helga têm um design mais convencional, com jeito de que tem algo quente ali dentro. O copo da Stanley possui um visual mais moderno e multiuso.
VALE A PENA? Após algumas horas, as diferenças para o copo de vidro e a caneca beiraram os 20ºC, principalmente quando colocando gelo nas bebidas. Ou seja, foram gritantes.
É preciso considerar o que vai ser servido. Se for bebida com gás, não há vantagem em mantê-la por 3, 4 horas gelada no copo porque o gás acaba. É o caso da cerveja, que fez a fama desses modelos térmicos.
Os fabricantes dizem que seus copos térmicos deixam a bebida gelada por horas e horas. A Coleman fala que são 4h, a Kouda, por 6h e a Stanley, 4,5h. São valores de referência, como o do motor de um carro: pode ter até tal potência, mas não necessariamente você vai usar tudo que ele oferece.
SEM SUOR: outra vantagem de todos os copos térmicos testados é que, por terem uma camada dupla de aço em sua estrutura, não ficam suados como copos de vidro.
Isso ocorre por conta da troca de calor do vidro com o ambiente. Vieira faz um paralelo com o mundo do churrasco: “Ao colocar no fogo, a carne pode parecer torrada por fora, mas está mais crua por dentro. É assim que vemos que o calor não se conduziu até o centro”, diz o professor Marcelo Fernandes Vieira, da Universidade Estadual de Maringá.
Falando em churrasco, colocar um copo térmico perto da churrasqueira também não vai esquentar a bebida, para alegria do cozinheiro.
PARA QUE COPO MENOR? Apesar de os copos térmicos — assim como as garrafas térmicas — servirem para manter bebidas geladas ou quentes, os menores são indicados também para uso com bebidas frias, como vinho, caipirinha e uísque.
Em um teste à parte, com uísque, o gelo derreteu menos do que num copo de vidro – mas o suficiente para reagir com o líquido – e, depois de um tempo, a bebida ficou muito gelada (e forte).
SUPERFRIO: Com nove pedras de gelo em cada copo térmico grande, com água e refrigerante gelados, a temperatura baixou drasticamente, comparando a primeira medição com as demais.
Isso ocorre porque bebida e copo chegaram a um equilíbrio térmico e não estão perdendo calor para o ambiente. E ficaram até mais gelados conforme o tempo, para depois retomar a esquentar.
Exemplo do Kouda Don: começou com 0,4°C com refrigerante, foi para -1,2°C nas duas primeiras medições e terminou com -1,1°C. O mesmo fenômeno foi observado nos copos da Stanley e da Coleman.
A ciência explica
POR QUE FICA GELADO (OU QUENTE) POR MAIS TEMPO ? Os copos térmicos são construídos com duas camadas – uma interna e outra externa – produzidas em aço inoxidável. Durante a produção, uma máquina extrai o ar entre essas duas camadas, gerando um vácuo.
“O vácuo é o diferencial desses copos”, explica Marcelo Fernandes Vieira, professor de fenômenos de transporte no departamento de engenharia química da Universidade Estadual de Maringá.
“O princípio é o mesmo da garrafa térmica: tem um copo dentro de outro e algo entre eles que impede a troca de calor com o ambiente”, afirma o professor, que ajudou a validar a metodologia dos testes.
De qualquer forma, ainda existe uma troca de calor com o ambiente pelas tampas, feitas em plástico. O da Coleman e da Kouda até têm uma lingueta que fecha a tampa, mas no da Stanley o líquido fica um pouco exposto.
O tipo de aço usado no copo térmico também influencia, mas não muito, no resultado. As três marcas avaliadas usam o aço 18/8, comum em produtos de uso doméstico.
É CARO PORQUE...: Além de desfrutar da fama, o processo de fabricação entra na conta, segundo as empresas. O maquinário para produção da câmara de vácuo nos copos é inexistente no Brasil e todos os modelos são importados. "Ninguém tem esse tipo de máquina por aqui”, diz Yuri Lima, diretor da Kouda.
"Além do aço, tecnologias de ponta em solda garantem maior longevidade ao copo", completa Pedro Ipanema, vice-presidente de marketing da PMI, fabricante do copo Stanley.
Circunstâncias atuais também são citadas. “Lidamos ainda com a questão tributária no Brasil, que é muito alta para esse tipo de produto e, hoje, temos com uma crise no transporte marítimo, com falta de containers e frete mais caro. E o vácuo é caro de produzir”, finaliza João Fabiano Balbino, gerente de vendas da Coleman.
Como foram feitos os testes
Os copos térmicos foram enviados por empréstimo pelos fabricantes e serão devolvidos. Os grandes têm capacidade de 473 ml (Stanley), 500 ml (Kouda) e 600 ml (Coleman), respectivamente.
As canecas tinham 414 ml (Contigo), 370 ml (Kouda) e 296 ml (Stanley).
Um copo de vidro de 350 ml e uma caneca de cerâmica de 300 ml serviram como controle para comparação com recipientes comuns, conforme orientação do professor Marcelo Fernandes Vieira, da Universidade de Maringá.
Antes da realização dos testes frios, os três copos ficaram cinco minutos com água gelada, que foi descartada. Essa é uma recomendação geral dos fabricantes, mas que não precisa ser seguida à risca pelo consumidor.
Os copos térmicos e a unidade de controle foram preenchidos com a mesma quantidade de líquidos: cerveja gelada, refrigerante com pedras de gelo e água natural também com pedras de gelo.
Teste de copos térmicos: depois de um tempo, a cerveja já perdeu a espuma no copo de vidro — Foto: Henrique Martin/g1
Os testes foram simultâneos para os três copos térmicos de cada categoria e o copo/caneca de controle.
A temperatura de cada copo grande foi medida de hora em hora, por três horas, com um termômetro culinário digital do tipo espeto.
Para as canecas e copo para líquidos quentes, o processo foi repetido com chá com água fervida na hora, leite fervido e café coado na hora, por duas horas.
Medindo a temperatura dos copos / canecas com chá quente — Foto: Henrique Martin/g1
E fazer café ou chá em casa é diferente de pedir um drink quente em uma cafeteria. Entre ferver a água, passar o café e servir, a temperatura do líquido já caiu bastante.
Nos dias das avaliações, na penúltima e última semanas de janeiro, a temperatura local variou de 25°C a 31°C na cozinha transformada em bancada de testes.
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