Após quatro semestres de aulas remotas, por causa das altas taxas de transmissão de Covid-19 no Brasil, alunos que foram aprovados no vestibular em 2020 ou 2021 estão pisando pela primeira vez na faculdade só neste mês, com a retomada do ensino presencial.
Como é ser um veterano com cara de "bixo"? Por um lado, dá para conhecer os colegas e tirar dúvidas pessoalmente com os professores. Por outro, é preciso se readaptar à rotina de horários definidos e às aulas sem opção de gravação.
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Mais liberdade para tirar dúvidas
Alice mudou de cidade quando as aulas voltaram — Foto: Arquivo pessoal
Alice Camargo, de 18 anos, começou a estudar engenharia de produção na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) em 2021. Depois de dois semestres com aulas on-line, ela passou a ir pessoalmente à instituição de ensino -- e, desde então, sente-se mais à vontade para tirar dúvidas com os docentes.
"Eu entendo muito melhor a matéria agora. No on-line, ninguém abria a câmera, e eu ficava com vergonha de falar. Pesquisava no Google em vez de perguntar algo para o professor", diz.
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Desafio de mudar de cidade
"Foi uma correria para achar um apartamento. Saí de uma cidade muito pequena, de 10 mil habitantes, para ir a uma de meio milhão", diz. "É meio complicadinho no começo, principalmente por estar longe dos meus pais. Mas estou gostando bastante."
Maior sensação de pertencimento
Guilherme, aluno de medicina, conta quais as vantagens da volta do ensino presencial — Foto: Arquivo pessoal
Guilherme Mendes, de 28 anos, estuda medicina na Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, desde agosto de 2020.
Só agora ele está descobrindo "de quem eram aqueles rostinhos que apareciam pelas câmeras".
"Era uma experiência estranha, de passar na faculdade e não se sentir 'bixo', porque não ia para o campus, não saía para os eventos", conta.
"Desde quando voltei 100% para o presencial, passei a me sentir parte da instituição, finalmente realizando o sonho de fazer medicina."
Nada de pausar as aulas ou de escolher a hora de estudar
O ensino on-line permitia que os estudantes fizessem aula em qualquer lugar com internet -- até na própria cama (já que a maioria não costumava abrir a câmera mesmo). Quando não entendiam algum trecho da explicação do professor, acessavam a gravação depois e pausavam o vídeo.
No presencial, a alternativa é pedir para o docente repetir alguma frase que não tenha ficado clara. E não tem jeito: precisa estar na sala de aula (no frio ou no calor, no sono ou na preguiça).
"A comodidade do estudo on-line, que nos permitia pausar, acelerar, prosseguir ou retornar a determinado ponto dos vídeos, foi perdida. Agora, existe uma maior necessidade de [prestar] atenção", diz Raíssa Fontoura, de 21 anos, aluna de medicina da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
"Minha rotina também ficou mais rígida, principalmente quanto aos horários em que preciso estar na universidade."
Raíssa estuda na UFMS — Foto: Arquivo pessoal
Conhecer amigos (finalmente)
Para Alice, aluna de engenharia mencionada no início desta reportagem, o momento mais marcante da retomada do ensino presencial foi conhecer um colega com quem falava apenas pelas redes sociais.
"Eu e um amigo conversávamos só por Whatsapp, porque ele é de Curitiba, e eu, do interior de São Paulo. Nos vermos pessoalmente foi um momento muito esperado", afirma. "Não imaginei que ele fosse tão alto", brinca.
Isabela Nascimento, estudante de design na Universidade de São Paulo, também é uma "veterana com cara de bixete". Ela conta que, dependendo da turma, os alunos até tentaram se conhecer antes da volta do ensino presencial.
"Meus calouros, por exemplo, fizeram um piquenique durante as férias com a sala toda."
Fazer provas fora de casa
Acabou aquela história de fazer as provas em casa. Nayra Amorim, de 20 anos, está tentando reaprender a lidar com a pressão de ser avaliada presencialmente.
"Na EAD [educação à distância], os professores entendiam que as coisas estavam tão difíceis, aí, pegavam um pouco mais leve. Agora, estão botando para lascar. A média da turma até já caiu", conta.
Mas ela acredita que é uma questão de costume -- e que o lado positivo continua prevalecendo.
"Sempre quis fazer medicina, desde pequena. Só tive essa sensação de realizar meu sonho quando comecei nessa rotina de ir para laboratório e ver meus professores de jaleco."