05/09/2015 06h00 - Atualizado em 05/09/2015 06h00

Após ser alvo de racismo, escola luta para se chamar 'Nelson Mandela'

Equipe organizou abaixo-assinado para mobilizar autoridades.
Intenção é homenagear o líder africano e combater o preconceito.

Luiza TenenteDo G1, em São Paulo

Bloco do Maracatu caminhou pelo bairro do Limão, em São Paulo (Foto: Divulgação)Bloco do Maracatu caminhou pelo bairro do Limão, em São Paulo (Foto: Divulgação)

Alunos, pais e professores da Escola Municipal de Educação Infantil Guia Lopes, no Limão, Zona Norte de São Paulo, querem que o colégio passe a se chamar "Emei Nelson Mandela" - em vez de homenagear um brasileiro considerado, pelo Exécito, herói da Guerra do Paraguai. Nesta sexta-feira (4), o grupo circulou pelas ruas do bairro com um "Bloco de Maracatu" para divulgar a causa.

De acordo com o movimento, o objetivo de tirar o nome "Guia Lopes" e usar "Nelson Mandela" é reforçar um eixo importante da atividade da escola. A partir de 2011, quando foi incluída no currículo uma disciplina sobre a cultura dos negros, o muro do colégio passou a ser pichado com frases preconceituosas, como “Preserve a raça branca”.

Naquele ano, a equipe docente decidiu que precisaria dar atenção especial ao tema. “Em vez de nos desestimularmos com as pichações, ganhamos mais força para estudar como combater o preconceito com as nossas crianças”, afirma Cibele Racy, diretora da Emei Guia Lopes.

Grupo luta para mudar nome da escola para "Nelson Mandela" (Foto: Divulgação)Grupo luta para mudar nome da escola "Nelson Mandela" (Foto: Divulgação)

Para concretizar a mudança, Cibele organizou um abaixo-assinado, que já conta com mais de 11 mil apoiadores, com o título “Permitam que nossa escola se chame Nelson Mandela”. O projeto é apoiado pelos 340 alunos e por suas famílias, de acordo com a direção.

A diretora aponta que a comunidade da região, que já associa a escola à valorização da cultura afrobrasileira, também está contribuindo para a divulgação do documento.

Uma carta contando a história da escola foi encaminhada ao prefeito Fernando Haddad, ao secretário municipal de Educação de São Paulo, Gabriel Chalita, e ao secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo, Eduardo Suplicy.

Em agosto, o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Antônio Donato, apresentou projeto de lei sobre o tema. “Esperamos que o abaixo-assinado cresça e pressione as autoridades para aprovarem nosso pedido”, conta Cibele.

Nelson Mandela fala para uma multidão em um comício em Port Elizabeth, em fotografia de 1° de abril de 1990. (Foto: Juda Ngwenya/Reuters)Nelson Mandela fala para uma multidão em um
comício em Port Elizabeth, em fotografia de 1°
de abril de 1990. (Foto: Arquivo/Juda
Ngwenya/Reuters)

Importância de Mandela
Nas aulas de cultura africana, os alunos de 3 a 4 anos criaram personagens para ilustrar o que aprendiam. Inventaram um príncipe africano, chamado Azizi Abayomi, que se casa com uma brasileira e tem dois filhos. Azizi, para as crianças, é neto do líder Nelson Mendela, conhecido por elas como “vovô Madiba”.

Desde então, Mandela representa uma figura importante para os alunos da escola municipal. Em 2015, a Emei completa 60 anos – de alguma forma, o aniversário precisaria homenagear o o ex-presidente sul-africano.

“Percebemos que ninguém conhecia Guia Lopes, personagem da Guerra do Paraguai. Era uma figura distante da nossa realidade”, conta a diretora. A partir desses questionamentos, o conselho da escola percebeu que seria mais adequado se a EMEI levasse o nome de Mandela, tão querido pelas crianças.

Baixe o G1 Enem, jogo com perguntas, desafio e dicas em vídeo

 

veja também
Shopping
    busca de produtoscompare preços de