José Mauro Ferreira Coelho discursa como novo presidente da Petrobras — Foto: André Ribeiro / Agência Petrobras
José Mauro Ferreira Coelho tomou posse nesta quinta-feira (14) como novo presidente da Petrobras. O executivo cumpre mandato de um ano e ocupa o lugar do general Joaquim Silva e Luna, que foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro em meio aos reajustes dos preços dos combustíveis.
José Mauro Ferreira Coelho toma posse como presidente da Petrobras
Ferreira Coelho não endereçou diretamente a questão da política de preços da Petrobras, mas sinalizou que pretende manter o "modelo de gestão" adotado desde 2017 com melhorias na "comunicação da empresa" sobre suas ações.
"Em 2014, a dívida bruta da Petrobras era de US$ 160 bilhões, uma das maiores do mundo corporativo. Hoje, com o novo modelo de gestão da empresa, é de menos de US$ 60 bilhões. A gestão da dívida abre espaço para que façamos investimentos", disse.
SAIBA MAIS
A menção de Coelho à redução da dívida, contudo, está vinculada à política de preços. Ainda na gestão de Pedro Parente, a empresa adotou o preço de paridade de importação (PPI) para definir o preço da gasolina e diesel nas refinarias. O PPI é orientado pelas flutuações do preço do barril de petróleo no mercado internacional e pelo câmbio.
Com o dólar em patamares elevados e o valor crescente das commodities desde o ano passado, essa tem sido a principal injeção de alta no preço dos combustíveis no Brasil. Os seguidos reajustes, apesar de auxiliarem o caixa da empresa, foram as principais motivações para a troca de Silva e Luna e de seu antecessor, o economista Roberto Castello Branco. (Relembre as trocas abaixo)
"É uma gestão que valorizará o aperfeiçoamento da comunicação, principalmente o aperfeiçoamento da comunicação externa. Buscaremos maior interação com a sociedade, temos que entender a importância que essa empresa tem para o brasileiro e muitas vezes não conseguimos ter uma comunicação que chegue de forma palatável ao povo brasileiro", disse Coelho.
Como havia reportado o blog da Ana Flor, a troca no comando da Petrobras se deu porque o presidente Jair Bolsonaro e auxiliares próximos chegaram à conclusão de que a empresa estava se comunicando mal e que isso respingava na imagem do governo, em especial quando o assunto era alta dos combustíveis.
Apesar de ter escolhido o general Joaquim Silva e Luna há pouco mais de um ano para comandar a estatal, Bolsonaro foi convencido por aliados que a atuação da empresa havia virado um problema para a tentativa de reeleição.
Marcio Weber, Bento Albuquerque, Rodolfo Saboia e José Mauro Ferreira Coelho, durante a cerimônia de posse do novo presidente da Petrobras — Foto: André Ribeiro / Agência Petrobras
Desinvestimentos
Em seu discurso, Coelho ressaltou que seus obejtivos na gestão da Petrobras serão norteados por "eficiência" e "competitividade", mantendo a prioridade na exploração de petróleo enquanto faz desinvestimentos em atividades paralelas, como o refino. Ele afirma que a produção deve ser ampliada em 500 mil barris por dia.
"Trabalharemos com aderência ao nosso plano estratégico, o plano 2022-2026. Nesse sentido, continuaremos maximizando o valor do nosso portfólio, com foco em ativos de águas profundas e ultraprofundas. E priorizando os investimentos de exploração e produção na importante província do pré-sal", disse.
Coelho afirmou ainda que os desinvestimentos em campos maduros continuarão, para que empresas com "porte adequado e experiência nesse tipo de ativos" possam dar continuidade à produção e gerar ganhos de abertura de mercado de petróleo e gás natural. "A Bacia de Campos permanece estratégica para a Petrobras", afirma.
"Seguimos comprometidos com a melhor alocação do capital, maximizando a geração de valor da empresa. (...) Essa Petrobras, mais forte e mais valorizada, traz maior retorno para o seu acionista e para a sociedade brasileira", prosseguiu Coelho.
"São mais dividendos pagos à União, mais participações governamentais, como os royalites, e mais tributos pagos a estados e municípios, (...) que levam a uma maior arrecadação desses entes federativos e a maiores investimentos em benefício do cidadão brasileiro, gerando mais emprego e mais renda".
Ao agradecer ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, Coelho se emocionou e embargou a voz. "Obrigado pela amizade, pela confiança e por levar ao presente Bolsonaro o meu nome para presidir a empresa", disse.
Quem é o novo presidente da Petrobras
José Mauro Ferreira Coelho em audiência na Comissão de Meio Ambiente do Senado em outubro de 2019 — Foto: Jefferson Rudy / Agência Senado
Ferreira Coelho foi presidente do conselho de administração da Pré-Sal Petróleo (PPSA) e ocupou o cargo de secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia até outubro do ano passado. Antes, trabalhou por 12 anos na Empresa de Pesquisa Energética (EPE), estatal do governo responsável pelo planejamento do setor elétrico.
A assembleia também aprovou Márcio Andrade Weber como presidente do novo Conselho. Weber é engenheiro civil formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com especialização em engenharia de petróleo.
Na terça-feira (12), o Comitê de Pessoas da Petrobras recomendou a aprovação do nome de Coelho para o Conselho. Na quarta (13), a indicação do executivo foi aprovada na assembleia geral de acionistas, e, nesta quinta-feira (14), ele foi eleito presidente da empresa.
O estatuto da empresa prevê que o presidente precisa, primeiro, ser membro do Conselho de Administração, para depois ser eleito para o comando da empresa.
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Política de preços
É a segunda vez que Bolsonaro mexe na presidência da empresa por insatisfação com a política de preços para os combustíveis. Silva e Luna havia substituído o economista Roberto Castello Branco, que também sofreu pressão do governo federal por conta dos reajustes do diesel e da gasolina.
Desde 2016, ainda na gestão de Pedro Parente, a Petrobras adotou o preço de paridade de importação (PPI) para definir o preço da gasolina e diesel nas refinarias. O PPI é orientado pelas flutuações do preço do barril de petróleo no mercado internacional e pelo câmbio.
A alta dos preços do petróleo no mercado internacional e o real ainda em patamares relevantes de desvalorização em relação ao dólar fizeram dos combustíveis motores importantes da inflação brasileira. De olho na reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) criticou por diversas vezes a operação e o lucro da Petrobras.
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Silva e Luna
O governo anunciou no fim de março que substituiria o general da reserva Joaquim Silva e Luna em meio às insatisfações do presidente Jair Bolsonaro com a política de preços da Petrobras.
Inicialmente, o governo tinha indicado o economista Adriano Pires para a presidência da Petrobras e o empresário Rodolfo Landim para o comando do conselho.
No entanto, ambos desistiram do convite após vir à tona que seus nomes poderiam ser reprovados pelo comitê de pessoas, pois eles possuem ligação com empresas que se relacionam diretamente com a Petrobras, o que poderia configurar eventual conflito de interesses.
Todos os nomes indicados para o alto escalão da companhia passam por uma avaliação interna. O objetivo é saber se eles preenchem os requisitos técnicos e de integridade para a função. A prática foi adotada após escândalos de corrupção na empresa.
Sendo assim, o governo indicou Marcio Andrade Weber para a presidência do conselho e José Mauro Coelho para o comando da estatal.
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Atribuições
Segundo a Petrobras, o seu conselho de administração é composto por, no mínimo, sete e, no máximo, onze membros, eleitos em Assembleia Geral de Acionistas para um mandato de até dois anos, admitidas no máximo três reeleições consecutivas.
Cabe ao Conselho de Administração, entre outras funções:
- definir missão, objetivos estratégicos e diretrizes da Petrobras;
- aprovar o plano estratégico e os planos plurianuais;
- fixar as políticas globais da Companhia, incluindo a de gestão estratégica comercial, financeira, de riscos, de investimentos, de meio ambiente, de divulgação de informações, de distribuição de dividendos, de transações com partes relacionadas, de porta-vozes, de recursos humanos e de participações minoritárias;
- fiscalizar a gestão da Diretoria Executiva;
- avaliar, anualmente, resultados de desempenho, individual e coletivo, dos administradores da estatal; e
- aprovar a transferência da titularidade de ativos da companhia.
Ao presidente da companhia, cabe gerir a empresa conforme as políticas aprovadas pelo Conselho de Administração.