Em um cenário econômico marcado pela forte recessão, apesar de a inflação continuar pressionada, o Comitê de Política Monetária (Copom), responsável por fixar os juros básicos da economia brasileira, se reúne nesta quarta-feira (2) e deve manter a taxa Selic estável em 14,25% ao ano, segundo previsão do mercado financeiro.
Se confirmada, essa será a quinta reunião seguida do comitê sem alteração da taxa básica de juros. Mesmo assim, a Selic continuará no maior patamar desde julho de 2006, ou seja, em quase dez anos. Em termos reais (descontada a inflação prevista para os próximos 12 meses), os juros brasileiros continuariam entre os mais altos do planeta.
A percepção dos analistas de que a taxa será mantida tem por base indicações do próprio BC. Em seu último encontro, em janeiro, o Copom decidiu não subir os juros por conta de preocupações com o cenário de desaceleração da economia mundial e sua repercussão no Brasil.
Mais recentemente, indicou que também não deve baixá-los, consolidando o entendimento de que a Selic deve ficar estável no começo de março.
Metas de inflação
O Banco Central tem informado que busca 'circunscrever" a inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), à meta deste ano, ou seja, abaixo do teto de 6,5%, e também que quer trazer o índice para a meta central de 4,5% em 2017.
Entretanto, o mercado financeiro não acredita que isso será possível. Para este ano, a previsão dos economistas é de um IPCA de 7,57%, estourando novamente a meta de inflação, e, para 2017, a estimativa do mercado é de 6% - no limite autorizado pelo Conselho Monetário Nacional.
Recessão e inflação alta
O cenário atual é considerado desafiador por economistas, com a forte contração do nível de atividade - a expectativa é de que o PIB tenha registrado em 2015 o maior recuo em 25 anos. Além disso, o desemprego aumenta e, ao mesmo tempo, a inflação continua pressionada e atinge níveis historicamente elevados. Em doze meses até janeiro, o IPCA acumula uma alta 10,71%.
Para o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, a inflação deve somar cerca de 8% em 2016 e ficará um pouco abaixo de 7% em 2017. Com isso, ele prevê estouro da meta de inflação neste ano e no próximo, assim como já aconteceu em 2015.
"Os preços administrados [como energia e tarifas públicas] não têm dado moleza. Os preços dos alimentos ainda pesam e também tem a inércia da inflação, a indexação", explicou.
Em sua visão, o BC está certo ao não subir os juros. "O BC não está de mãos atadas. Ele está enxergando a inflação desacelerando. Tem que esperar mais uns dois meses para ver se consolida essa desaceleração", avaliou Lima Gonçalves.
Essa visão, porém, não é unanimidade entre os economistas. Há divergências dentro do próprio Comitê de Política Monetária do BC. Na última reunião do Copom, em janeiro, quando os juros foram mantidos em 14,25% ao ano, dois diretores da instituição queriam um aumento da taxa básica para 14,75% ao ano. Eles argumentaram que seria importante "reduzir os riscos de não cumprimento dos objetivos do regime de metas para a inflação e reforçar o processo de ancoragem das expectativas inflacionárias".
Empresários e trabalhadores
O setor produtivo, representado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), se posicionou contra um novo aumento dos juros e representantes dos trabalhadores voltaram a pedir redução da taxa Selic.
"O BC foi correto em não elevar os juros [em janeiro], o que agravaria o quadro recessivo e teria o impacto de deteriorar ainda mais as contas públicas [com pagamento mais alto de juros], sem beneficio maior sobre a inflação", disse o economista da CNI Flavio Castelo Branco.
As centrais sindicais, por sua vez, fizeram novo ato nesta semana contra os juros altos, distribuindo bananas para a população. O argumento foi que "aumentar a taxa de juros é dar banana ao emprego".
"Hoje no Brasil não tem investimento, tem especulação. E isso não gera emprego (...) Temos feito nossa parte de traçar estratégias para que o país saia da crise, mas com os juros altos não dá”, declarou Miguel Torres, vice-presidente da Força Sindical.