29/09/2015 10h14 - Atualizado em 29/09/2015 14h55

Ajuste fiscal abre espaço para a queda dos juros, diz ministro

País vai enfrentar 'possível turbulência' com alta dos juros dos EUA, disse.
Ministro falou sobre risco de procurar 'soluções fáceis' para a crise.

Anay CuryDo G1, em São Paulo

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou nesta terça-feira (29) que o ajuste fiscal deve permitir a queda dos juros. No que chamou de “novo ciclo de desenvolvimento”, Levy reiterou que as medidas tomadas pelo governo vão fazer com que o Brasil cresça de forma contínua, sem “voo de galinha”.

“Nós vamos trabalhar juntos para esse ‘plano do 1,2,3’: ajuste fiscal abre espaço para os juros poderem cair naturalmente. Aí, também se trabalha para se ter mais flexibilidade para a pessoa poder investir com mais segurança. Aí o Brasil vai crescer, sem voo de galinha. É um projeto, como disse a presidente [Dilma Rousseff], um novo ciclo de desenvolvimento”, disse o ministro, que participou de um evento em São Paulo nesta manhã.

"A consequência de a gente acertar o fiscal é muito simples. Na hora que esse risco é retirado, a economia relaxa. Todo mundo quer ver a taxa de juros caindo. Não há dúvida nenhuma que, enquanto a gente não acertar o fiscal, é muito difícil a taxa de juros cair. Pode se inventar a teoria que for", afirmou Levy.

'Soluções fáceis'
Na tentativa de "pôr a casa em ordem", o maior risco é a procura por soluções fáceis, afirmou o ministro da Fazenda. Para ele, as estratégias de recuperação da economia brasileira têm de passar pelo aumento das receitas e pelo corte dos gastos.

“A gente tem dificuldades, incertezas, mas acho que o maior risco que talvez a gente tenha é a procura de soluções fáceis. É a procura de que a mudança de uma peça aqui e acolá vai resolver tudo, quando há problemas que são objetivos", afirmou Levy.

Todo mundo quer ver a taxa de juros caindo. Não há dúvida nenhuma que, enquanto a gente não acertar o fiscal, é muito difícil a taxa de juros cair"
Joaquim Levy, ministro da Fazenda

Reequilíbrio
Em recentes declarações, o ministro da Fazenda disse que a economia já estava se reequilibrando e que a recuperação do país dependia de fatores "não necessariamente" de ordem econômica. Nesta terça, ele voltou a demonstrar confiança de que o país sairá da crise.

"A economia brasileira é extremante flexível e só está esperando a sinalização de que a turbulência acabou para retomar seus investimentos. E na medida em que junto com essa diminuição da turbulência, também os juros lá na frente vão poder cair, você rapidamente reanima a economia, rapidamente a demanda volta, rapidamente o crédito vai responder.”

Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, após participar de seminário no dia 22 de setembro.  (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, após participar de seminário no dia 22 de setembro. (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)

Insistindo na necessidade de foco do governo na questão fiscal, Levy afirmou que é preciso convencer a sociedade, os empresários e o Congresso para resolver isso. "Resolvido isso, o primeiro fruto vai ser a gente rapidamente ver as expectativas de inflação convergirem para a meta, como elas vinham convergindo até recentemente. Vamos ver o crédito poder voltar a crescer normalmente, em condições saudáveis e com menos aperto monetário.”

Retomada essa recuperação vislumbrada pelo ministro, o país terá de estar preparado para enfrentar um possível problema de oferta. "As medidas tomadas no início do ano já estão dando resultado. Muitas empresas vão voltar a comprar de empresas domésticas. Mas se as empresas não tiverem capacidade para responder, haverá aumento de preço. Para elas responderem, é importante que a situação fiscal, a confiança de que esse ciclo de desenvolvimento é equilibrado. Essa é a estratégia do governo, com a maior simplicidade do mundo."

As medidas tomadas no início do ano já estão dando resultado. Muitas empresas vão voltar a comprar de empresas domésticas. Mas se as empresas não tiverem capacidade para responder, haverá aumento de preço"
Joaquim Levy

Sobre os vetos da presidente Dilma Rousseff, que deverão ser analisados pelo Congresso nesta semana, Levy disse que o governo tem encontrado apoio da Casa.

"Estamos enfrentando a questão fiscal do curto prazo com enorme esforço do governo para garantir os vetos. Há uma série de medidas que foram tomadas que têm um impacto de R$ 60 bilhões – duas CPMFs – que foram votadas pelas mais diversas razões e que a presidente tomou a iniciativa, a coragem de vetar. E agora estão juntando todos os esforços e temos encontrado apoio no Congresso para vetar essas medidas que custariam duas CPMFs."

Juros nos Estados Unidos
Segundo o ministro, o país ainda vai enfrentar "uma possível turbulência" por conta da esperada alta de juros nos Estados Unidos, que deve acontecer ainda neste ano.

"Eles estão sendo extremamente cautelosos nesse avanço. A gente tem que estar preparado. O governo desde o começo do ano tem procurado se preparar para isso. Talvez com erros, com acertos, mas é muito claro isso", afirmou.

Previdência e Petrobras
Sobre a reforma da Previdência Social, uma das medidas de ajuste mais delicadas que o governo propõe, Levy afirmou que as possíveis mudanças não visam tirar direito de ninguém. "É uma reforma para aumentar o crescimento, uma reforma para aumentar a capacidade de trabalho desse país, criar emprego. É isso que a gente está fazendo, e o governo está consciente, trabalhando."

Enquanto o ministro apontava os desafios a serem enfrentados pelo país, ele falou sobre a Petrobras e o esforço que a companhia tem feito, em suas palavras, para se reformular e voltar a ser uma empresa "valorizada" pelos brasileiros.

"A Petrobras é uma companhia que está se reformulando, tomando todas as medidas que ela têm [que tomar]... E que tem força extraordinária. É logico que a companhia é do governo, com os apanágios de uma companhia do governo, mas ela está tomando as medidas, com gestão, com cortes de despesas, com desinvestimento, com realismo para ser a companhia que todos nós temos orgulho", afirmou.

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