A informação mais importante em um texto sobre as Ilhas Maldivas é a de que sim, o destino é realmente tudo aquilo que aparece nas redes sociais. A água é daquela cor mesmo, de um azul escandaloso e translúcido, ela é de fato quase quente, e praticamente não há ondas. A maioria dos hotéis é exatamente como nas fotos, e as pessoas são de uma cordialidade quase constrangedora.
O que o Instagram não mostra, no entanto, é que as Maldivas são, sim, ostentação, influencers e romance, mas não só isso. O arquipélago no oceano Índico, ao sul da Ásia e a sudoeste da Índia, vai muito além da cenografia ao oferecer contato extremo com a natureza –dá para nadar com tubarões em mar aberto– e diversão não só para casais, mas também para famílias.
O único defeito das Maldivas é o preço. No caso dos brasileiros, que precisam cruzar o globo em no mínimo dois aviões e um barco para chegar até lá, a parte aérea responde por um gasto de a partir de R$ 8.000 na baixa temporada (a navegação costuma estar incluída no valor dos hotéis).
Uma vez lá, é hora de desembolsar pelas diárias que, se a ideia é desfrutar do conforto que aparece nas mídias sociais, não sairão por menos de R$ 2.000, também em época de pouca demanda –na alta, as acomodações mais luxuosas podem ultrapassar os R$ 20 mil por noite.
De resto, é abraçar o desbunde. Já pela janela do (segundo) avião, ao avistar os atóis e recifes, o turista experimenta uma sensação onírica que vai acompanhá-lo até o check-out. Parece mentira, mas as Maldivas existem e podemos provar.
O arquipélago é formado por mais de mil ilhas –cerca de 200 são habitadas– e um dos diferenciais do destino é que, em sua grande maioria, cada uma das ilhas abriga apenas um complexo hoteleiro.
Por isso, o embarque no aeroporto brasileiro antecipa uma etapa que, no geral, acontece apenas na imigração de outros países: o turista precisa informar à companhia aérea o nome de seu hotel, o número da reserva e por qual período ficará nas Maldivas.
É um destino para ao menos quatro noites, por mais que a calmaria generalizada dê a impressão de que não há nada a fazer além de relaxar —e até há, só é difícil abrir mão da "dolce vita" que o lugar viabiliza. Nas Maldivas, 90% do tempo são gastos no hotel escolhido, então é importante que essa decisão seja bem tomada.
Um dos complexos mais exclusivos do país é o Naladhu Private Island Resort, a cerca de 40 minutos de lancha da capital Malé. Enquanto outros hotéis contam com um número de habitações que parte de 60 e pode chegar a até 150, neste há apenas 20 quartos —as "villas", no caso.
São como verdadeiras casas, construídas na areia e não sobre as águas, como se vê nas imagens clássicas do arquipélago. As mais básicas, com diárias a partir de US$ 1.200 (R$ 6.360) ficam viradas para o mar aberto.
Pela manhã, com a maré baixa, todos os corais e cardumes estão à mostra para contemplação —não é possível acessar a água pela villa. Com o oceano cheio, no fim de tarde, o som das marolas quebrando toma conta de tudo.
São 300 m2, sala de banho com banheira, chuveiro e sauna, e piscina de borda infinita com 8 m2. Há um gazebo e varanda com balanço em torno da construção. Uma ducha ao ar livre, sobre um espelho d'água, reforça a ideia de integração completa com a natureza.
A segunda categoria de villa é idêntica, e tem diárias que começam em US$ 1.500 (R$ 7.950) e o diferencial de oferecer acesso direto ao mar em sua apresentação típica das Maldivas: uma lagoa transparente e calma. Do jardim da casa até a água quentinha, o hóspede precisa dar exaustivos 50 passos. Quando voltar ao quarto, encontrará travessas cheias de frutas frescas e chocolates finos.
Tudo obra do mordomo destacado para pajear cada villa 24 horas por dia. "Há famílias que pedem ovo frito às duas da manhã, e estamos sempre felizes em poder atendê-las", conta Aslam, que ocupa o posto junto de outra dezena de colegas no Naladhu.
Além dos milhares de anônimos, Aslam já cuidou também de famílias reais, atrizes e jogadores de futebol, que costumam dar preferência à única residência de dois quartos do complexo, com 600 m2, piscina de borda infinita de 12 m2, cozinha, dois andares e praia privativa —uma noite ali sai por US$ 5.000 (R$ 26.500).
Além de seu caráter exclusivo, o Naladhu também se diferencia por mimos como o suntuoso café da manhã servido a qualquer hora no restaurante. A gastronomia contemporânea e fresca, aliás, só é possível por causa de um sistema de abastecimento que conta com perecíveis vindos uma vez por semana da Austrália, Dubai, Tailândia e Europa.
Todo o lixo produzido no hotel é transportado para uma ilha de apoio, a Marina, onde é separado e organizado para seu descarte final. O complexo recicla todo tipo de papelão, metal, vidro e plástico que circula em suas dependências. Parte dos resíduos orgânicos vira adubo para a horta.
Usando o "Uber" local —um barco motorizado para águas rasas com piloto à disposição— os hóspedes do Naladhu têm livre acesso às instalações dos outros hotéis da rede Minor: Anantara Veli, voltado apenas a adultos, e Anantara Dhigu, com perfil familiar e cara de resort da costa nordestina brasileira —as diárias ali começam em US$ 1.358 (R$ 7.197).
Crianças aproveitam especialmente as noites de cinema ao ar livre e quadras de esporte e brinquedos, bem como as bicicletas incluídas na diária de todas as villas, que servem para transporte e recreação.
Aos que embarcam sem filhos e com sede de romance, as Maldivas estão afiadas para mostrar sua mais famosa vocação. De balanços sobre as águas a spas com massagem a dois, os hotéis disponibilizam atividades que caem bem em qualquer postagem sentimental de Instagram.
No próprio Naladhu dá para jantar à luz de velas na areia da praia, receber um café da manhã flutuante na piscina privativa, e até se casar em uma cerimônia (sem validade legal) de frente para o mar. O desenlace sai por cerca de US$ 5.600, ou quase R$ 30 mil.
Todos os hotéis nas ilhas oferecem passeios. Dá para curtir desde um humilde caiaque até brincar de família Roy, da série "Succession", navegando em um imenso iate. Para vivenciar a natureza local, o programa mais legal é o nado com tubarões, que custa cerca de US$ 400 por cabeça.
Saindo do Brasil, o trajeto usual às Maldivas faz escala em Doha, no Qatar. Quando levanta de Guarulhos (SP), o primeiro voo leva cerca de 14 horas, e o segundo, seis. É importante checar o tempo que se tem entre um avião e outro —por ser imenso, o aeroporto de Doha exige longos deslocamentos internos do viajante.
Vale também prestar atenção às exigências da imigração local, como o preenchimento de um formulário que pode ser baixado com antecedência, com a orientação das companhias aéreas, ou no próprio saguão do aeroporto em Malé. Quem chega sem ele ao guichê é enviado sem piedade ao final da fila.
É preciso apresentar certificado de vacinação válido contra a febre amarela se o destino de origem for um país com potencial de transmissão da doença —caso dos brasileiros, por exemplo, que estão entre as cinco principais nacionalidades que ocupam os grandes resorts nas Maldivas, de acordo com Giles Selves, gerente geral de divisão no Naladhu Private Island, Anantara Dhigu e Anantara Veli.
Além deles, encabeçam a lista turistas da Rússia, Reino Unido, Estados Unidos e Emirados Árabes.
"Os russos são os que mais gastam, e vêm com frequência porque estão relativamente perto", conta o mordomo Aslam. "Há famílias que vêm para passar o mês inteiro, às vezes indo à Rússia só para uma reunião e voltando logo em seguida."
Veligandu Huraa, South Male Atoll 20109, Maldivas. Diárias a partir de US$ 1.200.
South Male Atoll 20109, Maldivas. Diárias a partir de US$ 1.358.
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