Maioria das candidatas mulheres é solteira e divorciada; casados predominam entre homens

Para especialista, disparidade é reflexo do machismo e da divisão desigual do trabalho doméstico

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São Paulo

Mais da metade das mulheres candidatas nas eleições municipais deste ano não é casada. Segundo dados disponibilizados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), 58% das candidatas (a vereadora ou a prefeita) são solteiras, divorciadas ou viúvas. Entre os homens o número praticamente se inverte, 55% se declaram casados.

Neste ano, 42% das candidatas mulheres se declararam casadas. Percentual menor do que nas eleições municipais de 2000, quando 57% se afirmavam o mesmo. Entre os homens, apesar de a maioria seguir casada, também houve queda. Em 2000, o índice era de 72% entre eles.

Eleitora em seção eleitoral na região central de São Paulo, em 2020 - Rivaldo Gomes - 29.nov.20/Folhapress

Para Beatriz Sanches, professora da USP, a diferença na quantidade de homens e mulheres casados entre os candidatos se deve à divisão sexual do trabalho.

"O casamento para os homens faz com que alguém dê conta desse trabalho doméstico. Enquanto para as mulheres tem o efeito oposto, já que além de ter a atividade pública na política institucional, elas têm que combinar essa atuação dentro do espaço privado, com os filhos, com o próprio marido, com a própria casa. Então, isso acaba sendo um fardo maior", diz.

Sanches ressalta que essa divisão pode se acumular com outras variáveis, como raça e classe social, significando que, enquanto mulheres brancas e ricas podem ter mais facilidade para sair dessa lógica e serem candidatas, a realidade tende a ser mais difícil para pretas e pobres.

O aumento da participação de mulheres não casadas na política aconteceu ao mesmo tempo em que a participação feminina como um todo também crescia.

Em 2000, cerca de 73 mil mulheres, 18% do total de candidatos, podiam ser votadas para prefeita ou vereadora. Em 2024, o número dobrou: 156 mil mulheres serão candidatas em outubro, 34% do total.

De acordo com dados do TSE, 42% das candidatas neste ano se declaram como casadas, 42% como solteiras, 12% como divorciadas, 4% como viúvas e 1% como separadas judicialmente. Quando se analisa por cargo, no entanto, as diferenças se acentuam.

56% das candidatas a prefeita são casadas, contra apenas 41% das postulantes ao cargo de vereadora. Entre os homens 69% dos candidatos a prefeito são casados, valor que fica em 54% entre os aspirantes a vereador.

Para Sanches, a diferença entre as candidaturas pode estar ligada à renda.

"Fazer campanha para prefeitura, é muito mais caro do que fazer campanha para vereadora. Por isso mulheres casadas da elite não têm no casamento uma barreira tão significativa. Para as vereadoras, a tendência é que sejam de camadas mais médias e populares, especialmente em municípios pequenos".

A professora ressalta, no entanto, que a pressão machista do casamento também impacta os homens, que podem se ver obrigados a estar em um casamento apenas para ganhar votos.

Outro aspecto da participação feminina nas eleições é a quantidade de candidatas viúvas, quase quatro vezes maior que a porcentagem de viúvos. Sanches relaciona isso não só ao fato de que, com o fim do casamento essas mulheres passam a considerar outras possibilidades de atuação, mas também ao capital familiar.

"Essas mulheres, sendo esposas, filhas, e até mães, às vezes, trazem pessoas que já fazem parte de famílias políticas. Mas o capital familiar vale também para os homens, que trazem muitas vezes também o nome do pai e não sofrem tanta cobrança".

Para ela, pesa sobre o número de viúvos candidatos também o fato de que é raro que homens carreguem o capital político de alguma mulher, seja mãe ou esposa, por exemplo.

"A mulher, mesmo que seja eleita, até bem eleita, bem quista pela população, eu não vejo nenhum filho, nenhum marido sucedendo ela, trazendo o nome dela".

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