O governo do presidente Lula (PT) tirou a Polícia Federal do desfile cívico do 7 de Setembro. A instituição costumava participar, mas foi comunicada pela Presidência que não fará parte da cerimônia deste ano.
O diretor-geral da PF, Andrei Passos, enviou um ofício para as superintendências nos estados comunicando a decisão. O documento, contudo, diz que não há objeção à participação dos dirigentes das unidades nos estados, caso sejam convidados.
O desfile do 7 de Setembro, politizado e celebrado com tom golpista e de ameaça nos últimos anos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), está sendo remodelado pelo Palácio do Planalto.
De acordo com auxiliares palacianos, a PF não será a única que deixará de participar do desfile em si. A ideia é fazer uma cerimônia mais enxuta do que nos anos anteriores.
A saída do desfile também se dá em um momento em que a PF faz movimentos para se afastar e se contrapor aos militares. A cúpula da corporação, por exemplo, trava uma disputa com o GSI (Gabinete de Segurança Institucional), comandado por militares, pela segurança de Lula.
Desde que assumiu o comando da PF, o delegado Andrei Rodrigues também ordenou a reformulação do ensino na ANP (Academia Nacional de Polícia) para deixar a formação menos militarizada. A nova diretora da academia, em entrevista à Folha, disse que a mudança é uma forma de atrair mais mulheres para a PF.
"Será que as mulheres não se interessam pela polícia porque a forma como a polícia é apresentada já faz com que ela tenha uma restrição? Quando mostro, eu crio no imaginário social que a polícia é algo mais militarizado?", disse.
Neste ano, também haverá um reforço na segurança em Brasília, por parte do Governo do Distrito Federal. À Folha o governador Ibaneis Rocha (MDB) disse ter feito a solicitação ao seu secretário, Sandro Avelar.
Não há sinais de mobilizações de grupos bolsonaristas ou antagônicos a Lula, mas a decisão é de prevenir para evitar uma eventual reedição de 8 de janeiro, quando golpistas invadiram e depredaram a sede dos três Poderes.
Os desfiles de anos anteriores foram capturados por bolsonaristas e tiveram teor golpista e eleitoral. Em 2021, o ex-presidente chegou a exortar desobediência a decisões judiciais e xingou o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes, de "canalha".
Neste ano, acuado por investigações da PF, Bolsonaro chegou a discutir com aliados a possibilidade de convocar manifestações em seu apoio para o 7 de Setembro, quando se comemora a Independência do Brasil.
A ideia chegou a ser debatida, como mostrou a coluna da Mônica Bergamo, da Folha, mas a avaliação é de que elas poderiam impulsionar novos ataques às instituições, como em janeiro, o que poderia custar mais caro a Bolsonaro.
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