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Juliana Inhasz

A economia deve melhorar em 2025? NÃO

Mudaram as estações... No Brasil, nada mudou

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Juliana Inhasz

Doutora em teoria econômica pela FEA-USP, é professora de graduação e pós-graduação no Insper

Os ventos que levam 2024 não trazem bons prognósticos para a economia brasileira em 2025. Envoltos em mais uma crise fiscal que tende a gerar instabilidades, tanto econômica quanto política, desta vez a galinha não conseguiu nem decolar.

Era janeiro de 2015, apesar do baixo desemprego, a economia brasileira amargava um crescimento econômico tímido de 0,9% frente a 2013. As expectativas deterioravam com o avanço do déficit público, gerando desconfianças sobre a sustentabilidade do processo de crescimento.

A então presidente, Dilma Rousseff, em carta ao mercado, prometia "controle rigoroso da inflação e fortalecimento das contas públicas" com o intuito de "estabilizar e reduzir a dívida bruta do setor público em relação ao PIB", naquela época em 58% do PIB.

Dilma Rousseff e Michel Temer em dezembro de 2015 - Evaristo Sá - 16.dez.15/AFP

Os gastos descontrolados solidificaram o caminho para uma das maiores recessões pós-estabilização econômica. E pelo jeito pouco se aprendeu com aquele período. A mesma dívida pública, que em janeiro de 2023 era de 71% do PIB, deve chegar a 80% até o início de 2025 e continua ratificando o mesmo diagnóstico, já antecipado à época por Almeida, Lisboa e Pessoa: "A trajetória de aumento dos gastos públicos é insustentável e exigirá um ajuste maior, sob risco de um desastre econômico".

O Brasil vivenciou um pujante aumento de gastos públicos nos últimos dois anos, responsável por gerar renda e crescimento econômico através do consumo privado. Como efeito colateral, além do endividamento, gerou incertezas, com elevação dos prêmios de risco e dos juros futuros, deteriorando a situação fiscal.

Como resposta, em meados de 2023, sob um déficit primário superior a 2% do PIB e uma crise de confiança se instalando na economia, o governo propôs um novo arranjo fiscal, cuja promessa de corte de gastos levaria as contas públicas ao "déficit zero" em curto período de tempo.

Ironicamente, durante o período de negociação do novo arcabouço fiscal, o presidente Lula afirmava precisar ser convencido da real necessidade de uma meta de gastos restritiva. Os sinais passados para o mercado eram claros: o governo tinha, por princípio, um baixo comprometimento com o equilíbrio fiscal.
O mesmo baixo comprometimento, evidente naquele momento, foi ratificado recentemente, com a aprovação de um tímido pacote fiscal, cuja efetividade, se confirmada, acontecerá após 2030. Até lá, nesta mesma trajetória, a dívida pública superará 100% do PIB, segundo recente estudo da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado.

O ano de 2025 não será fácil. Sem a perspectiva de um ajuste fiscal realmente compromissado com o controle do gasto público no longo prazo, o dólar pode continuar sua trajetória de valorização frente ao real, pressionando ainda mais a inflação, cujas expectativas em 4,6% já estão acima da meta para ano vindouro. Adicionadas as incertezas do mercado externo, tais projeções poderão verificar uma trajetória ainda mais ascendente.

Esta conjuntura solicita respostas rígidas do Banco Central, que já sinalizou na última reunião do Copom a necessidade de novos aumentos na taxa Selic em 2025, com magnitudes de ao menos 1%. Tal política agirá como um freio para a economia, inibindo consumo e investimentos, com previsão de redução do crescimento econômico de 3,42% para 2,01% (Boletim Focus, 13/12/2024).

A economia em 2025 andará para trás, o cenário é de imensa dificuldade política para implementar o já desidratado pacote fiscal, cuja capacidade de reverter a trajetória de aumento do gasto público é contestada por boa parte dos especialistas.

O Brasil está, de fato, condenando ao eterno ciclo do voo da galinha. O problema é que galinha não sabe voar!

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