Descrição de chapéu Artes Cênicas

Grupo Sobrevento conta histórias de imigrantes bolivianos em espetáculo

Coletivo que pesquisa o teatro de objetos ouviu relatos de crianças do Brás e criou peça em defesa do direito de sonhar

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São Paulo

Para montar o seu novo espetáculo, os artistas do Sobrevento visitaram escolas, centros de imigrantes e ongs do Brás, bairro da zona leste de São Paulo onde fica a sede do grupo, um galpão lotado de cenários e figurinos.

Nessas visitas, realizadas ao longo de 18 meses, imigrantes bolivianos que vivem na região contaram suas histórias a partir de objetos de afeição, como canecas, baldes, barcos, brinquedos, gaiolas e conchas.

Um grupo de seis pessoas se apresenta em um palco com fundo escuro. Eles estão vestidos com trajes azuis e claros, alguns com detalhes em franjas. Um dos integrantes está agachado, tocando uma flauta, enquanto os outros seguram instrumentos como um tambor, uma guitarra e uma flauta. Todos parecem estar sorrindo e se divertindo, criando uma atmosfera alegre. O chão do palco é coberto de areia.
Cena de 'Para Mariela', novo espetáculo do grupo Sobrevento - Lauro Medeiros/Divulgação

Foram ouvidas principalmente crianças, o que deu origem à "Para Mariela", com direção de Luiz André Cherubini e Sandra Vargas. O espetáculo, em cartaz com entrada gratuita no Brás, aborda a busca de um mar utópico e a vida preenchida por sonhos.

"Foi bonito descobrir que as crianças reivindicam coisas simples, como jogar futebol no parque e tomar sol", diz Sandra Vargas. Foi também impressionante ouvir os relatos sobre as dificuldades enfrentadas, mas os artistas perceberam que as meninas e meninos não sentem pena de si mesmos. "Eles têm esperança", acrescenta a atriz e diretora.

O cenário é um tanque de areia rodeado de retalhos vermelhos. Ao som de música boliviana, os atores e atrizes montam casas, aldeias, sítios, cidades e estradas e manipulam objetos enquanto resgatam memórias.

De forma lúdica, surgem histórias sobre a imigração e a vida antiga deixada para trás e o resgate de gestos simples, como o de uma avó que gostava de deixar a gaiola de passarinho muito limpa e arrumada, uma plantação de espelhos para atrair o sol e o garoto que planeja conhecer o mar.

O coletivo teatral explora músicas e sonoridades de diferentes regiões da Bolívia: andina, aimara, chaquenha. Os músicos bolivianos Goyo (charango) e Lolo (violão e flautas) participam do espetáculo, em cartaz até o dia 14 de outubro.

A peça faz parte de um projeto que busca aproximar os imigrantes do teatro, em um trabalho artístico e também social. O bairro foi mapeado pelo Sobrevento e o grupo tem como estratégia deixar o espaço da sede sempre aberto para a população local.

O galpão é frequentado principalmente por crianças e a ideia é que elas levem os pais para assistirem juntos às apresentações, além de vencerem o medo de saírem das oficinas de costura onde moram e trabalham.

"As crianças querem conhecer tudo", afirma Sandra. Já os adultos muitas vezes acham que não têm o direito de ter desejos e de viver momentos longe da produção nas oficinas. "Entramos em contato com uma população em situação de vulnerabilidade social. Por isso, quisemos fazer da nossa sede um ponto de encontro. Esses imigrantes vivem temerosos e não têm uma vida muito fora de casa".

A imagem mostra uma mulher sentada em um espaço coberto de areia, concentrada enquanto molda a areia com as mãos. Ela está vestida com uma roupa longa e solta, de cor clara, e seu cabelo está preso. O fundo é escuro, destacando a figura da mulher e a textura da areia ao seu redor.
Sandra Vargas em cena de 'Para Mariela', no Brás - Lauro Medeiros/Divulgação

Pesquisador do teatro de objetos, o Sobrevento usa no novo espetáculo uma linguagem apoiada em elementos cotidianos, em um aposta no caráter poético do dia a dia.

A Mariela do título é uma imigrante que chegou à sede do grupo levada por uma criança. Após assistir a uma peça, ela disse que gostaria de ter uma vida nos palcos. A costureira foi encaminhada para aulas de canto e disse para os artistas que agora ninguém a segura mais.

Para Mariela

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