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Foco
Aos 86, morre Balestre, "inimigo público" do país durante os anos Senna
François Willemin - 31.out.89/France Presse
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Jean-Marie Balestre em entrevista sobre a punição a Ayrton Senna na sede da FIA, em 89
DA REDAÇÃO
Se os protestos contra Julio
Botelho no Maracanã antes
da Copa de 58 tornaram-se
célebres como "a maior vaia
da história do Brasil", as cenas vividas em Interlagos antes do GP Brasil de 90 merecem o recorde de manifestação um tom acima. Ou abaixo,
se levada em conta a qualidade do vocabulário: o de palavrões contra um só indivíduo.
No caso, Jean-Marie Balestre. Francês, então presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo),
envolvido numa pesada polêmica com Ayrton Senna. Um
inimigo da pátria -outros
tempos, em que piloto de F-1
era paixão nacional.
Sentimento que já havia
provocado até manifestação,
em janeiro daquele ano, diante do Consulado da França
em São Paulo. E que explodiu
em xingamentos, naquele 25
de março, quando o dirigente
surgiu num Interlagos lotado.
A crise começara cinco meses antes, em outubro de
1989. Na 47� das 53 voltas do
GP do Japão, Alain Prost, na
iminência de ser ultrapassado, jogou o carro contra o do
brasileiro. Abandono dos dois
daria o título ao francês.
Senna pediu ajuda aos fiscais, foi empurrado, conseguiu voltar à pista, trocar o bico, ultrapassar Alessandro
Nanini e vencer. Para nada.
Sob ordem de Balestre, os
comissários desclassificaram
o brasileiro, com a alegação
de que ele cortou uma chicane ao ser empurrado. A punição deu o título a Prost e gerou uma série de declarações
de Senna contra o dirigente.
Declarações que culminaram com multa de US$ 100
mil e com a ameaça de cassação da sua superlicença.
O brasileiro precisou escrever uma burocrática carta de
desculpas para correr -e
vencer- o Mundial de 90.
Mas Balestre foi mais do
que o desafeto de Senna.
Nascido em 1921 na Provença, começou a trabalhar
ao 16, como jornalista esportivo. Na Segunda Guerra,
atuou ao lado dos nazistas e
foi preso quando as forças
aliadas retomaram o país.
Solto, montou um jornal de
automobilismo e, em 1952,
ajudou a fundar a federação
francesa. Tornou-se cartola e,
em 1978, criou a Fisa, contra a
FIA, a federação legalista, e
em guerra contra a Foca, a associação de construtores.
Disputa de poder e dinheiro.
O confronto com Bernie
Ecclestone, líder da Foca, só
terminou em 1982. E, quatro
anos depois, Balestre assumiu também a FIA, cargo que
manteve até 1991, quando foi
substituído por Max Mosley,
até hoje no poder. Nos últimos anos, virou "presidente
honorário da FIA" e aparecia
raramente em eventos.
Aos 86, Jean-Marie Balestre morreu na França, de causa não revelada.
(FÁBIO SEIXAS)
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