Caetano já tinha uma ideia do que era um podcast quando ficou sabendo que sua mãe e seu padrasto também iam lançar um programa deles, neste mesmo formato de ouvir as coisas. O nome do podcast era "Calunguinha", e a ideia era falar de um garoto pretinho e crespinho que, toda noite, quer ouvir uma história contada pela mamãe.
E Calunguinha não quer ouvir uma história qualquer —ele gosta mesmo é dos contos de ninar que falam de seus ancestrais, pessoas negras com coisas importantes para falar e que já passaram por lugares lindos como Pernambuco, Bahia, Palmares, Congo...
Caetano, um menino de 3 anos —que, perdão pelo spoiler, é bem parecido com o personagem —Calunguinha foi a "cerejinha do bolo" desta ideia toda, como define sua mãe Stela Nesrine.
"Ele é o que junta todas as partes, e por muitos motivos. Dos mais profundos, como encontrar uma forma de apresentá-lo à sua parte de ancestralidade negra, aos mais funcionais, como a necessidade de ter um conteúdo gostoso de curtir em família, para exercitar a imaginação e, principalmente, se afastar um pouco mais das telas", resume Stela.
Ela conta que é como se Calunguinha já existisse para ela e seu marido, Lucas Moura, antes mesmo de o podcast nascer. O projeto foi ganhando forma durante a pandemia do coronavírus, quando eles e Caetano ficaram isolados em um apartamento na periferia da zona leste de São Paulo.
Com Calunguinha formado dentro da cabeça, eles se inscreveram no programa Sound Up, que buscava boas ideias de representantes de comunidades com pouca representação —foram selecionados 20 podcasts de pessoas pretas ou indígenas.
Lucas acredita que talvez as pessoas achem difícil falar de questões raciais para as crianças, e que, por isso, haja poucas produções culturais com este tema disponíveis atualmente. "Por isso, muitas vezes elas optam por criar para crianças num geral", completa Lucas.
"É necessário um pouco de coragem pra mergulhar no universo das pretinhas, pretinhos e pretinhes. Quando uma criança que está repleta de imaginação encontra a memória do povo preto, que nos é negada, essa soma de imaginação e memória acaba por parir um futuro que é novo enquanto velho. Ancestral e também futurista."
Já são 7 episódios de "Calunguinha" disponíveis no Spotify —toda sexta-feira entra um novo no ar. E há sempre um convidado especial participando. No episódio que inaugurou a temporada de "Calunguinha", o ator Lázaro Ramos interpreta o Rei Malunguinho.
Também já participaram a cantora Margareth Menezes, os atores Eduardo Silva e Ícaro Silva, a atriz Solange Couto, e o humorista Yuri Marçal, entre outros. "Artistas pretes que fizeram parte da nossa infância, e que hoje outras crianças podem ouvir também, mas dessa vez contando a história do povo negro que aqui chegou e construiu esse país", explica Stela.
Os episódios imaginam sempre que a mamãe e Calunguinha tomam chá juntos e, quando ela sopra a xícara para esfriá-la, magicamente o menino sai voando com a fumaça e vai parar no lugar onde a história se passa. Junto com seu avô, que já é um ancestral e que só Calunguinha consegue ver, toda noite ele voa e, na volta, canta para a mãe tudo que aprendeu.
TODO MUNDO LÊ JUNTO
Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança
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