Novas tecnologias devem impactar o futuro do trabalho

Festival ODS discute medidas para amenizar desemprego e criar oportunidades

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Maria Carolina Trevisan
São Paulo

A transformação digital é uma realidade: não há como fugir ou ignorar essas mudanças. Por isso, é cada vez mais importante que os países incorporem as novas tecnologias e se adaptem ao uso dessas ferramentas.

Há riscos nessa transição. Um dos pontos sensíveis é seu impacto no mercado de trabalho. Tarefas rotineiras e repetitivas têm sido executadas de forma eficiente por sistemas programáveis e de aprendizado de máquinas, substituindo recursos humanos, o que pode levar ao desemprego estrutural e à dificuldades de requalificação e reinserção.

pessoas no computador
Novas tecnologias devem promover uma revolução no mercado de trabalho - Unsplash

"Em larga medida, a automação também pode aumentar a desigualdade econômica se não for implementada de forma equitativa, respeitando as premissas de uma transição tecnológica e ambiental justa. As empresas que adotam tecnologias de automação podem aumentar sua produtividade e lucratividade, enquanto os trabalhadores menos qualificados ou menos conectados podem ficar para trás", alerta o documento "Como aproveitar potenciais de mudanças nos padrões produtivos e da reorganização da economia?", elaborado para subsidiar as discussões da quarta edição do Festival ODS, que acontece na próxima sexta, (19), em Niteroi (RJ).

Também há impactos de ferramentas como a Inteligência Artificial para profissionais de produção de conteúdo, informação, cultura e dados, como jornalistas, artistas e cientistas. "Preocupa bastante, por exemplo, que a IA não gere remuneração para esses profissionais", afirma João Brant, Secretário Nacional de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação da Presidência da República. "Existe uma apropriação concentrada de um sistema distribuído de produção de valor." São distorções que precisam ser observadas e adaptadas.

De acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), a Inteligência Artificial deve impactar quase 40% de todos os empregos do mundo. O organismo chama a atenção para a necessidade de que os países estabeleçam, por exemplo, redes de segurança social para trabalhadores vulneráveis, como os mais velhos e os mais pobres.

Segundo o "Relatório sobre o Futuro dos Empregos", publicado pelo Fórum Econômico Mundial em maio de 2023, estima-se que 69 milhões de novos empregos sejam criados e 83 milhões sejam eliminados, entre os 673 milhões de empregos correspondentes ao conjunto de dados pesquisados. Trata-se de uma redução líquida de 14 milhões de empregos, ou 2% do emprego atual.

"Pela primeira vez, estamos participando de um ciclo tecnológico muito complexo, porque são diversas tecnologias acontecendo ao mesmo tempo", diz Rodolfo Fücher, presidente do conselho da Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES) . "Estamos presenciando uma onda extremamente impactante e disruptiva."

Apesar da insegurança que esse novo contexto traz, Fücher é otimista em relação à adaptação das pessoas e dos empregos. "A História tem mostrado que o ser humano consegue identificar oportunidades. A gente tem que usar a tecnologia para evitar o aumento da desigualdade. Essa é uma situação em que o poder público precisa ficar atento."

Segundo ele, o setor privado teria o papel de treinar e dar acesso aos funcionários às novas tecnologias, o setor público deveria investir em políticas educacionais ligadas a elas, e a filantropia, por seu conhecimento local, poderia implementar experiências exitosas com potencial de se tornarem políticas públicas.

Para Sergio Andrade, diretor-executivo da Agenda Pública, os governos têm o desafio de modernizar suas políticas e instrumentos de desenvolvimento econômico, principalmente em estados e municípios, incentivando atividades representativas das demandas do novo momento mundial e brasileiro. "Cadeias de valor podem se desenvolver impulsionadas por mudanças de padrões de produção e consumo ou por inovações surgidas com a transição ecológica e o crescimento das economias do cuidado, criativa ou prateada, para citar algumas delas", diz Andrade.

"Modernizar essas políticas passará por uma revisão dos incentivos fiscais e financeiros alocados em atividades pouco promissoras", afirma Andrade.

FESTIVAL ODS

Em sua quarta edição, o Festival ODS de 2024 debaterá o futuro do trabalho diante das transformações tecnológicas. Tem o objetivo de discutir soluções práticas compartilhadas entre gestores públicos, organizações sociais e sociedade civil em quatro eixos principais: novas tecnologias, transformação digital e automação; mercado de trabalho, empreendedorismo e trabalho informal; desafios geracionais; e educação inclusiva.

O propósito do Festival ODS é desenvolver soluções conjuntas para alcançar os compromissos estabelecidos pela Agenda 2030, um conjunto de objetivos e metas de desenvolvimento sustentável, ao qual se comprometeram 193 Estados-membro da ONU (Organização das Nações Unidas), incluindo o Brasil.

O evento ocorre na próxima sexta (19), de forma presencial e online. É uma realização da Agenda Pública e da Prefeitura de Niteroi, com apoio da Fundação Grupo Volkswagen. As inscrições estão abertas.

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