A ilusão do dinheiro funciona muito bem em tempos normais. Espalha seu encanto por toda a parte. Enfeitiça as mentes, que acreditam no poder de um pedaço de papel, ou de uma cifra impressa na tela, de se transformar em produtos e serviços, como passe de mágica.
Quando chega o furacão, na forma de uma guerra ou de uma epidemia, às vezes ela atrapalha. Está atrapalhando agora. O que importa nessas situações de mobilização são as pessoas e as coisas estarem disponíveis no momento certo, não valores monetários abstratos.
De quantos respiradores mecânicos vamos precisar? De quantos leitos hospitalares? De que volume de máscaras e luvas descartáveis? Testes para detectar a doença? Equipes para buscar infectados? Instalações de isolamento? De quantos profissionais de saúde necessitaremos?
Essas exigências, projetadas no tempo e no espaço, nos levam a que espectro de demandas na próxima semana, daqui a um mês, daqui a seis meses? Nossa capacidade de produzir, importar e entregar será suficiente? Que adaptações podem ser feitas caso a resposta seja negativa?
Numa emergência, o domínio é do planejamento e da logística. Não adianta imprimir montanhas de dinheiro se falta a condição de fazer e de fazer chegar. Caso haja ruptura no abastecimento alimentar, será inútil enviar cheques de R$ 600. Sem um cadastro indivíduo a indivíduo dos vulneráveis, muita gente vai passar fome também.
Não faz sentido falar em Plano Marshall se a "guerra" mal começou. A epidemia não destrói a infraestrutura nem dizima a força de trabalho, à diferença do conflito de 1939 a 1945. Muitos países devem sair mais bem equipados do processo, com incrementos no setor sanitário.
Agora é hora de lidar com a epidemia e os seus efeitos econômicos diretos. Passo a passo, coordenadamente, com a cabeça no lugar. Enquanto corre o temor difuso de saques nas ruas, há muito espertalhão bem posicionado se aproveitando para tentar saquear o Estado.
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