Ernesto Araújo, o futuro ministro das Relações Exteriores, é Bolsonaro raiz. Com sua indicação, o presidente eleito quebrou uma sequência de nomeações de pessoas equilibradas, próximas da linha média da atuação dos governos brasileiros nas últimas décadas.
Como o PT brincou de ser PT no Itamaraty, enquanto distribuía os demais cargos governamentais por critérios mais pragmáticos, o bolsonarismo também vai experimentar sua mixórdia de ideias extravagantes nas relações internacionais.
A aventura, entretanto, há de ser mais difícil para Araújo do que foi para Celso Amorim, o capitão da política externa petista sob Lula.
O terceiro-mundismo, maquiado para o século 21 por Amorim, era cultivado havia décadas no Itamaraty por quadros que se preparavam para assumir o poder na primeira oportunidade. Não há nada parecido ocorrendo com o chamado antiglobalismo decantado por Araújo.
Se Araújo ministro tentar realizar a plataforma de Araújo ideólogo, será inevitável o choque com a inércia da máquina diplomática brasileira, um dos corpos estatais mais estáveis, homogêneos e corporativistas.
Levar à frente o repúdio aos acordos contra o aquecimento global e o desejo de fixar em Jerusalém a embaixada vai custar ao Brasil de Bolsonaro muito mais do que custa aos EUA de Trump. Serão incinerados bilhões de dólares anuais em exportações dos setores mais competitivos da economia brasileira.
Altamente eficientes na comercialização de suínos e aves, os produtores de estados como Santa Catarina, o mais bolsonarista do centro-sul, seriam penalizados. Enfrentar a China na base da bravata, macaqueando Trump, colocará no alvo de retaliação exportadores de vários estados brasileiros.
Diante de tantas colisões previsíveis, e da falta de enquadramento das teses peculiares do novo chanceler na realidade brasileira, será difícil essa papagaiada ideológica ganhar tônus de política de Estado.
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