Vinicius Mota

Secretário de Redação da Folha, foi editor de Opinião. É mestre em sociologia pela USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Vinicius Mota

Bolsonarismo raiz terá seu playground na política externa

Aventura antiglobalista preconizada por Ernesto Araújo terá enormes obstáculos pela frente

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Ernesto Araújo, o futuro ministro das Relações Exteriores, é Bolsonaro raiz. Com sua indicação, o presidente eleito quebrou uma sequência de nomeações de pessoas equilibradas, próximas da linha média da atuação dos governos brasileiros nas últimas décadas.

Como o PT brincou de ser PT no Itamaraty, enquanto distribuía os demais cargos governamentais por critérios mais pragmáticos, o bolsonarismo também vai experimentar sua mixórdia de ideias extravagantes nas relações internacionais.

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, e o futuro ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo - Sergio Lima - 14.nov.2018/AFP

A aventura, entretanto, há de ser mais difícil para Araújo do que foi para Celso Amorim, o capitão da política externa petista sob Lula.

O terceiro-mundismo, maquiado para o século 21 por Amorim, era cultivado havia décadas no Itamaraty por quadros que se preparavam para assumir o poder na primeira oportunidade. Não há nada parecido ocorrendo com o chamado antiglobalismo decantado por Araújo.

Se Araújo ministro tentar realizar a plataforma de Araújo ideólogo, será inevitável o choque com a inércia da máquina diplomática brasileira, um dos corpos estatais mais estáveis, homogêneos e corporativistas.

Levar à frente o repúdio aos acordos contra o aquecimento global e o desejo de fixar em Jerusalém a embaixada vai custar ao Brasil de Bolsonaro muito mais do que custa aos EUA de Trump. Serão incinerados bilhões de dólares anuais em exportações dos setores mais competitivos da economia brasileira.

Altamente eficientes na  comercialização de suínos e aves, os produtores de estados como Santa Catarina, o mais bolsonarista do centro-sul, seriam penalizados. Enfrentar a China na base da bravata, macaqueando Trump, colocará no alvo  de retaliação exportadores de vários estados brasileiros.

Diante de tantas colisões previsíveis, e da falta de enquadramento das teses peculiares do novo chanceler na realidade brasileira, será difícil essa papagaiada ideológica ganhar tônus de política de Estado.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.