Rodrigo Tavares

Professor catedrático convidado na NOVA School of Business and Economics, em Portugal. Nomeado Young Global Leader pelo Fórum Econômico Mundial, em 2017

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Rodrigo Tavares

Conselheiros econômicos fortes e políticas econômicas fracas

Começaram anúncios de mentores dos presidenciáveis para economia, e 2018 não se pode repetir

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Um, dois, três, por detrás de um grande líder político estão sempre quatro, cinco, seis ou mais conselheiros de todas as naturezas e idoneidades. Sussurram o que lhes é dito e não dizem o que lhes é sussurrado. Angela Merkel tem Uwe Corsepius ("o confidente"), Putin tem Anton Vaino ("o filósofo"), Xi Jinping tem Liu He ("o negociador"). Ninguém sabe quem são, mas todos os conhecem.

Em Portugal e no Brasil estes conselheiros, principalmente os responsáveis por temas econômicos, esquivam-se dos bastidores e apropriam-se de um espaço midiático que é aproveitado para chancelar a candidatura do futuro chefe.

Do outro lado do Atlântico, tanto os pré-candidatos quanto os candidatos a pré-candidatos recrutam, tão temporalmente quanto possível, o seu "homem forte para a economia" para que a candidatura possa chegar à fase adulta.

Paulo Rangel, um eurodeputado que é candidato à liderança do PSD (principal partido de direita) nas eleições internas no final do mês, já apresentou o seu "coordenador da área econômica" na eventualidade de ser escolhido para líder do partido e, meses mais tarde, eleito primeiro-ministro. O indicado foi um professor da Universidade do Minho.

Presidente Jair Bolsonaro e ministro da Economia, Paulo Guedes - Evaristo Sá - 22.out.2021/AFP

No Brasil também se apresentam publicamente os conselheiros econômicos antes de se conhecerem os programas de economia. Recrutam-se colunistas dos cadernos de negócios, professores universitários e gente com lastro no mercado para ratificar uma candidatura.

Na ausência de uma longa fileira de economistas celebridades, os candidatos disputam a atenção dos poucos que lhes poderão desembaraçar o caminho em direção ao poder. Como nenhum votante lê programas eleitorais e, mesmo que lesse, dificilmente encontraria por lá orientações pitonísicas sobre o que será implementado em caso de vitória do postulante, os artigos de opinião e as entrevistas desses conselheiros passam a ser uma espécie de agulha magnética em meio às suposições.

Paulo Guedes ("o desastre") benzeu a candidatura de Bolsonaro e arrebanhou o mercado. Nessa mesma candidatura de 2018, Alckmin tinha Pérsio Arida. Quatro anos antes, Armínio Fraga apoiou Aécio Neves. Na mesma entrevista em que Sergio Moro se apresentou como pré-candidato, Affonso Celso Pastore foi citado como o principal conselheiro na economia.

Negligencia-se o conteúdo e sobrevaloriza-se a pessoa. As políticas econômicas deixam de ser o resultado de debates de construção coletiva, no seio de um partido ou de uma coalizão, e passam a equivaler às opiniões públicas de um único cidadão.

As diretrizes tributárias, a política monetária, as ferramentas para o crescimento do PIB, tudo passa a depender do temperamento, dos anseios ou do gênio de uma pessoa. A política econômica individualiza-se: "l’économie c’est moi", diriam os novos reis iluminados.

Em 2022, eu prestarei atenção ao candidato que apresentar um programa de economia e não atalhar caminho anunciando apenas um conselheiro econômico. E valorizarei também o candidato que apresentar um programa nacional de sustentabilidade (nas suas mais diversas vertentes) e não tirar apenas da cartola um famoso ambientalista.

Como vimos nos últimos quatro anos, a personalização da política, os expedientes efêmeros, as meias verdades e os disparos de WhatsApp podem eleger candidatos, mas não preparam presidentes. E o Brasil precisa sofregamente de um presidente estável e democraticamente eleito. É um privilégio que o país não desfruta há vários anos. O fraco rei faz fraca a forte gente, escreveu Camões.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.