Ainda estou digerindo o filme "Medida Provisória", dirigido pelo meu irmão Lázaro Ramos.
Diante dos impedimentos à arte em nosso país, procurei levar o máximo de pessoas das favelas para assistir a cenas que abordam seriamente os clichês ampliadores das desigualdades e naturalizam absurdos.
Sem spoiler, vou instigar o leitor a conhecer a obra, que mexeu muito comigo, e me levou às lágrimas. Pela forma afetiva com que retratou a gente preta. E olha que produzir um filme de tensão e ação sem cair na mesmice de atores pretos violentos, não é uma tarefa fácil.
Na tela desfila gente comum, que ri, chora e debocha da própria tragédia, constrangendo quem nos percebe apenas como subservientes. "Medida Provisória" não vai cair no esquecimento. Impossível não ficar marcado pelas narrativas e possibilidades que se abrem a cada cena.
Nossas emoções, amores e força ancestral não cabem nas planilhas de Excel.
Ali pulsa a vitalidade de um povo que, mesmo sendo privado de direitos, não perde a altivez, alegria e a teimosia em sonhar com um Brasil igualitário.
Para o escritor Tom Farias, a Expo Favela e o "Medida Provisória" iluminam a sociedade. Eu complemento: nesse ritual de conexões de potências, a Expo Favela é a bateria e MP a lanterna —um alimenta o outro.
O desafio é enorme, quando comparado com o monopólio das produções americanas, que ocupam quase todas as já mirradas salas de cinema do Brasil. Sem citar o orçamento difícil em tempos de pandemia e o boicote à arte.
Porém Lázaro é ousado. Sem respostas prontas, gera perguntas mobilizadoras, encanta pelo carisma e carinho de comunicar, o que faz de "Medida Provisória" mais que um filme, mas um movimento que vai além das salas de cinema, mostrando o povo que lindo, feliz e poderoso nas telas.
O povo será um aliado forte, porque se cansou de viver em um país em luto, triste, com fome e sem emprego.
"Medida Provisória" já está na alma de quem assistiu e cabe a cada homem e mulher, que sonham com um Brasil justo e democrático, levar essa produção, de elenco plural, querido e talentoso, para os quatro cantos do país.
Lázaro deu o recado com sucesso, pois falamos de mercado também. O filme não deixa a desejar a nenhuma superprodução. Não pedimos espaço, queremos liberdade para disputar o mercado com um olhar amoroso, bem-humorado e crítico sobre a realidade.
Dividido entre a realidade de um futuro imaginável e cruzando com as vivências reais da gente simples que faz o país existir, Lázaro dá condições ao espectador de transformar tudo à sua volta.
Por nos representar com tanta maestria e carinho, Lázaro: gratidão por tudo!
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