A ativista de direitos humanos Narges Mohammadi, laureada com o Nobel da Paz em 2023, foi libertada pelo regime teocrático iraniano por razões médicas, mas ficará livre apenas durante três semanas.
Familiares dizem que o cárcere deteriorou sua saúde. Mohammadi está detida desde 2021 e, ao longo da vida, foi presa 13 vezes e condenada a 31 anos de prisão.
Segundo seu filho, saiu das grades sem o véu islâmico e gritando "Mulher, Vida, Liberdade!", slogan do movimento que eclodiu em 2022, após Mahsa Amini ter sido assassinada sob custódia da polícia da moralidade por não usar o véu do modo adequado.
Ainda há práticas machistas em todo o mundo, por óbvio, mas ser mulher no Irã é um inferno.
Relatório da ONU divulgado em março mostra que a teocracia matou centenas de pessoas desde 2022 e que há perseguição contra as mulheres, já que o acesso delas a educação, saúde, justiça ou empregos é condicionado ao uso do véu —sem contar a série de restrições impostas pela sharia, o sistema jurídico do Islã.
Assim, já passa da hora de tipificar essa situação como apartheid de gênero. É o que demanda uma campanha global criada em 2023 por dezenas de iranianas e afegãs —incluindo quatro laureadas com o Nobel da Paz.
O Estatuto de Roma (1998), que instituiu o Tribunal Penal Internacional, considera o apartheid racial como crime contra a humanidade: "Atos desumanos cometidos no contexto de um regime institucionalizado de opressão e dominação sistemática por um grupo racial sobre qualquer outro grupo ou grupos raciais".
A campanha alega, com razão, que os governos do Irã e do Afeganistão, e não apenas eles, são regimes institucionalizados de opressão e dominação sistemática de um grupo de homens contra um grupo de mulheres —as que rechaçam ordens de aiatolás ou terroristas do Talibã.
Chama-se apartheid de gênero. E, assim como se deu com o apartheid na África do Sul, qualquer um que se arvore a defender os direitos humanos tem o dever de reconhecê-lo e condená-lo para que, um dia, chegue ao fim.
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