É uma boa pergunta: se você acredita mesmo que uma catástrofe climática esteja a caminho, por que não sai de casa para destruir os símbolos mais evidentes da economia carbonizada —fábricas, automóveis, aviões etc?
Se aquilo que nos espera é o apocalipse, não é bizarro que o pessoal esteja quieto e sereno, esperando pela sua própria extinção? "Amanhã, estaremos todos mortos", diz o ser humano médio. "Mas, nos entretantos, vamos tomar uma cerveja". Ilógico, não?
Há exceções, claro. Uma delas, que conheci agora, é Andreas Malm. Em entrevista para o The New York Times, o professor sueco de 46 anos e autor de "How to Blow a Pipeline" faz uma defesa vigorosa do "radicalismo climático".
O problema é o seguinte: todos nossos esforços para controlar o aquecimento global não foram suficientes. E, se não foram, é preciso subir um degrau e começar a explodir coisas —os oleodutos que transportam o veneno que mata o planeta, por exemplo.
Como afirma Malm, é necessário que os investidores dos combustíveis fósseis entendam os riscos que correm. E como o dinheiro fala sempre mais alto, é preciso atacar onde dói: direto nas suas contas bancárias.
Claro que, na entrevista, Malm é confrontado com uma pergunta óbvia: quem hoje rebenta com tubagens amanhã rebenta com pessoas. O que pode ser feito para evitar que isso aconteça no futuro?
Aqui, Malm vacila. Por um lado, o objetivo é destruir infraestruturas, não vidas humanas. Mas não é possível garantir que não haverá sangue humano no futuro, ele reconhece.
Pois não, Malm: a história do terrorismo ilustra essa ladeira deslizante com particular brutalidade. Aliás, seguindo o seu raciocínio, esse será o degrau seguinte, sobretudo se a sabotagem material também não resultar. E quem, coerentemente, pode recusar esse caminho?
Para salvar a humanidade inteira, você não estaria disposto a sacrificar centenas, milhares, até milhões de seres humanos que se recusam a mudar de vida?
Por acaso, eu não. Genocídios em nome de um dogma nunca foram a minha praia. Digo dogma porque as consequências mais apocalíticas do aquecimento global se baseiam em projeções e modelos que estão longe de fechar o debate.
Acontece que o terrorismo climático não aceita o debate. Nem sequer a persuasão inteligente. Escolhendo a violência como o único caminho para mudar mentalidades, desconfio que o resultado é o oposto: alienar mentalidades.
O filósofo Pascal Bruckner, que não me canso de recomendar às almas tementes, tem dedicado ao tema do catastrofismo ecológico alguns dos melhores textos que conheço.
E um dos argumentos de Bruckner é a natureza contraproducente do catastrofismo. Quando se apresenta o desafio em termos tão avassaladores —não há nada a fazer, exceto regressar ao Paleolítico—, a reação humana nunca se traduz em ação coletiva.
A resposta comum é a desistência. Quem pensa que isso é ilógico não conhece a matéria de que somos feitos: só agimos quando pressupomos que o nosso esforço não é em vão.
Além disso, existe no catastrofismo uma contradição evidente, acrescenta Bruckner. Como sustentar, ao mesmo tempo, que os seres humanos são o câncer do planeta e a salvação do planeta?
O marxismo, pelo menos, fazia uma divisão entre exploradores e explorados, cabendo a esses últimos a redenção da história. Havia uma dimensão de otimismo que inspirava a luta por um mundo melhor.
O catastrofismo ecológico não discrimina, afirma Bruckner. O planeta inteiro é o novo proletariado —frágil, indefeso, mártir— sem a força vital e transformadora do velho proletariado.
E a classe exploradora somos todos nós. Como esperar que os exploradores se entreguem voluntariamente nas mãos da justiça climática?
O ódio à espécie que os terroristas climáticos exibem, o tom acusador aos nossos pecados temporais, o sentido de superioridade que emana das suas palavras, tudo isso só serve para afugentar o pessoal. Não se fazem bons negócios insultando os clientes.
Por mim falo: sempre que apanho um Adreas Malm no púlpito fulminando a nossa ruindade, peço mais uma cerveja e saboreio o mundo enquanto existe mundo.
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