Nascido em Santo Anast�cio (SP), em 1978, � autor de 'Esquim�' (Cia. das Letras, 2010) e 'Golpe de Ar' (Ed. 34, 2009). Escreve aos domingos, a cada duas semanas.
Brancura
QUANDO
Quando a manh� dura o dobro do tempo. Quando a noite tem o tamanho certo. Quando o sonho te leva pra uma esta��o de �guas que � um pantanal japon�s impressionista. Quando o sexo � forte. Quando voc� v� de fora a sua pr�pria loucura. Quando voc� acredita que pode viver muitos anos. Quando as folhas da amendoeira se entregam completas no espa�o. Quando o ar deixa de ser uma abstra��o. Quando voc� respira. Quando voc� bebe �gua. Quando voc� adora nuvens. Quando voc� se d� conta de que n�o compreende o mar.
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Ilustra��o Guazelli | ||
QUARTO
Cortina branca de cambraia de linho. Luz filtrada. Espa�o suspenso com brisa. Onde respiro sem dificuldade e me movo com prazer. Nem faltam as cores da mulher que amo. Seu pesco�o infinito. Seu cheiro doce e ancestral. Vindos de longe, farejando em c�rculos, aos poucos se aproximam os chacais.
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PALAVRAS
Borracha. Franja. Lapiseira.
Vadia. Tablete. Madrugada.
Telhado. Pimenta. Toblerone.
Netuno. Nevasca. Gafieira.
Trov�o. Corisco. Vatap�.
Ravina. Atalaia. Arcobotante.
Pulm�es. Sergipano. Sentinela.
Garrafa. Cacha�a. Tornozelo.
Calcanhar! Calcanhar! Calcanhar!
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PULSEIRAS
Essa � de B�zios. Essa � de Lyon. Essa � de Mo�ambique. Essa � da Bol�via. Essa � de Montevid�u. Essa � do largo da Batata. Essa � de Cuba. Nunca fui pra Cuba. Ganhei de uma amiga que foi pra l�. Essa � da Col�mbia. Essa � de Olinda. Essa eu n�o lembro. Essa � uma promessa que eu fiz.
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RISADA
Ele gostava da risada dela. Queria trepar com ela, ou melhor, com sua risada. Mas s� conseguia trepar com seu corpo. Ela achava aquilo engra�ado e ria. Ele ficava com tes�o e tentava de novo. Ela se excitava com a ideia de que a loucura dele a fizesse rir. E assim passaram juntos muitos anos.
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SOMBRINHA
Na Liberdade, depois do jantar, ela entrou meio b�bada numa loja de quinquilharias e comprou uma sombrinha lil�s com flores brejeiras pintadas � m�o. Uma daquelas sombrinhas orientais em que -diferentemente dos guarda-chuvas convencionais, com sua lona c�ncava- as hastes, quando abertas, formam um �ngulo de quase noventa graus com o cabo de madeira clara. Uma sombrinha minimalista como um sushi e l�rica como um haicai. Ela perguntou o que ele achava. "Perfeita", ele disse. E pensou que agora n�o lhes faltava mais nada. Nem precisava chover.
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ROSTO
Uma pessoa, sim, mas tamb�m um rosto. A express�o desse rosto. A intimidade dessa express�o. H� uma d�cada ao seu lado. Ele n�o se acostuma completamente. �s vezes, claro, a vida est�pida. Mas a maior parte do tempo: aquele rosto amado. Com uma pessoa por tr�s. Que ele n�o alcan�ar� nunca. O peso da palavra "nunca". Glavaradrasxing�!
Livraria da Folha
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