Kamala Harris abriu de maneira idêntica os três discursos que fez até agora como provável candidata à Casa Branca. A vice-presidente enalteceu o legado de Joe Biden, descreveu o governo do qual faz parte como um dos mais importantes da história e assumiu a inevitável bandeira da continuidade para disputar esta eleição.
O Partido Democrata precisava desesperadamente de um candidato que não fosse Biden para enfrentar Donald Trump. Kamala larga como uma candidata de situação que tem a vantagem de não ser um político de 81 anos cuja capacidade de liderança é alvo de questionamentos. Para vencer, ela terá que ir muito além.
A idade de Biden não era o único risco dos democratas. A despeito de um cenário econômico positivo, a taxa de aprovação do presidente indica que os americanos não se mostram satisfeitos com o país. A candidatura de Kamala depende de sua capacidade de vender algo mais do que um retrospecto dos últimos anos.
Em seus primeiros dias na arena, a vice-presidente falou em futuro e buscou uma contraposição ao que seria uma volta ao passado com Trump. Disse que sua prioridade será o fortalecimento da classe média, que vem se mostrando mais distante dos democratas, e alertou para a ameaça que os republicanos representam para os direitos reprodutivos.
A credibilidade do discurso econômico de Kamala passará por um teste difícil nos meses que restam até a eleição. O que é inegável é que ela dispõe de uma energia maior do que Biden para enfrentar Trump e apresentá-lo como uma ameaça, numa estratégia capaz de ampliar a participação de mulheres e negros, além de levar às urnas eleitores independentes que rejeitam o republicano.
A investida precisa ser suficiente para cobrir flancos que tornam sua candidatura potencialmente vulnerável. Kamala é tratada pelo populismo conservador como a vilã progressista perfeita e se tornou alvo preferencial de trumpistas que apontam para a falta de um plano democrata para a imigração. Ainda assim, ao menos agora há uma disputa aberta.
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