José Luiz Datena se habituou a fazer de suas aventuras políticas um espetáculo. Há mais de uma década, o apresentador repete o script: atrai holofotes, se filia a um partido e anuncia planos para uma eleição. Com a mesma desenvoltura, ele aparece na TV semanas depois para anunciar que desistiu de concorrer.
Em 2018, Datena deixou seu programa no prazo previsto na lei, falou em disputar o Senado e chegou a indicar o filho como substituto. Mudou de ideia em poucos dias. Fez algo parecido nas eleições seguintes e, agora, avisou que sairá de férias para se dedicar à campanha para a Prefeitura de São Paulo pelo PSDB.
Poucos políticos (e, provavelmente, poucos eleitores) acreditam que Datena estará nas urnas em outubro. A esta altura, o show do apresentador serve mais para calcular o desespero do partido que aceita abrigá-lo, confundir o terreno dos outros candidatos e medir o pulso dos paulistanos numa etapa ainda prematura da disputa.
Datena teve 8% das intenções de voto numa pesquisa feita pelo Datafolha no fim de maio. Um mês depois, marcou 17% numa simulação feita pela Quaest. Nos dois cenários, o desempenho reflete o recall de suas aparições na TV e sugere que o eleitor ainda não está muito atento à busca por um candidato.
Um detalhe é a gangorra entre o apresentador e o ruidoso Pablo Marçal em alguns segmentos. Na pesquisa mais recente, o autointitulado coach se sai melhor que Datena entre os mais jovens, mas as posições se invertem em outros grupos etários. O apresentador tem o quíntuplo da pontuação de Marçal entre os mais pobres, e o influenciador sobe nas faixas de renda mais altas.
O território ocupado por Datena até aqui é cobiçado por Guilherme Boulos e Ricardo Nunes, dados como favoritos para avançar ao segundo turno. O deputado do PSOL está longe de um desempenho satisfatório entre paulistanos de baixa renda, enquanto o atual prefeito vê o espaço da direita congestionado por nomes mais populares.
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