André Singer

Professor de ciência política da USP, ex-secretário de Imprensa da Presidência (2003-2007). É autor de “O Lulismo em Crise”.

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Ideia fixa

Candidatura de Barbosa é a consequência do trabalho contra a o establishment partidário

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O ex-ministro do STF Joaquim Barbosa após participar de reunião com políticos do PSB em Brasília
O ex-ministro do STF Joaquim Barbosa após participar de reunião com políticos do PSB em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

No feriado de 15 de novembro de 2013, o então presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa, mandou prender três figuras nacionais do PT: José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares. Tratava-se de evidente jogada com fins políticos. 

“O fato de ser a data da comemoração da República completa o simbolismo ideal para um possível futuro candidato a chefe do Executivo”, escrevi nesta coluna no dia seguinte.

Passados quatro anos, na véspera do prazo se esgotar, o ex-ministro do STF filiou-se ao PSB (Partido Socialista Brasileiro), de modo a talvez cumprir o vaticínio e concorrer à Presidência da República. A escolha do PSB é ad hoc. Diversas legendas poderiam servir de veículo para o plano concebido no julgamento da Ação Penal 470.

Dirigentes da sigla fundada por Miguel Arraes se queixam de não saber quais são as ideias de Barbosa. Na realidade, ninguém as conhece, talvez porque elas não sejam necessárias. 

Tendo se transformado numa celebridade da mídia no processo do mensalão, Barbosa encarna o princípio de que a Justiça deve ser igual para todos, o qual constitui o lema único do PJ (Partido da Justiça), a sua verdadeira agremiação.

Sendo negro, de origem pobre e eleitor de Lula, completa-se o perfil imaginário supostamente capaz de substituir o do próprio ex-mandatário, agora preso. Pró-forma haverá um programa, mas a tendência é Barbosa entregar a economia aos que dela entendem, concentrando-se em distribuir “justiça” em todo o Brasil.

A candidatura do ex- relator do mensalão é a consequência natural do trabalho metódico contra a o establishment partidário posto em prática pelo PJ desde 2012.

Os seus gestos espalhafatosos contribuíram para que houvesse junho de 2013. Depois das grandes manifestações vieram, et pour cause, as prisões midiáticas já citadas. Sergio Moro aprendeu com ele e, no Dia da Proclamação da República de 2014, os jornais noticiavam a detenção de 23 donos ou dirigentes de empreiteiras com negócios na Petrobras.

O cientista político Luiz Werneck Vianna entendeu que se tratava de um “tenentismo togado”, o qual se distinguiria do tenentismo dos anos 1920 e 1930 por não ter um programa para o Brasil. O combate à corrupção é, sem dúvida, meritório, e merece aplausos. Mas transformá-lo em objetivo único constitui biombo para esconder conflitos de fundo.

Dado o arraso causado pela sequência mensalão-Lava Jato, era provável que o PJ apresentasse um candidato para ocupar o vazio que ele mesmo criou. Do ângulo estritamente eleitoral, pode dar certo. Outra coisa é saber se será capaz de construir um rumo coletivo para nos tirar da crise.

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