Ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, �
doutor em economia pela Universidade da Calif�rnia.
Escreve �s quartas, semanalmente.
N�o falta quem se esforce para destruir minhas esperan�as no pa�s
Eduardo Anizelli - 11.mai.2016/Folhapress | ||
Vanessa Grazziotin (PC do B-AM), que defendeu a Zona Franca de Manaus |
Em artigo para l� de interessante, Caio Farah Rodriguez defende que uma das consequ�ncias da Lava Jato seria a imposi��o do capitalismo ao empresariado nacional por for�a dos acordos de leni�ncia, que criariam uma governan�a severa para as empresas, supostamente as impedindo de continuar com as pr�ticas expostas ao p�blico de 2014 para c�.
� um argumento bem formulado, e, juro, bem que queria acreditar, mas n�o estou convencido de sua validade.
N�o � de hoje que o capitalismo brasileiro vai mal das pernas. Louvada em verso e prosa em alguns c�rculos, a industrializa��o do pa�s se deu sob o manto protetor do governo, � base de subs�dios, cr�dito artificialmente barato, prote��o desmedida e outras formas de interven��o.
Com raras exce��es, a ind�stria nacional se mostrou incapaz de competir na arena global, e —a despeito dos protestos de neodesenvolvimentistas, novo-desenvolvimentistas, velho-desenvolvimentistas e o diabo— n�o h� taxa de c�mbio que compense a baixa produtividade.
E que n�o se diga que esse problema se deve � presumida concentra��o em setores pouco produtivos.
Trabalho recente da FGV ("O Brasil em Compara��es Internacionais de Produtividade: Uma An�lise Setorial" ) revela que esse fen�meno explica fra��o modesta do hiato entre o pa�s e a fronteira tecnol�gica; a maior parcela se deve � dist�ncia existente em todos os setores da economia nacional com rela��o aos pa�ses desenvolvidos.
Em outras palavras, n�o jogamos mal porque nossos atletas est�o na posi��o errada; o plantel � que � ruim mesmo...
Parte disso reflete a qualidade lament�vel da educa��o nacional, vis�vel em qualquer compara��o internacional, como os resultados do Pisa. Outra parte resulta da nossa m� organiza��o institucional.
Como chamei a aten��o h� alguns meses, sob o arranjo institucional brasileiro, o empres�rio, como regra, n�o vai ficar rico pela inova��o, mas pela sua capacidade de cultivar as liga��es corretas com os donos do poder.
Se restasse alguma d�vida (a mim, n�o, h� muito tempo), esta teria se dissipado com a revela��o das conversas entre o presidente Temer e o inef�vel Joesley.
Uma empresa de prote�na animal foi elevada �s maiores do pa�s n�o por qualquer coisa que cheirasse a compet�ncia empresarial, mas porque teve acesso a toda sorte de favores governamentais. E, como fica claro pelo acordo de leni�ncia, tais favores n�o foram obtidos gratuitamente, muito pelo contr�rio...
Iremos mudar esse estado de coisas?
N�o, a depender de pol�ticos como a senadora Vanessa Grazziotin, que aqui mesmo na Folha cometeu um artigo defendendo a Zona Franca de Manaus, mamata que apenas em ren�ncias fiscais consumiu algo como R$ 28 bilh�es/ano entre 2012 e 2016 (pouco mais que o Bolsa Fam�lia) e foi prorrogada para 2073, na expectativa de que nos pr�ximos 56 anos consiga atingir o que n�o obteve nos �ltimos 50.
Se quem se pretende defensor dos desvalidos promove mecanismos t�o �bvios de captura e concentra��o de renda, com efeitos nefastos sobre a produtividade e crescimento, o que esperar do mundo pol�tico?
Ando pessimista com o pa�s h� mais do que gostaria, mas n�o falta quem se esforce para confirmar meus piores temores e destruir as poucas esperan�as que me restam.
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