Ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, �
doutor em economia pela Universidade da Calif�rnia.
Escreve �s quartas, semanalmente.
Nelson Barbosa quer se defender ap�s ser pego em flagrante contradi��o
Pedro Ladeira - 6.mai.16/Folhapress | ||
Nelson Barbosa, que foi ministro do Planejamento e da Fazenda sob Dilma Rousseff |
Confesso que leio alguns (n�o todos) textos de Nelson Barbosa e at� coisa bem pior, como, por exemplo, o manifesto de "intelectuais" brasileiros defendendo o retorno da Nova Matriz Econ�mica.
Paro tamb�m para ver acidentes. Curiosidade m�rbida, mas nada que exija tratamento psiqui�trico mais s�rio, quero acreditar.
Pois bem, o inesquec�vel ministro quer se defender ap�s ter sido pego em flagrante contradi��o, ao criticar o contingenciamento de gastos proposto pelo atual governo, enquanto h� cerca de um ano se vangloriava de ter perpetrado o "maior contingenciamento da hist�ria do pa�s" em 2016 (n�o em 2015, como malandramente escreve ). Aqui n�o h� o que discutir: quem fez a afirma��o foi ele; n�o eu. Viva com isso.
Malandragens � parte, Barbosa quer nos convencer de que a estabilidade da despesa em termos reais (isto �, deduzida a infla��o) seria contracionista porque implicaria queda do gasto como propor��o do PIB. � engra�ado.
Em primeiro lugar porque, se o gasto do governo cresce mais do que a infla��o, deveria ser �bvio que isso equivale a um consumo maior de bens e servi�os reais, isto �, uma pol�tica de expans�o da demanda.
Mas o engra�ado mesmo � ler Barbosa, um economista que acredita que R$ 100 adicionais de gasto aumentam o PIB em mais de R$ 100 (o tal "efeito multiplicador"), n�o perceber que, segundo sua pr�pria teoria, se o gasto tivesse sucesso em elevar a demanda, poderia tanto cair como subir relativamente ao PIB. N�o entende sequer as consequ�ncias daquilo que professa....
Da mesma forma � curioso que Barbosa em momento algum mencione a queda da taxa de juros, que se tornou poss�vel depois da promessa de ajuste fiscal, na forma do teto para despesas p�blicas.
Parece que, para ele, apenas o gasto p�blico tem a capacidade de estimular o crescimento; por algum motivo misterioso, o juro mais baixo n�o teria esse poder. Tal argumento poderia caber em economias que apresentem taxa de juros perto de zero, mas eu diria que esse n�o parece ser o caso do Brasil, certo?
Posto de outra forma, Barbosa ignora toda literatura macroecon�mica que sugere que a contra��o fiscal pode ser compensada (ou, no caso, mais do que compensada) pela redu��o da taxa de juros, desde que a taxa nominal de juros n�o se encontre pr�xima a zero.
Deixa de lado tamb�m que o crescimento que resulta da combina��o de austeridade fiscal e (consequente) juro mais baixo tende a ser mais forte do que o decorrente de gasto e juro mais elevados, precisamente porque o investimento privado � maior no primeiro caso, em resposta ao juro mais baixo. J� se a omiss�o � intencional ou n�o, n�o sei dizer.
N�o vejo, para ser sincero, nenhum problema em mudar de ideia. Barbosa poderia ter refletido melhor e conclu�do que contingenciamento � uma m� pol�tica. Assim como poderia ter ca�do em si e notado que sua proposta de teto para o gasto p�blico seria contracionista e negaria � popula��o acesso a servi�os indispens�veis.
Ou ainda, depois de muita investiga��o, decidido que a proposta de reforma previdenci�ria n�o mereceria seu apoio.
Isso dito, suas bruscas mudan�as de opini�o parecem fortemente correlacionadas a fazer ou n�o parte do governo.
A correla��o pode, � claro, ser mero acaso, mas � bem mais prov�vel que seja pura desonestidade.
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