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Olhar fixamente para o seu cão pode conectar seu cérebro com o dele

Estudo é o primeiro em que o acoplamento neural entre diferentes espécies foi testemunhado

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The Conversation

Pode parecer absurdo, mas pesquisa recente sugere que os cérebros de cães e humanos se sincronizam quando olham um para o outro.

O estudo, conduzido por pesquisadores, na China, é o primeiro em que o "acoplamento neural" entre diferentes espécies foi testemunhado.

Acoplamento neural é quando a atividade cerebral de dois ou mais indivíduos se alinha durante uma interação. Para humanos, isso ocorre, geralmente, em resposta a uma conversa ou a uma história.

A imagem mostra um close dos olhos de um cachorro, com um olho castanho e o outro azul. O pelo ao redor dos olhos é preto e branco, destacando a diferença de cor dos olhos.
Husky siberiano durante treino em Cairngorm, na Escócia - Andy Buchanan - 26.jan.23/AFP

O acoplamento neural é observado quando membros da mesma espécie interagem, incluindo camundongos, morcegos, humanos e outros primatas. Essa ligação entre cérebros é, provavelmente, importante para moldar respostas durante encontros sociais e pode resultar em comportamentos complexos que não seriam observados isoladamente, como melhorar o trabalho em equipe ou o aprendizado.

Quando espécies sociais interagem, seus cérebros se "conectam". Mas, quando isso acontece entre espécies diferentes, levanta considerações interessantes sobre as sutilezas do relacionamento entre humanos e cães —e pode nos ajudar a entender um pouco melhor uns aos outros.

O que há de novo, cachorrinho?

O cão foi um dos primeiros animais domesticados pelos humanos. E eles têm uma longa história de compartilhamento de tempo e espaço conosco. Os cães não são apenas companheiros para nós, eles também têm funções importantes em nossa sociedade, incluindo apoio terapêutico, detecção de doenças, proteção e pastoreio de gado.

Como resultado, esses animais domésticos desenvolveram algumas habilidades impressionantes, incluindo a capacidade de reconhecer e responder ao nosso estado emocional.

No estudo recente, os pesquisadores avaliaram o acoplamento neural usando um equipamento de registro de atividade cerebral chamado eletroencefalografia não invasiva (EEG). Esse equipamento usa um capacete contendo eletrodos que detectam sinais neurais –neste caso, dos cães da raça beagle e dos humanos envolvidos no estudo.

Pesquisadores examinaram o que aconteceu com esses sinais neurais quando cachorros e pessoas foram isolados uns dos outros e, depois, na presença um do outro, mas sem se olharem. Em seguida, eles foram autorizados a interagir entre si.

Olhe nos meus olhos

Quando eles se olhavam, e os cães eram acariciados, os sinais cerebrais se sincronizavam. Os padrões cerebrais em áreas-chave do cérebro associadas à atenção coincidiram tanto no cão quanto na pessoa.

Quando ambos se tornaram mais familiarizados uns com os outros ao longo dos cinco dias do estudo, apresentaram maior sincronização de sinais neurais. Estudos anteriores sobre interações entre humanos descobriram que o aumento da familiaridade entre as pessoas também resultou em padrões cerebrais mais próximos. Portanto, a profundidade do relacionamento entre pessoas e cachorros pode tornar o acoplamento neural mais forte.

A capacidade dos cães de formar fortes vínculos com os humanos é bem conhecida. Um levantamento de 2022 descobriu que a presença de humanos familiares poderia reduzir as respostas ao estresse em lobos jovens, parentes próximos dos cães. A formação de conexões neurais com as pessoas pode ser uma das maneiras pelas quais o relacionamento entre os animais e os humanos se desenvolve.

Os pesquisadores também estudaram o possível efeito das diferenças no cérebro sobre o acoplamento neural. Para isso, incluíram cães com uma mutação em um gene chamado Shank3, que pode levar à conectividade neural prejudicada em áreas do cérebro ligadas à atenção. Esse gene é responsável pela produção de uma proteína que ajuda a promover a comunicação entre as células e é especialmente abundante no cérebro. Mutações em Shank3 também foram associadas ao transtorno do espectro autista em humanos.

Os cães do estudo com a mutação Shank3 não apresentaram o mesmo nível de sinais cerebrais correspondentes com as pessoas, que os cães sem a mutação. Isso foi potencialmente devido à sinalização e processamento neural prejudicados.

No entanto, quando os cientistas deram aos cães do estudo com a mutação Shank3 uma única dose de LSD (uma droga alucinógena), eles apresentaram níveis aumentados de atenção e restauraram o acoplamento neural com humanos.

Sabe-se que o LSD promove comportamento social em camundongos e humanos, embora haja claramente preocupações éticas sobre tal tratamento.

Os especialistas deixaram claro que ainda há muito a ser aprendido sobre o acoplamento neural entre cachorros e pessoas.

É bem possível que olhar nos olhos do seu cão signifique que seus respectivos sinais cerebrais vão se sincronizar e aumentar a conexão entre vocês. Quanto mais familiarizados vocês estiverem um com o outro, mais forte ela se torna, ao que tudo indica.

Portanto, da próxima vez que um cão olhar para você com aquele irresistível olhar de cachorrinho, lembre-se de que você pode estar melhorando seu relacionamento.

Este artigo foi publicado no The Conversation Brasil e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original

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