Elaborado durante pesquisa de doutorado, um tipo de foguete artesanal quer recuperar a vegetação nativa da caatinga de forma eficaz e com custo baixo. A ideia é espalhar sementes dessas plantas nos voos, em um raio de 20 a 50 metros do ponto de lançamento.
Entre as espécies de plantas usadas no experimento estão o pinhão-bravo, a catingueira e o mororó. O voo chega no máximo a 120 metros de altitude, para evitar conflitos no tráfego aéreo, mas pode alcançar áreas de difícil acesso.
Renan Aversari, físico e autor do projeto, fez testes em áreas do município de Cabaceiras (PB). Segundo ele, o foguete feito de garrafa PET, fibra de vidro e impressão 3D pode democratizar a recuperação do bioma.
"A gente utiliza algumas mangueiras hidráulicas de alta pressão para fazer as conexões, um compressor também de alta pressão. Hoje no mercado chinês a gente consegue isso com um preço bastante acessível", explica o físico. "Nada absurdo, nem fora da realidade."
Aversari relata que desenvolveu o foguete durante suas aulas para estudantes do ensino fundamental em um projeto chamado Ateliê de Invenções. Ao colaborar na confecção de um protótipo, o educador viu o potencial do objeto ser utilizado para um fim maior.
Ele então levou a criação para o doutorado na UFPB (Universidade Federal da Paraíba) e incorporou mais tecnologias para a nova missão.
O físico destaca que a ideia é colaborar na recuperação de áreas degradadas com um modo mais econômico, não substituir o método tradicional, com o uso de aeronaves. Hoje o custo médio de uma operação em área degradada é cerca de R$ 2.500, diz. Com o foguete, o valor cai para em torno de R$ 500.
O autor do projeto ressalta que elaborou mecanismos para o foguete não ser perdido após os voos, também utilizando tecnologias acessíveis e de custo baixo.
"Eu fiz uma modelagem matemática para descrever com precisão o comportamento do foguete", conta. No processo, um computador de bordo aciona os mecanismos necessários. "Ele abre o paraquedas, faz a dispersão e é rebocado de volta ao ponto de lançamento", descreve.
Análises publicadas em outubro de 2023 na revista Scientific Reports, mostram que restam apenas 11% da área coberta pela caatinga, vegetação típica do Nordeste, em comparação com a que deve ter existido antes da ocupação humana.
Além da caatinga, o físico pretende testar agora a invenção no pantanal e na amazônia, biomas também ameaçados pelo desmatamento e pela degradação causada por incêndios.
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