Paula Gama

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IPVA 2025 SP: por que Tarcísio deixou os carros elétricos fora da isenção

Na última semana, a Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou o projeto de Tarcísio de Freitas que isenta o IPVA por dois anos para veículos híbridos flex (abastecidos com etanol) e movidos a hidrogênio. A decisão, porém, reacendeu o debate iniciado em outubro de 2023, quando o governador vetou um projeto semelhante que incluía carros 100% elétricos e híbridos a gasolina.

Na ocasião, a justificativa do governador foi baseada na matriz energética paulista, no fortalecimento do etanol e no impacto orçamentário da medida. Mas a exclusão dos elétricos trouxe polêmica e críticas tanto do setor automotivo quanto de especialistas em mobilidade limpa.

Por que os elétricos ficaram de fora?

Segundo Roberto James, especialista em comportamento de consumo e mercado automotivo, a decisão de Tarcísio é estratégica e reflete a realidade econômica e energética do estado de São Paulo.

"O governador apostou em algo que favorece a indústria local e a cadeia do etanol, que é a vocação econômica de São Paulo. O estado produz três vezes mais etanol que Goiás, o segundo maior produtor, então faz sentido que o incentivo vá para os híbridos flex. Isso movimenta o agronegócio, a indústria de veículos e gera empregos dentro do estado", explica James.

Além do foco na economia paulista, há também o aspecto industrial. "Cerca de 96% a 98% dos carros elétricos vendidos no Brasil são importados, enquanto os híbridos flex, como o Toyota Corolla Cross e o Corolla Hybrid, são produzidos localmente. O governo fez uma escolha de proteger o que já existe no estado", complementa o especialista.

Críticas da ABVE: isenção pouco eficaz para descarbonizar

A ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico) criticou a medida, alegando que ela premia tecnologias menos eficientes em termos ambientais. Em nota, a entidade classificou a proposta como "não isonômica e discriminatória" e alertou para um possível efeito fiscal inverso.

"A proposta poderá premiar os micro-híbridos flex, que têm baixo grau de eletrificação e pouca ou nenhuma contribuição efetiva à redução de poluentes. Enquanto isso, tecnologias como os 100% elétricos (BEV) e os híbridos plug-in (PHEV), que realmente descarbonizam, foram deixadas de fora."

A ABVE também destacou que muitos proprietários de veículos híbridos flex ainda preferem abastecer com gasolina, o que limita os benefícios ambientais do incentivo ao etanol. "O resultado poderá ser paradoxal: ao invés de reduzir as emissões, a medida pode incentivar o consumo de combustíveis fósseis", afirma a entidade.

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Infraestrutura: um obstáculo para os elétricos

Outro fator que pesa contra os veículos elétricos, segundo Roberto James, é a infraestrutura insuficiente de recarga no Brasil. "Nos Estados Unidos, que estão 10 a 20 anos na frente, a falta de carregadores ainda é um problema. Imagine aqui, onde estamos apenas no começo? São Paulo ainda não tem condições de absorver uma alta demanda por elétricos. Os híbridos flex não dependem de tomada, então são uma alternativa viável para o momento atual", destaca James.

A medida do governo paulista beneficia diretamente a Toyota, que produz seus híbridos flex em São Paulo, e poderá incentivar marcas como a Volkswagen, Chevrolet e a GWM, que planejam lançar híbridos flex no Brasil nos próximos anos. Apesar de a isenção só durar até 2026, a alíquota será retomada gradualmente, subindo para 1% em 2027 e chegando a 4% (porcentagem atual) apenas em 2030.

O que aumenta a disputa é que a BYD chega no próximo ano com a produção de elétricos na Bahia. Nesse caso, o incentivo a híbridos flex em São Paulo seria uma "compensação" às marcas locais pelos benefícios dados às montadoras do Nordeste e Centro-Oeste.

O paradoxo, nesse contexto, é que atualmente, modelos híbridos flex da Caoa e da Fiat (que produzem veículos em plantas que recebem incentivos) também serão beneficiados, deixando claro a intenção de atingir a chinesa.

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