Curitiba precisa cuidar melhor do que restou de suas matas naturais. Esse é o recado que Clóvis Borges, diretor executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) dá para a capital paranaense neste aniversário de 319 anos. Formado em medicina veterinária e mestre e zoologia, Borges acredita que Curitiba está deixando suas reservas de mata nativa morrerem.
“Estamos vivendo numa época de um verdadeiro boom de crescimento do mercado imobiliário. Por onde você anda na cidade, é possível ver obras e mais obras, e com isso alguns interesses acabam se sobressaindo diante de uma realidade de que é preciso cuidar do que sobrou das nossas matas para que Curitiba tenho um futuro melhor, mais sustentável. E não estou falando de mudanças a curto prazo e não a médio e longo prazo”, afirma.
Borges acredita que a cidade precisa criar políticas mais eficazes para evitar que o crescimento da cidade seja controlado, evitando assim que mais áreas verdes sejam eliminadas na cidade.
“É notório que a cidade cresceu muito nos últimos dez anos, mas é preciso crescer com responsabilidade para que Curitiba não sofra no futuro com o crescimento desenfreado. A cidade está avançando fronteiras e já entrando nos municípios da Região Metropolitana e é lá que estão nossos mananciais e as últimas matas nativas. Nessa velocidade, muito em breve não teremos mais essas reservas e isso pode afetar toda a cidade. Uma mata ruim, por exemplo, afeta a qualidade da nossa água, que vem de fora da capital”, alerta Borges.
Fiscalização
Em relação às leis municipais de proteção ambiental, Borges acredita que Curitiba está bem avançada neste sentido, mas peca na falta de fiscalização.
Para ele, é preciso criar mecanismos para que a fiscalização seja maior e que leis sejam vantajosas economicamente para as pessoas que possuem ou pretende possuir áreas de preservação.
“Precisamos aprimorar algumas leis para sejam cumpridas e, principalmente, para que se torne um bom negócio um cidadão manter um pedaço de mata natural”, conta.
RPPNMs
Uma das sugestões apontadas pelo diretor executivo do SPVS é reforçar a política de criação das Reservas Particulares do Patrimônio Natural Municipal (RPPNMs).
“Também temos lei bem interessantes aqui em Curitiba em relação a essas áreas, que servem até de exemplo para outras cidades do país, mas é preciso divulgar mais, fazer com que a coisa saia do papel”, pede Borges.
Incentivos existem, diz SMMA
Segundo a secretária municipal de Meio Ambiente, Marilza Dias, ações de incentivos para preservação e conservação de áreas verdes em Curitiba já fazem parte da política da cidade.
“Temos exemplos como a redução do imposto predial para terrenos com bosques e araucárias, oferecemos condições diferenciadas de uso e aumento do gabarito vertical para terrenos com bosques, somado a criação de Unidades de Conservação com o intuito de conservar e preservar nascentes, córregos e mata”, afirma Marilza.
Sobre a sugestão apontada por Borges, em relação às políticas para evitar o crescimento incontrolável da cidade, a secretária afirma que a legislação de uso e ocupação do solo e a legislação de proteção de áreas verdes impõe restrições para a ocupação de terrenos com bosques.
“Os terrenos com bosques cadastrados integram uma área especialmente protegida, denominada Setor Especial de Áreas Verdes, que possuem condições diferenciadas de ocupação”, conta.
Ferramentas
Clóvis ,Borges sugere que sejam criados mais mecanismos de fiscalização para que se cumpram as leis ambientais da cidade. Sobre isso, Marilza diz que Curitiba já conta com mecanismos de fiscalização e controle previstos na legislação ambiental.
“A apuração precisa dos dados, com o uso de tecnologia de ponta, permitiu o aumento da capacidade de identificação de massas vegetais. A leitura das áreas de cobertura vegetal da cidade passaram nos últimos dez anos de 18% para 26%”, argumenta.
Reservas particulares
Para a secretária municipal do Meio Ambiente, a sugestão relacionada à criação de mais Reservas Particulares do Patrimônio Natural Municipal (RPPNMs) já está em pleno andamento devido à recente revisão da legislação sobre RPPNM.
“Essa revisão contemplou, dentre outras novidades, incentivos para a conservação dos recursos hídricos e a tramitação prioritária dos processos de criação de RPPNMs. Além disso, por meio de parcerias, a nossa secreatria participa com a sociedade de ações de incentivo à criação destas reservas, orientando e esclarecendo os proprietários interessados”, diz Marilza.