É impossível conter a comoção diante do caso de Terri Schiavo, a americana que há quinze anos vive em estado vegetativo, segundo comprovação da medicina neurológica. Ela sofreu pesado dano cerebral devido a uma parada cardíaca por falta de potássio, passando a receber alimento artificial e água por meio de uma sonda.
O marido de Terri, Michael Schiavo, entrou na Justiça com pedido de retirada da sonda a fim de abreviar o sofrimento da esposa, alegando desejo dela própria em não prolongar um sofrimento irreversível. O caso se arrastou por sete anos, até ser dada a ordem para a retirada do tubo que a mantém viva.
Nesse caso, a morte de Terri deverá ocorrer em poucos dias. Seus pais, desacreditando inclusive do diagnóstico médico da doença, contra a decisão do genro, foram também à Justiça clamar pelo religamento da sonda.
Nesse ínterim, o Congresso pressionado pelo Partido Republicano votou uma lei, sancionada às pressas pelo presidente Bush, possibilitando aos pais de Terri levarem o caso à Justiça federal. Contudo, a Suprema Corte reconheceu a decisão tomada pelo juizado de Pinellas Park, Flórida, onde Terri está internada numa clínica neurológica, ordenando que a sonda permaneça desligada.
O governador da Flórida, Jeb Bush, irmão do presidente, também teve negado o pedido de transferência da custódia legal da paciente para o serviço estadual de proteção à família. A posição foi tomada pelo juiz George Greer.
A discussão sobre a ética da medicina quanto ao prolongamento da vida por meios artificiais e o desdobramento da delicada questão, tendo em vista os matizes da religião e o oportunismo da conveniência política, fazem da dolorosa experiência de Terri Schiavo emblema da profunda ambigüidade do pensamento pós-moderno.
São cada vez mais tênues os laços que prendem o homem aos fundamentos éticos e morais, o maior deles a valorização da vida como bem supremo. A despeito das razões pinçadas da legislação, glaciais em seu sentido extremo, vê-se o sofrimento inaudito de pais, irmãos, parentes e amigos, porção compartilhada por gente do mundo inteiro.
No calvário de Terri, celebrem os homens de boa vontade, no dia da ressurreição do Cristo, a aliança da humildade e reflexão.
