Os 3 mil funcionários do complexo industrial da Kraft Foods Brasil, localizado na Cidade Industrial de Curitiba, ameaçam cruzar os braços e parar a produção caso a empresa não evolua sua proposta salarial. O indicativo de greve foi aprovado ontem em assembléias realizadas pelo Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Fumo do Paraná e nas Indústrias de Cacau e Balas, Doces, Bebidas em Pó e Preparados Sólidos para Refrescos de Curitiba (Sintrafucarb), com a presença de cerca de mil empregados. Com data-base em primeiro de agosto, a categoria reivindica reposição salarial de 18,32%, referente ao INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) de agosto de 2002 a julho de 2003. A Kraft ofereceu 10% de reajuste, índice rejeitado pela categoria.
“Fizemos várias reuniões de negociação e não houve acordo”, relata o presidente do Sintrafucarb, José Agnaldo Pereira. “A greve está decidida, só falta marcar a data.” Hoje, o sindicato dos trabalhadores encaminha ofício comunicando a empresa do indicativo de greve. Pereira disse que vai continuar negociando para evitar a paralisação. A idéia é marcar uma mesa redonda na Delegacia Regional do Trabalho e, persistindo o impasse, ajuizar um pedido de dissídio coletivo no Tribunal Regional do Trabalho.
De acordo com o sindicato, a greve deve sair na segunda quinzena de setembro. Segundo o presidente do Sintrafucarb, a única possibilidade de evitar a greve é a Kraft conceder a reposição das perdas pelo INPC. “Qualquer coisa fora disso, a fábrica está parada”, avisa Pereira. Se confirmada, será a primeira greve na Kraft Foods desde 2000. Quando funcionava no local a fábrica de cigarros Philip Morris, houve uma paralisação de 15 dias. No ano passado, a negociação com a Kraft foi tranqüila, com reajuste salarial de 9,12%.
Empregos
Inaugurado pelo presidente Lula no último dia 14 de agosto, o complexo da Kraft Foods Brasil reúne três fábricas: chocolates Lacta, bebidas em pó Tang e Clight e queijo cremoso Philadelphia. As unidades empregam 3 mil pessoas, mas a partir de setembro haverá mais 1,2 mil contratações temporárias (de seis meses) para a produção de Páscoa. O salário médio dos empregados da Kraft é de R$ 700. O piso para ajudante geral com 1.º grau completo é R$ 463, mas há cargos de até R$ 2,3 mil. Os temporários ganham R$ 370.
De acordo com Pereira, na solenidade de inauguração do complexo, “a empresa fez questão de demonstrar que vai muito bem, produzindo bastante e lucrando muito. O mesmo não ocorre com os trabalhadores, os verdadeiros responsáveis por todo este sucesso”. Segundo Pereira, os trabalhadores estariam sendo pressionados dentro da fábrica, com ameaças de demissões.
Em nota enviada pela assessoria de imprensa, a Kraft Foods Brasil confirma que está em plena negociação com o Sintrafucarb, discutindo a pauta de reivindicações. “A Kraft informa que as discussões, que acontecem sempre neste período do ano, estão em andamento e ocorrem dentro da normalidade”, diz o comunicado. A assessoria informou que não poderia fornecer detalhes da negociação.