A Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab) alerta aos produtores para que façam o controle dos sauveiros a partir de setembro. As chuvas previstas para os meses posteriores ao inverno marcam o início da revoada das formigas cortadeiras (saúvas), iniciando o processo de formação de enormes formigueiros. Para evitar que as áreas tornem-se improdutivas, uma resolução estadual obriga os agricultores a adotarem medidas de controle. Caso contrário, são notificados e multados pela fiscalização da Seab.
Diversas espécies de formiga saúva são encontradas no Paraná, distribuídas em praticamente todas as regiões, explica o pesquisador Alfredo Otávio Rodrigues de Carvalho, da Área de Proteção de Plantas do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). Mas o maior volume de sauveiros ocorre na região do Arenito Caiuá, no Noroeste do Estado. Por ser uma região onde predominam as pastagens, a espécie de saúva de maior ocorrência é a Atta capiguara (saúva parda), seguida de perto pela Atta sexdens rubropilosa (saúva limão). Nas demais regiões, em populações mais baixas, ocorrem as espécies Atta laevigata (saúva cabeça-de-vidro), Atta piriventris (somente na regiões Sul e Sudoeste) e Atta sexdens sexdens.
As saúvas preocupam por causa de seu hábito alimentar. “Elas cortam a parte aérea de muitas espécies vegetais e transportam para o interior do sauveiro, onde servirão de substrato para o desenvolvimento de um fungo, do qual as formigas se alimentam. Ao contrário do que muitos pensam, as saúvas não se alimentam dos vegetais que elas cortam e transportam. Assim, ao cortar os vegetais, as saúvas estão causando danos diretos às plantações”, detalha o pesquisador do Iapar.
Os danos das saúvas são freqüentemente observados em reflorestamentos e áreas de pastagens. Nestas áreas, as saúvas podem competir diretamente com os bovinos pelo alimento. “Cerca dez sauveiros adultos por hectare cortam diariamente o mesmo o volume de gramínea suficiente para alimentar um boi/dia, diminuindo assim a capacidade de suporte das pastagens”, cita Alfredo Carvalho.
Não existem dados estatísticos sobre a ocorrência da formiga saúva no Estado, mas o trabalho de campo dos técnicos da Emater/PR e do Iapar indica que a incidência caiu significativamente na última década. “Esta diminuição deve-se principalmente à conscientização dos produtores rurais da necessidade de se controlar estas espécies, devido aos danos provocados por elas; das campanhas realizadas pelos órgãos governamentais estaduais e municipais e também, em parte, devido à grande renovação de áreas de pastagens”, avalia o pesquisador do Iapar.
Técnicas
Há diversas técnicas para se controlar o problema das formigas. Apesar dos pesquisadores em mirmecologia (ciência que estuda as formigas) trabalharem na busca de métodos alternativos nos últimos anos, o método mais usado continua sendo a químico, com produtos na forma de isca, formulação pó e termonebulização. Entre as técnicas alternativas, destacam-se: o controle biológico (através de fungos), a utilização de plantas inseticidas (gergelim, mamona e batata-doce, entre outros) e práticas agrícolas.
“Já existe comprovação científica de que a formiga aparece muito em áreas degradadas. Pastagens de monocultura abandonadas durante muitos anos são um prato cheio para as formigas. A simples renovação de uma pastagem reduz em até 90% os casos de ataque”, diz o engenheiro agrônomo Filipe Braga Farhat, chefe da fiscalização do uso do solo agrícola da Seab. No entanto, “onde já existem formigueiros instalados com ramificações, é necessário aplicar produto químico”, completa. Nas regiões de maior concentração de sauveiros, a Seab organiza campanhas de conscientização dos produtores, através de palestras, esclarecimentos e orientações nas propriedades rurais.
“As saúdas representam uma preocupação bastante grande para a Secretaria da Agricultura. Se uma área estiver muito contaminada, coloca em risco todo o patrimônio das lavouras vizinhas”, salienta Filipe Farhat. “Por isso, cada produtor deve, por obrigação e por lei, controlar o problema dentro da sua propriedade”, emenda. Nesse ano, a legislação estadual que determina a obrigatoriedade do controle nas propriedades será modernizada, em função dos avanços na pesquisa. “Até agora o governo foi mais brando em relação a esta questão, mas daqui para frente vai cobrar mais responsabilidade dos produtores. O objetivo é agir preventivamente”, destaca o engenheiro agrônomo da Seab.
Com o avanço da ciência, surgiram práticas mais eficientes que não determinam a erradicação total, mas um controle eficiente dos sauveiros. “Ecologicamente, não se pode falar em extermínio das formigas, mas que elas estejam em proporção de equilíbrio na natureza. É natural que existam as formigas, mas inadmissível que causem danos às culturas”, finaliza Filipe Farhat.
Serviço – De 14 a 19 de setembro, acontece em Florianópolis (SC) o XVI Simpósio de Mirmecologia (www.xvi-smirmecologia.ufsc.br), que apresentará os últimos resultados das pesquisas sobre o tema.