Ao menos 21 pessoas morreram no Estado de São Paulo por causa dos efeitos da forte chuva que caiu entre a noite de quinta-feira, 10, e a madrugada de sexta, 11. Segundo a Defesa Civil do Estado, há 12 feridos e dezenas de desabrigados. Francisco Morato, Mairiporã, Franco da Rocha, Itapevi, Cajamar, Caieiras, Guarulhos e a capital, na Grande São Paulo, além de Itatiba, no interior, foram os municípios mais atingidos. Na manhã desta sexta, para evitar o rompimento da barragem que pertence ao Sistema Cantareira, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) teve de abrir as comportas da Represa Paiva Castro, entre as cidades de Franco da Rocha e Mairiporã.
Em Itapevi, segundo os bombeiros, duas pessoas morreram soterradas. Em Francisco Morato, os deslizamentos de terra deixaram onze mortos durante a madrugada desta sexta-feira. As vítimas estavam em imóveis localizados na Rua Irã, no Jardim Santa Rosa, nas Ruas Raul Pompeia e Maurício Neto, no Jardim Santo Antônio, e na Rua Pedro de Toledo, no bairro São José. Dois feridos foram socorridos. O estudante Tainã Caetano, de 18 anos, viu de perto o deslizamento de terra que soterrou a casa de seus vizinhos, o casal Mandur e Neusa e o filho Alisson, de 23 anos na Rua Irã. “A terra veio que nem foguete”, contou ele, que estava na calçada por volta de 23h30, quando a tragédia começou. Os bombeiros continuam nos locais tentando localizar as vítimas soterradas.
A Defesa Civil de Francisco Morato informou que há, no mínimo, 15 pontos com risco de desabamento na cidade. O centro está alagado, e os trens da Linha 7-Rubi, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), não circulam por causa da água que invade os trilhos. A prefeitura decidiu suspender as aulas na rede municipal e usar os prédios escolares para abrigar as vítimas.
Em Mairiporã, quatro pessoas morreram – os bombeiros haviam informado anteriormente cinco óbitos – e há seis desaparecidos. Sete pessoas ficaram feridas. Uma criança socorrida morreu no hospital. O deslizamento de terra atingiu três casas na Rua Primavera, por volta das 21h40 de quinta-feira, em uma região de morro no bairro Jardim Nery.
A auxiliar de cozinha Isabela Taís foi nesta manhã até a casa da irmã, uma das três residências soterradas, atrás de notícias. “Minha irmã tinha saído da casa quando a terra começou a descer, mas voltou para pegar o bebê e não saiu mais. Só meu cunhado conseguiu”, contou. Seis pessoas da família de Isabela foram soterradas. A Defesa Civil interditou um quarteirão no bairro. Em princípio, cerca de 50 famílias terão de deixar suas casa.
A prefeitura de Mairiporã confirmou somente uma morte até as 11 horas desta sexta-feira. A administração municipal também divulgou que há cinco pessoas hospitalizadas e nove desaparecidas. Outras sete foram socorridas pela Defesa Civil e pelo Corpo de Bombeiros.
Os bairros em estado mais crítico em Mairiporã são Parque Náutico, Flor da Bragança, Jardim Carpi, Jardim Henrique Martins, Jardim Fernão Dias, Capoavinha, Jardim Santana, Jardim Brilha e Mato Dentro. Os desabrigados devem ir para o Ginásio Municipal Florêncio Pereira.
Afogamento
Ainda segundo os bombeiros, duas pessoas morreram afogadas, uma Guarulhos e outra em Caieiras. Na cidade de Cajamar, o Ribeirão dos Cristais transbordou e deixou as principais vias da cidade inundadas, além do quilômetro 36 da Rodovia Anhanguera. Há relatos de pessoas presas no trânsito desde a noite desta quinta. O distrito de Polvilho está isolado, informou a prefeitura.
O município de Franco da Rocha também foi atingido com violência pelas chuvas. Não houve mortos, mas parte da cidade ficou completamente alagada. A Defesa Civil e todas as equipes da prefeitura foram para as ruas e orientaram a população que vive em áreas de risco a deixar suas casas. O Centro Cultural Newton Gomes de Sá e o Clube das Acácias foram abertos para receber os desabrigados. Por causa da forte tempestade, os trens e as linhas municipais de ônibus tiveram a circulação interrompida e, aos pouco, retomam os trabalhos. As aulas na rede municipal foram suspensas.
Em Caieiras, a Defesa Civil informou que há mais de 30 deslizamentos de terra e diversas residências estão inundadas. O centro e os bairros próximos são as áreas mais prejudicadas pelas chuvas.
Interior
As fortes chuvas também causaram transtornos no interior paulista. Duas pessoas morreram em Itatiba. Em Várzea Paulista e Jundiaí, 11 mil domicílios ficaram sem energia, segundo a concessionária CPFL Piratininga. O temporal em Sorocaba causou o transbordamento do Rio Sorocaba e deixou sob as águas parte de um bairro e da principal avenida da cidade. Deslizamentos interditaram casas em Cabreúva e Alumínio.
São Paulo
Em São Paulo, as chuvas causaram o transbordamento dos Rios Tietê e Pinheiros e de três córregos: Perus, na zona norte da capital; Lajeado, na zona leste; e Morro do S, na zona sul. Um deslizamento deixou quatro feridos na Jardim Ângela, na zona sul. As vítimas foram socorridas na Rua Achaira e levadas ao Posto de Saúde do M’Boi Mirim.
A Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), na Vila Leopoldina, zona oeste da capital, continua com pontos de alagamento. Os portões 3, 13 e 14 da Ceagesp, que haviam sido interditados, reabriram para o tráfego de caminhões por volta das 9 horas. A única área que continua interditada é o Pavilhão das Melancias, que passa por limpeza no momento. Todos os produtos atingidos pela água tiveram de ser descartados. Apesar da tempestade, a feira das flores ocorreu normalmente entre a meia-noite e as 8 horas.
Aeroportos
O Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo, ficou fechado para pousos e decolagens das 23h50 até as 6h06. A forte chuva alagou parte da subestação de energia do local e causou falta de luz em parte das pistas. O prédio principal e os saguões não foram afetados. Pelo menos 12 voos foram remanejados para outros aeroportos e outros seis foram cancelados, informou o terminal. Na manhã, 35 viagens atrasaram.
O Aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo, não teve o funcionamento afetado pelas chuvas, segundo a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). Ele opera das 6 horas às 23 horas diariamente.
Previsão do tempo
A metereologista do Climatempo Aline Tochio informou que uma chuva bastante volumosa era esperada de quinta para sexta-feira desde o início da semana. Ainda não é possível precisar com exatidão a quantidade de água que caiu sobre os municípios – dados consolidados serão divulgados ao longo do dia. A média do acúmulo de chuva para março é de 160 milímetros. A maioria das estações do CGE registrou mais de 60 mm e uma chegou a marcar 96 mm, informou. “É um valor muito alto para esse período de 24 horas. A previsão para esta sexta é de chuva moderada. No fim de semana, a possibilidade de chover é bem menor.”
A estação do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou, ao todo, 87 mm de chuva de quinta para sexta, o equivalente a 54% do esperado para o mês. Do dia 1º de março até as 9 horas desta sexta-feira, 11, o acumulado está em 110 mm, ou seja, 68,75% da média usual.
O Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) afirmou que não há mais pontos de alagamentos intransitáveis em São Paulo e que a chuva forte segue agora em direção ao Rio de Janeiro. Nesta quinta-feira, a capital paulista registrou 536 quedas de raios em apenas quatro horas.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), cancelou todos os compromissos do dia e, segundo sua assessoria de imprensa, está em contato com os prefeitos das cidades atingidas. À tarde, Alckmin visitou municípios afetados. “Desde ontem, 50 homens estão trabalhando, mas o terreno está muito molhado, úmido, é um trabalho difícil”, afirmou o governador em Mairiporã.
Questionado se a falta de ações preventivas provocou esta situação, Alckmin disse que “agora o momento é de socorrer vítimas”.
A vice-prefeita da capital, Nadia Campeão, que responde pelo plano de chuvas da cidade, está no CGE em reunião emergencial.