Telegram aumenta moderação no app após prisão de CEO; entenda
Mudanças do Telegram devem garantir maior controle no envio de mensagens incitando discursos de ódio e crimes no aplicativo; entenda como a mudança pode te afetar
O Telegram modificou, nesta quinta-feira (5), a política de privacidade do app envolvendo a moderação de conversas privadas dos usuários. A decisão foi publicada na página FAQ, de perguntas e respostas mais frequentes da plataforma, duas semanas após a prisão do CEO do mensageiro, Pavel Durov, em um aeroporto na França. Disponível para Android e iPhone (iOS), o aplicativo agora fará a moderação de conversas privadas que ficam armazenadas na nuvem do app, o que deve garantir um maior controle das mensagens e mídias compartilhadas.
Em declaração oficial após a prisão, Pavel Durov alegou que os eventos de agosto fariam o Telegram “mais forte e seguro” para os usuários. Nas próximas linhas, entenda tudo sobre a novidade do Telegram, como ela pode te afetar e confira mais detalhes sobre a prisão do CEO do aplicativo.
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O que mudou na política de privacidade do Telegram?
O Telegram mudou a política de privacidade e retirou a informação de que as conversas privadas entre os usuários estavam isentas de moderação por parte do app. A novidade atende à demanda de autoridades europeias que exigiam maior controle no envio de mensagens criminosas e de ódio contra terceiros em conversas dispostas na nuvem da plataforma.
O aplicativo utilizava um modelo de moderação que focava em dar mais liberdade aos usuários para as conversas preservadas na nuvem do app, como conversas privadas e em grupo. Além disso, o Telegram oferece ferramentas como o “chat secreto”, que ativa uma conversa criptografada de ponta a ponta e torna mais segura a troca de mensagens entre os usuários. Essa segurança nas mensagens, porém, passou a ser utilizada por criminosos para compartilhamento de mensagens de ódio e publicidade de ideais extremistas.
Diante disso, as diretrizes do app foram muito questionadas pelas autoridades de alguns países europeus, como a França, por não atuarem no processo de investigação da prática de crimes no aplicativo. Como consequência, o CEO Pavel Durov foi indiciado pelo não cumprimento de medidas judiciais no processo de filtrar mensagens e restringir o acesso de usuários extremistas, tendo sua prisão decretada em agosto ao chegar em território francês.
Com a pressão das autoridades, Durov anunciou, em declaração oficial, que traria mudanças para o Telegram em relação às mensagens trocadas no app. A mensagem do CEO aos usuários do aplicativo informava que “o aumento abrupto do número de usuários do Telegram para 950 milhões causou problemas crescentes que tornaram mais fácil para os criminosos abusarem de nossa plataforma”. Na mensagem, o executivo prometeu que ele pessoalmente atuaria no processo para resolver este problema e que traria em breve mais detalhes sobre os próximos passos.
Como denunciar conteúdo ilegal no Telegram?
Usuários do Telegram podem agora denunciar conteúdo ilegal aos moderadores da plataforma. Para Android, o cliente deve clicar na mensagem e selecionar a opção de denunciar. No iOS, basta pressionar e segurar a mensagem. Enquanto no Telegram Desktop, macOS e versão web, o usuário deve clicar com o botão direito, escolher a opção denunciar e selecionar o motivo. Apesar do FAQ oferecer essa possibilidade de denúncia, a opção ainda não estava disponível durante testes realizados pela equipe do TechTudo.
Caso a opção não esteja habilitada no dispositivo, o Telegram oferece a oportunidade do envio da denúncia para o e-mail automatizado da plataforma ([email protected]). O app reitera que o usuário envie os links e o perfil de quem está sendo denunciado. As mensagens serão analisadas pelos moderadores do Telegram.
O Telegram ainda é seguro?
A nova política de privacidade do Telegram passa a investigar e moderar informações de maneira mais participativa, mas esse ponto não influencia na segurança das mensagens trocadas no aplicativo. O serviço adota um modelo de protocolo MTProto, que permite maior segurança e confiabilidade nas mensagens. Essa dinâmica permite que o app preserve o usuário de ter as mensagens cooptadas por outros aplicativos ou programas externos.
A confiança na segurança da informação atraiu muitos novos usuários à plataforma, que destaca em seu site que as mensagens são criptografadas no aplicativo e não podem ser decifradas por provedores de serviços de internet, proprietários de roteadores de Wi-Fi conectados à sua rede e nem programas de terceiros. Segundo o Telegram, o app aciona uma criptografia cliente-servidor para chats em nuvem.
Para os usuários que desejam ter uma camada a mais de segurança em suas mensagens, o Telegram oferece a ferramenta “chat secreto”. Essa ferramenta não deixa rastros nos servidores do Telegram, não permite o encaminhamento e oferece a oportunidade de acionar mensagens autodestrutivas. Ela utiliza uma criptografia cliente-cliente e só permite o acesso às mensagens por meio dos dispositivos que participam da conversa direta. Desse modo, é possível afirmar que o Telegram ainda é seguro.
Por que Pavel Durov foi preso?
O CEO do Telegram, Pavel Durov foi preso no dia 24 de agosto, na França, em meio às investigações sobre a falta de controle de conteúdo criminoso no aplicativo. O empresário russo, que detém cidadania francesa, teve a sua prisão decretada assim que pousou no aeroporto Le Bourget, em Paris. Ele responde pela falta de cooperação no processo que investiga a insuficiente moderação das mensagens no Telegram.
Para as autoridades francesas, essa falta de moderação favorece alguns crimes, como transações ilícitas, exploração sexual infantil, fraude e tráfico de drogas. A Justiça francesa alega que a decisão visa proteger os cidadãos e garantir direitos fundamentais da população
Por que o Telegram é alvo da Justiça?
Segundo as investigações promovidas pela Agência Francesa de Prevenção à Violência Contra Menores, a liberdade na plataforma facilita a ação de criminosos na propagação de imagens de exploração sexual de crianças, além de promover crimes envolvendo transações ilícitas, lavagem de dinheiro e tráfico de drogas.
Ao todo, o Telegram e o CEO Pavel Durov são acusados de 12 crimes por duas instituições francesas, a Jurisdição Nacional de Combate ao Crime Organizado (Junalco) e o Escritório Nacional Antifraude. Dentre as acusações, ambos estão sendo investigados por serem cúmplices dos crimes, não cooperaram na investigação, desenvolverem recursos criptográficos não certificados pelas autoridades francesas e participarem supostamente de uma associação criminosa para lavagem de dinheiro.
O que diz o Telegram sobre o caso?
Em declaração oficial, o CEO Pavel Durov argumentou que recebeu a notificação de sua prisão com surpresa e criticou as declarações em veículos jornalísticos de que o Telegram é um “paraíso anárquico”. Ele explicou que a plataforma cumpre as leis cibernéticas da União Europeia, incluindo a Lei dos Serviços de Dados, que protege os dados dos usuários do aplicativo.
Pavel explica ainda no texto que o Telegram atua diariamente para conter e controlar o discurso de ódio em canais de mensagens. Segundo o CEO, a plataforma atua em parceria com ONGs e autoridades para que a moderação das mensagens seja o mais rápido possível. Além disso, ele destaca que o Telegram fornece publicações diárias de relatórios de transparência sobre suas ações e movimentos em relação às mensagens criminosas.
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