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Estigma contra homens vítimas de abuso sexual perpetua silêncio e impunidade

Um dos principais elementos do abuso sexual é o poder, que paralisa e silencia. Para piorar, homens dificilmente aceitam que foram vítimas.

Estigma contra homens vítimas de abuso sexual perpetua silêncio e impunidade

Fonte: Pexel Bay/CC0

O caso Alysson Mascaro, envolvendo denúncias de assédio e violência sexual contra diversos alunos do curso de Direito, traz à tona questões profundas relacionadas à invisibilidade, ao estigma e aos desafios enfrentados por homens que são vítimas de crimes contra a liberdade sexual.

As acusações, publicadas pelo Intercept Brasil, impressionam não apenas pela riqueza de detalhes nos relatos, mas também por iluminarem uma dimensão frequentemente negligenciada: a violência sexual contra homens.

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Este texto parte do entendimento de que o caso ainda não foi julgado, garantindo a Mascaro a presunção de inocência, mas se baseia nos relatos dos estudantes que compartilharam suas experiências na reportagem publicada pelo Intercept.

A sociedade, de modo geral, tende a associar homens apenas ao papel de agressores em situações de violência sexual, ignorando que eles também podem ser vítimas.

Essa percepção está ancorada em normas de masculinidade que promovem a ideia de força, invulnerabilidade e dominação como características inerentes aos homens.

Como consequência, os homens que sofrem violência sexual enfrentam um duplo silenciamento: a dificuldade em se reconhecerem como vítimas e o medo de não serem levados a sério.

Os relatos dos alunos de Mascaro evidenciam esse fenômeno. Os estudantes mencionaram o medo de serem desacreditados ou ridicularizados, tanto no ambiente acadêmico quanto em suas redes pessoais.

Essa cultura de silêncio é alimentada pela ideia de que admitir ter sofrido violência sexual conflita diretamente com o ideal de masculinidade dominante.

Um exemplo marcante da estigmatização em torno do tema foi o do ator Marcelo Adnet, que, ao revelar em entrevista ter sido vítima de violência sexual, tornou-se alvo de piadas e insinuações sobre sua orientação sexual, em vez de receber acolhimento.

Adnet, que demorou anos para falar sobre o que enfrentou, encontrou exatamente o oposto do apoio necessário.

Esse padrão de descredibilização atinge tanto homens quanto mulheres: enquanto as sobreviventes femininas frequentemente têm seus relatos questionados com base em suas roupas ou comportamentos, os homens são colocados sob suspeita quanto à sua orientação sexual.

Isso ilustra como o estigma contra homens vítimas não apenas perpetua o silêncio, mas mantém os agressores impunes. Um ponto central no debate sobre violência sexual é a compreensão de que se trata de uma relação de poder, não de sexualidade.

Viviane Guerra e Maria Amélia Azevedo, em Crianças Vitimizadas: A Síndrome do Pequeno Poder (1989), explicam que a violência sexual está intrinsecamente ligada ao abuso de poder.

Nesse sentido, não é relevante a orientação sexual do agressor ou da vítima. No caso do acusado, o foco não deve recair sobre sua sexualidade, mas sim sobre o abuso de poder institucional que ele exerceu, violando o corpo, a privacidade e a intimidade de seus alunos.

Outro aspecto relevante apresentado pelo caso é o padrão de comportamento do agressor, que teria se repetido por quase duas décadas. Os relatos apontam para um modus operandi que inclui aproximação inicial com promessas de apoio acadêmico, construção de laços pessoais e, posteriormente, investidas sexuais inadequadas.

Essa continuidade foi facilitada pela posição de poder ocupada pelo professor e pelo silenciamento das vítimas. Pesquisas indicam que a falta de denúncia e responsabilização não apenas perpetua o sofrimento das vítimas, mas também criam um cenário de impunidade que pode encorajar a continuidade dos abusos.

Um estudo conduzido por Maria Auxiliadora Vertamatti e colaboradores em prontuários de vítimas de violência sexual em São Paulo revelou que a violência contra meninos tem, frequentemente, maior duração e gravidade comparadas às meninas.

A ausência de denúncia permite que os agressores permaneçam impunes, prolongando os abusos por anos. No caso Mascaro, o prestígio acadêmico e a influência profissional atribuídos ao professor podem ter aumentado o medo das vítimas de sofrerem represálias, tanto pessoais quanto institucionais.

A reação das vítimas durante os abusos também é um ponto importante. Muitos homens, assim como mulheres, relatam paralisia durante o ato de violência, um mecanismo de defesa natural.

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No caso Mascaro, as ameaças veladas de poder e influência contribuíram para a paralisia das vítimas, reforçando a dificuldade de reagir, resistir e denunciar.

Essa paralisia não deve ser confundida com consentimento, mas entendida como uma estratégia instintiva de autopreservação. As pessoas paralisam na violência sexual basicamente para se manterem vivas. 

Os impactos da violência sexual são imensuráveis. Além do impacto imediato, as vítimas enfrentam consequências de longo prazo, como sintomas de ansiedade, depressão e alterações em seus planos de vida.

Alguns alunos relataram a necessidade de reavaliar suas carreiras acadêmicas e profissionais, abandonando projetos nos quais o professor desempenharia papel central.

Esses desdobramentos demonstram como a violência sexual transcende o momento do crime, afetando profundamente a saúde mental e emocional das vítimas.

A violência sexual, embora não seja tipicamente vista como um problema da área da saúde, apresenta consequências diretas e indiretas que frequentemente se manifestam nesse campo.

Lesões físicas, traumas psicológicos e sofrimento emocional prolongados são algumas das repercussões observáveis. Por isso, é essencial que as vítimas recebam apoio adequado, tanto no âmbito psicológico quanto jurídico, para superar os danos causados.

O caso Alysson Mascaro é um alerta para a necessidade urgente de romper com a cultura de silêncio que cerca a violência sexual contra homens. É essencial que as instituições implementem políticas eficazes para prevenir abusos, acolher vítimas e garantir responsabilização.

Aos homens que sofreram violência sexual, fica o apelo para que busquem apoio, rompam o silêncio e saibam que não estão sozinhos. Organizações como a Memórias Masculinas oferecem suporte psicológico especializado, ajudando vítimas a reconstruírem suas vidas após o trauma.

Falar sobre o que aconteceu é um ato transformador, tanto para as vítimas quanto para a sociedade.

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